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quinta-feira, julho 17, 2008
Dois poemas do Pr. Jean Douglas Gonçalves
Tal profeta, tal poeta!
“Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.”
(Fernando Pessoa)
“Tu me seduziste, Iahweh, e eu me deixei seduzir,
Tu te tornaste forte demais para mim, tu me dominaste.”
(Jeremias, o profeta)
O profeta também é poeta,
Não tem grandes pretensões,
Procura sossego, mas se incomoda com o silêncio!
Não almeja grandes coisas, nem aspira um alto monte,
Sua alma, quieta, apegada à simplicidade,
Canta a canção da humildade,
De quem não buscou, mas alguém o encontrou!
O poeta também é profeta,
Faz da sua voz um anúncio,
Tantas vezes uma denúncia,
Na candura anuncia,
Na bravura, mas com alma de criança,
Denuncia ao que vive abastança,
Que alguém morre por falta de esperança!
E qual poeta não quer ser profeta,
E qual profeta não se arrisca a poeta,
E entre palavras, uma poesia,
Das mesmas palavras, uma profecia!
Mas o poeta tem medo de ser profeta,
E o profeta teme não alcançar o poeta,
Mas quando no íntimo recosta,
E na alma se pergunta,
Encontra uma imbatível resposta:
Ser profeta é ser poeta,
E qual poeta não é profeta.
Entre profecias e poesias,
Mais rica faz a vida,
Mais bela a lida,
Mais santa a batalha,
Mais linda a vista...
E por mais que o profeta tem em si um poeta,
E o poeta um desejo de profeta,
Há profeta e há poeta...
Um é poeta, outro profeta,
Um se anuncia ao se esconder nas palavras,
E o outro se esconde quando anuncia a Palavra,
Tal profeta, tal poeta!
Confissão
Minhas mãos são desajeitadas,
Parecem-me grandes, às vezes pequenas,
Parecem-me fortes, às vezes fracas,
Parecem-me firmes, mas são trêmulas.
Minhas mãos são desajeitadas
Para tocar um cristal sem quebrá-lo,
É um sentimento de inadequação,
Uma sensação estranha de inaptidão,
Como se pisasse solo sagrado,
Com pés calçados,
Ou um espinheiro,
Com pés descalços;
Aqui está a raridade, a beleza,
A santidade, a verdade,
Revelando minha trivialidade, banalidade,
E quase insanidade de pensar em adequá-lo!
Como adequar tamanha grandeza?
Se minhas palavras são pequenas, confusas, incertas,
Finitas, irreverentes...
Que tarefa inglória,
Sinto o grito profético:
Ai de mim, estou perdido... e os meus olhos viram o Rei!
Entendo o clamor apostólico:
Miserável, homem que sou!
Parcialidade, incapacidade e nulidade são as únicas siglas
Que me ocorrem,
Sinto arder meu peito,
Sinto tremerem meus lábios,
Sinto até tentar,
Mas desistir...
Mas o que de fato sinto?
Sinto muito...
Sinto querer e não poder,
Querer e não dever,
Sinto tentar, mas fracassar,
Afinal, o Amor é sagrado, para ser profanado,
Por mim, pecador!
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