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terça-feira, dezembro 22, 2009

Um poema de Rui Duarte

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VIESTE NA FRAGILIDADE


Vieste na fragilidade

Palavra eterna, forte, graça e verdade

Feita carne.



Na fragilidade

De que somos carne e sangue

Articulação, osso e medula.



Sem majestade, sem coroa nem manto,

Sem luzes que ladeiem nem cortejos que acompanhem a tua passagem,

Sem a glória do Único Filho que exibisses de ti mesmo.



Uns te anunciaram e te esperavam

Oravam e jejuavam até que viesses,

No templo, no lugar da profecia,

Outros nos cálculos astronómicos, atentos ao rasto dos astros,

E na maturidade das eras denunciando os sinais,

Com anseio de ao estábulo correr e poder te ver

No estábulo do arrabalde, onde outros te não esperavam.



E por dentro da nossa fragilidade te intrometeste,

Açoitado pela dor, por todas as paixões tentado.

Comeste da nossa fome, bebeste da nossa sede,

Conheceste a ardência do prumo do sol e a geada nocturna no deserto,

O rosto sulcado pela tristeza da partida dos que amaste,

Até a lâmina dos amigos que traem, os íntimos,

E a tortura e a enfermidade.



Mas em tudo permaneceste tu mesmo,



Sem nunca te tornares fragilidade,

A não ser essa nossa fragilidade,

Tanto na hora primeira, quando necessitado de agasalho e do peito da mãe,

Como na derradeira, meu Deus, meu Deus, abandonada da misericórdia do Pai.



Aí a nossa fragilidade toda se consumiu e se consumou.

Entendemos então a verdade e a graça

Feitas carne e sangue,

Feitas cada um de nós.

Hoje, dia de Natal, comemoramos o primeiro dia

De eternidade e força,

Em que

Fizeste de nós o que tu és.


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