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terça-feira, abril 16, 2013

Três poemas de Sammis Reachers


Da conversão de Samuel Ricardo, cangaceiro de Lampião, no sertão da Bahia, em 1931 

Por Ti cancelo meus planos de vingança
por Ti
uma dúzia de vidas
cujos horários e rotas
eu já demarquei
não serão interrompidas

Por Ti
Deus que embaralha minha língua com fogo
e refreia a minha peixeira no peito do ar

Quantas velhotas livraste de carpir
pela morte certa dos trastes que pariram?

Mas além requeres, manda-me
amar o lixo, verter murro em abraço.

Tento, mas como isso??

Senhor, essa Arma Viva,
essa Carabina de Três Bocas, a arma
Teu Espírito:
Atravessa-me com isso,
fura-me o bucho com amor.

Aqui. Mira meu coração de pedra, Coronel.
Manda bala, Deus Grande.


Ontologia P(r)o(f)ética

Entre Jonas e Jeremias:
A baleia e o poço,
o enfado e as lágrimas.


Eu, Eliphas Levi, bruxo, nigromante

A noite vem rolando do ocidente, e presto chegará:
a Escuridão prepara o salão para o grande baile.
Ela me capta a um canto, sorri nefasta,
roga minha ajuda para colocar as guirlandas
e estender a faixa do príncipe aniversariante.
Por que eu?, pergunto, amedrontado
por ter sido visto, mesmo sob minha capa
de invisibilidade. Porque você está disponível,
ela responde.
Porque você busca saber o que está por trás do pó,
e cisma, e escava o solo e o seu coração.
Porque você me observa de cima a baixo.
E acha que talvez eu possa lhe dar as respostas
que Ele guardou de ti.
Posso te dar todas as respostas,
e saciar tua sede de Fausto; posso revelar-te
todos os segredos do Universo
e minhas respostas perfeitas
serão mentiras como o Universo é uma mentira,
tecida em partículas e ondas.

Então eu entendo tudo; ela tinha desde sempre
 meu coração em sua caixa.
Fujo correndo e choro e não quero parar de correr,
não quero acreditar que ela media-me enquanto eu a media,
não quero suportar que ela possuía-me.

O galo canta uma terceira vez.


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