TERRA DE ISRAEL
Não cantos de luta vos vou eu cantar
Irmãos, expostos ante as portas do mundo.
Herdeiros dos salvadores da luz, que da areia
arrancaram os raios enterrados
da eternidade.
Que nas mãos seguraram
astros cintilantes como troféus de vitória.
Não canções de luta
vos vou eu cantar
Amados,
só estancar o sangue
e as lágrimas, que gelaram nas câmaras da morte,
degelá-las.
E buscar as lembranças perdidas
que rescendem proféticas através da Terra
e dormem sobre a pedra
em que os canteiros dos sonhos enraízam
e a escada da nostalgia
que ultrapassa a Morte.
VOZ DA TERRA SANTA
Ó MEUS FILHOS
A morte passou pelos vossos corações
Como por uma vinha -
Pintou Israel a vermelho em todas as paredes da Terra.
Para onde há-de ir a pequena santidade
Que ainda mora na minha areia?
Através dos canais da solidão
Falam as vozes dos mortos:
Deponde sobre o campo as armas da vingança
Pra que elas falem baixo -
Pois também o ferro e o trigo são irmãos
No seio da Terra -
Para onde há-de ir a pequena santidade
Que ainda mora na minha areia?
A criança no sono assassinada
Levanta-se; torce pra baixo a árvore dos milénios
E prende a estrela branca anelante
Que outrora se chamou Israel
Na sua coroa.
Reergue-te de novo, diz ela
Pra lá, onde lágrimas significam Eternidade.
Vós que nos desertos
buscais veios de água ocultos -
de dorso curvado
escutais à luz nupcial do Sol -
filhos duma nova solidão com Ele -
As vossas pegadas
calcam a saudade
para os mares de sono -
enquanto o vosso corpo
lança a folha escura de flor da sombra
e em terra de novo sagrada
o diálogo que mede o tempo
entre estrela e estrela começa.
(in Poemas de Nelly Sachs, tradução de Paulo Quintela, Portugália editora, 1967 )
*Nelly Sachs, dramaturga e poeta alemã de origem judaica (10/12/1891 - 12/5/1970). Ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 1966, tem a obra marcada pela experiência nazista (conseguiu mesmo fugir de um campo de concentração), o que a torna uma das mais ardentes porta-vozes do sofrimento e do anseio do povo judeu.
Eu oro para este Deus, que não diz do rancor, que comprende as diferenças, que sabe que todos os credos que falam do amor, levarão, afinal, a Ele, e que, quando disse, não matarás! Estabeleceu um limite definitivo para a defesa de sua crença. Domingos, Belo Horizonte, Minas Gerais.
ResponderExcluirBem haja, Sammis, pela divulgação desta poeta judia, já desaparecida.
ResponderExcluirConheço-a desde 1967, data da edição da antologia- hoje rara- donde extraiu os poemas. Nesse ano já distante a minha mulher ofereceu-me a obra que li de um fôlego e consta da lista das minhas influências.
J.
Conheci-a ano passado e imediatamente comprei a única antologia desta poeta q achei disponível. Sua poesia é maravilhosa. Sua obra é repleta de tristeza, perdao e promessas santas. Traz um ponto de vista cristão que apenas cristao conseguem sentir de verdade. Pena ser uma poeta tao esquecida nos dias atuais.
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