O BAQUE, OS FUZIS E OS SONHOS
Rumos de um mundo perdido
De onde nossos sonhos acuados, se vão
Soprados pelo vento, violento, com sua força descomunal
Empurrando para o longínquo, nossas esperanças
E o nosso moderno mundo caminha nas trevas
Desesperado, atordoado, desnorteado, cheio de riscos
Em busca de alguma luz, qualquer luz, que faça-nos iluminar
Enquanto olhamos distraídos para o nada
Haja luz! Haja luz!
Sem guerra, sem pressa, sem ansiedade de não morrer
Sem ira, sem fúria, sem dor ou temor
Sem qualquer fuga que nos impeça de viver
E é preciso viver, para experimentar a vida com Deus
E é preciso Deus, para experimentar a vida
Haja luz! Haja luz!
Sem erro, sem peso, sem frustrações por não voar
Sem fardo, sem culpa, sem indiferença ou descrença
Sem a covardia que adia, a capacidade de sonhar
E é preciso sonhar, para alcançar Deus
E é preciso Deus, para alcançar os sonhos
O nosso desespero nos afronta
Enquanto nós seguimos, seguindo, adiante, esta tensa estrada
Que diga-se de passagem, não nos une, antes, muito mais afasta
Nos distanciando da possibilidade de sermos irmãos e irmãs
E de termos uma só caminhada rumo à eternidade
E zomba-se da eternidade como se ela fosse eternamente inalcançável
Como se o finito das quatro paredes do mundo
Fosse de fato a nossa morada em castelo ou masmorra
De onde nem mesmo a mais astuta alegria poderia escapar
Olhemos para o alto! Vejamos o ar!
Com força, com zelo, com disposição para caminhar
Com fé, com certeza, com humildade e convicção
Com a ousadia que cria, a capacidade de se libertar
Porque é preciso a liberdade, para se expressar Deus
E é preciso Deus, para experimentar a liberdade
A POESIA E A PEDRA
A pedra mói o tempo,
o tempo esmaga a rocha
não obstante, se a rocha é sonho,
o sonho não desmancha
o sonho dilui, e se mantém
A marreta violenta a ideia
a ideia perfura a terra,
no entanto, se a terra é riso,
o riso não se fere,
o riso interdita, e retorna
A espada retalha o vento,
o vento despedaça a ponte,
mas, se a ponte é discernimento,
o discernimento não despedaça,
o discernimento rompe, e ergue
A areia encobre o vazio,
o vazio usurpa o abrigo,
no entretanto, se o abrigo é palavra,
a palavra nunca é usurpada
a palavra subverte, e vence
O murro derruba o silêncio,
o silêncio enterra o rio,
mas talvez o rio seja poesia,
a poesia não é enterrada,
a poesia se mantém, e retorna, e ergue, e vence
CONTRATERRORISMO GLOBAL
Nosso perigo iminente
jamais se afastara de nosso instante,
de todo lugar, de maneira inclemente,
a surpresa é um espanto que nos tange.
Invisível, o inimigo confunde nossa mente,
e desconfiar que ele é o outro, nos constrange.
Percorremos o pavor que corta o Ocidente,
capitulamos ao terror, que corta o nosso sangue.
O inimigo, não fala a nossa língua.
Será que ele tem a nossa cor?
Liberdade e democracia, ainda são temas prementes,
mas é a supressão disso que hoje nos confrange,
pois lá fora, a tensão abafa gritos estridentes
que irrompem de nosso interior em transe.
Acho que o inimigo tem o rosto de todas as gentes,
e é isso que nossos defensores não abrangem,
pois o terror – e o que o evita – tem a solidariedade ausente,
e este peso vem sobre nós, acachapante.
O inimigo, não fala a nossa língua.
Será que ele tem a nossa cor?
Quantas guantânamos abrigarão nossa gente,
enquanto caos e medo nos deixam estanques?
E quanta hostilidade em nosso temor subserviente,
enquanto nossas estimativas continuam frustrantes.
Acontece que não há inimigo evidente.
Então, quem será que, no escuro, os dentes range?
Nossas perguntas [e dúvidas] são estilhaços percucientes,
que cortam, ferem, o mais absorto infante.
Ao inimigo invisível, armas insuficientes,
ao inimigo visível, o fardo insurgente,
ao medo público, a desconfiança envolvente,
ao medo privado, a desconfiança, sempre.
Neste corolário está ter medo, ser hostil, e ser prudente,
mas prometem: a derrocada do inimigo vem galopante,
se ao autoritarismo, formos condescendentes,
antes que este inimigo cresça, e torne-se pujante.
Mas inimigo, não fala a nossa língua.
Será que ele tem a nossa cor?
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