IGREJA VIVA COM UM REPARO
1
suponho em Ti
corpo ataviado
essa renúncia absoluta
perfeita
a espera paciente do Amado
2
desvendo assim
a palavra Amor
que Te enforma as mãos
que Te aviva a boca
que Te anima os pés
castigados da jornada
e por ela
o espanto da Tua imagem
fustiga o mundo
e a janela
3
estes adornos bastantes
este rosto altissonante
que conhece toda a Terra
este arado declarado
rasgando a palmos o chão
de Oriente a Ocidente
este viver o presente
a cavalgar o passado
com a alma, com os braços
e a fé
amealhando o porvir
4
Importa uma luz acesa na noite
despida e alta
e azeite que baste
5
noiva milenar
noiva boreal
guardando nas malas
um enxoval de manhãs
tricotando a custo
o prestígio do céu
6
quem procura confundir
os claros limites da formosa silhueta
com a penumbra do entardecer?
7
casca de noz navegante
mastro feito de fé e beleza
velas brancas
de esperança remendadas
a alegria é uma mesa
arredondada
onde se come o pão da incerteza
no limiar cinzento das águas
neste anseio p’las nuvens
o mar corrupto e revolto
o mar adulto blasfema
oceano de medos e solidão
em que um barquinho dormita
à sombra de Deus
8
a alegria é uma cama
onde se acolhem os sonhos mais maduros
9
e contudo saltas os muros
para ir ver o pôr-do-sol
10
contra Ti apenas
um reparo do Senhor
-oh Éfeso
eleita e amada
que fizeste Tu do primeiro amor?
Brissos Lino (1954 - ) in Antologia da Nova Poesia Evangélica
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