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domingo, dezembro 17, 2006

Dois poemas do amigo João Tomaz Parreira

UM SALMO 121

«Elevo os meus olhos para os
montes.
De onde me virá o
socorro?»



Não vou deixar que os montes

me tornem pequeno

para não ver as alturas acima deles


os pássaros pousados

no ar, as estrelas

no meio de um mar obscuro,

o fogo

penetrante do sol


não vou deixar que eles

me ceguem

para não ver o sol


que se abatam sobre mim

como paredes

não deixarei que os montes

resumam os meus olhos

a duas poças da alma.




CHAMO-OS

(Uma conversação sobre Hebreus
11, 4, ss )


Os ombros de Abel, de longe

voltam-se para mim

e um cordeiro emana

como nuvem de lã

E Enoque, que saía do chão, volúvel

transparente

para a alegria celeste

Era Noé no silêncio

da sua janela, no meio de escura água

e olhava para cima, movido

pelas fontes do céu

Abraão, quando chamado

viu ao longe, desafiou os olhos

para a luz suave das estrelas


Em algum sótão do sono

Jacob necessitava de um pouco

de sonho

E pelas pegadas do gado Moisés,

pelo deserto, regressa

até mim.

Chamo-os, enquanto

Raabe do corpo

desenlaça

um fio escarlate.

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