Da conversão de Samuel Ricardo, cangaceiro de Lampião, no sertão da Bahia, em 1931
Por Ti cancelo meus planos de vingança
por Ti
uma dúzia de vidas
cujos horários e rotas
eu já demarquei
não serão interrompidas
Por Ti
Deus que embaralha minha língua com fogo
e refreia a minha peixeira no peito do ar
Quantas velhotas livraste de carpir
pela morte certa dos trastes que pariram?
Mas além requeres, manda-me
amar o lixo, verter murro em abraço.
Tento, mas como isso??
Senhor, essa Arma Viva,
essa Carabina de Três Bocas, a arma
Teu Espírito:
Atravessa-me com isso,
fura-me o bucho com amor.
Aqui. Mira meu coração de pedra, Coronel.
Manda bala, Deus Grande.
Ontologia P(r)o(f)ética
Entre Jonas e Jeremias:
A baleia e o poço,
o enfado e as lágrimas.
Eu, Eliphas Levi, bruxo, nigromante
A noite vem rolando do ocidente, e presto chegará:
a Escuridão prepara o salão para o grande baile.
Ela me capta a um canto, sorri nefasta,
roga minha ajuda para colocar as guirlandas
e estender a faixa do príncipe aniversariante.
Por que eu?, pergunto, amedrontado
por ter sido visto, mesmo sob minha capa
de invisibilidade. Porque você está disponível,
ela responde.
Porque você busca saber o que está por trás do pó,
e cisma, e escava o solo e o seu coração.
Porque você me observa de cima a baixo.
E acha que talvez eu possa lhe dar as respostas
que Ele guardou de ti.
Posso te dar todas as respostas,
e saciar tua sede de Fausto; posso revelar-te
todos os segredos do Universo
e minhas respostas perfeitas
serão mentiras como o Universo é uma mentira,
tecida em partículas e ondas.
Então eu entendo tudo; ela tinha desde sempre
meu coração em sua caixa.
Fujo correndo e choro e não quero parar de correr,
não quero acreditar que ela media-me enquanto eu a media,
não quero suportar que ela possuía-me.
O galo canta uma terceira vez.
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