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domingo, novembro 26, 2006

5 poemas de minha autoria

Pois os céus são os céus do Senhor

deito-me do alto da serpente,
como quem tange a cítara do sol
dedilho as sensações
da queda

entôo salmos, em alumbramento
finco minhas mãos
à Mão da Rocha

caio célere olhos destros centrados
nos sinistros e furibundos olhos da sErpeNtE
que os atém ao alto, amaldiçoando
em língua bífida
o milagre que me permite
à morte em seu dorso

d e b a n d a r

olha o céu que a esmigalha por dentro
odiosa desta sutil estranha maravilha
que me faz cair para cima

ao longe vejo O Calcanhar
ainda esmagar-lhe a cabeça,
eu municiado com o sorriso em
lâminas de luzes
que Cristo plantou em meu rosto,

rosa voltaica que a horroriza.




Porta do Peixe

“E, naquele dia, diz o SENHOR, far-se-á ouvir
uma voz de clamor desde a Porta do Peixe,
e um uivo desde a segunda parte, e grande
quebranto desde os outeiros.”
Sofonias 1.10

Nela havia uma inscrição que dizia
“ENTRAI AQUELE QUE PUDER”,
mas foi apagada,
pelo suor e pelo pranto
dos que se lhe aproximavam.

E sobre ela muito depois foi escrito
“ENTRAI AQUELE QUE FOI CONVIDADO”.
E nações de órfãos
ansiaram entrar e morreram,
à porta e à míngua.

Mas então algo
passou por ali, e de alguma forma
lançou sangue sobre o escrito
(um sangue nunca visto,
de inamissível pureza),
e este sangue o apagou.

Agora, e desde aquele dia até hoje,
está escrito, como que em sangue:
“ENTRE TODO AQUELE QUE QUISER.”



Porta do Cavalo

Eu sonhei com uma Porta
por onde, em eu passando,
Ela segurava (em suas malhas de amor)
todos os meus erros, cada
encarniçado pecado.

Eu sonhei uma Porta
- e Ela agora é –
que me cortasse as correntes
à todas as âncoras.



Porta da Fonte

Na porta junto ao poço
há um menino que olha
o fundo seco e clama,
clama ao Deus de seus pais
por água para seu bezerro
e depois para si

Olha em profundo pela porta e prepara um pranto
que
(des)escoará por todas as (t)er(r)as
um sedento menino levita
que herda e antecipa
o alforje, as cicatrizes
e o manto
de todos os poetas

Por estes também veio o REDENTOR
para apregoar que um dia não haverão
mais lágrimas
e nossa pequenina missão, ó poetas,
estará cumprida.


Porta do Vale

Além (na noite) da porta
avançam, em armaduras postos, chacais
a serviço da Grande Babilônia.
Tenho uma flauta e uma espada;
o Senhor manda que eu use a flauta,
me apegue à flauta e apele
à flauta e ao amor contra tudo:
Nossa guerra
não é contra carne ou sangue.

Ouçam, chacais amados,
chacais vós os últimos,
o som de águas vivas.

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