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quarta-feira, novembro 22, 2006

Um poema do português Brissos Lino

IGREJA VIVA COM UM REPARO

1
suponho em Ti
corpo ataviado
essa renúncia absoluta
perfeita

a espera paciente do Amado

2
desvendo assim
a palavra Amor
que Te enforma as mãos
que Te aviva a boca
que Te anima os pés
castigados da jornada

e por ela
o espanto da Tua imagem
fustiga o mundo

e a janela

3
estes adornos bastantes

este rosto altissonante
que conhece toda a Terra

este arado declarado
rasgando a palmos o chão
de Oriente a Ocidente

este viver o presente
a cavalgar o passado
com a alma, com os braços
e a fé
amealhando o porvir

4
Importa uma luz acesa na noite
despida e alta

e azeite que baste

5
noiva milenar
noiva boreal
guardando nas malas
um enxoval de manhãs

tricotando a custo
o prestígio do céu

6
quem procura confundir
os claros limites da formosa silhueta
com a penumbra do entardecer?

7
casca de noz navegante
mastro feito de fé e beleza
velas brancas
de esperança remendadas

a alegria é uma mesa
arredondada
onde se come o pão da incerteza

no limiar cinzento das águas
neste anseio p’las nuvens
o mar corrupto e revolto
o mar adulto blasfema
oceano de medos e solidão
em que um barquinho dormita
à sombra de Deus

8
a alegria é uma cama
onde se acolhem os sonhos mais maduros

9
e contudo saltas os muros
para ir ver o pôr-do-sol

10
contra Ti apenas
um reparo do Senhor

-oh Éfeso
eleita e amada
que fizeste Tu do primeiro amor?

Brissos Lino (1954 - ) in Antologia da Nova Poesia Evangélica

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