Diego Rivera: Construção do Palácio de Cortéz (detalhe)
ESCONDO-ME
Escondo-me de Hernán Cortez
(como os astecas: súditos e reis),
dos bacamartes de Espanha
que emergiram sorrateiros.
Escondo-me da fome de esmeraldas
que bebeu rios de sangue
nas veredas do Anhanguera.
Com os escravos brancos
daquelas guerras antigas,
com os cativos soluçantes
(ah, os zonzos navios negreiros),
vou estendendo meu grito
nos subterrâneos do dia.
Com os pássaros enlouquecidos
e os nativos do sul,
escondo-me de corpo inteiro
- antes da vinda do Sol –
da ordem unida dos “marines”,
e das nuvens de napalm
a apunhalar as alturas,
e das nuvens de napalm
a incendiar o galope
dos meninos amarelos.
Escondo-me dos tanques vermelhos,
com a grande estrela do pânico,
nos brancos portais de Praga.
Escondo-me das mãos
que mataram as canções longas
do poeta Federico,
das baionetas noturnas
que assustaram toda a ilha
e os sóis de Pablo Neruda.
Escondo-me das mãos ainda
que escrevem com cassetetes
a suja palavra: “apartheid”.
Escondo-me dos que me exilarão
de itinerários antigos,
se barrigas indiscretas
roncam seu pleno vazio
e os roncos fendem meu sono.
Escondo-me com meus irmãos
dos loucos tecelões da noite.
Quase à Guisa de Bertold Brecht
Os donos da indústria bélica
louvam a destreza das máquinas
em seus partos desvairados
de canhões, morteiros, bombas,
fuzis, metralhas e lâminas
nos campos da guerra.
Aplaudem os genocídios,
freneticamente. Brindam à saúde
de suas contas bancárias.
Os donos da indústria bélica,
sem olhos para os órfãos,
sem tímpanos sensíveis
ao clamor lancinante
das noivas e viúvas.
Os donos da indústria bélica,
parceiros de corvos, de abutres,
brindam ao regozijo das trevas
nos campos de batalha,
a sorver na mais funda sofreguidão
o sangue dos mortos.
in Tempo de Ceifar (Thesaurus Editora, 2002)
Perdoe-me estou sem voz, depois de ler essas poesias.
ResponderExcluirPaz.
Marcos Andre - Professor
TEMPO DE PAZ
http://umtempodepaz.blogspot.com/
Olá Marcos, realmente os textos do saudoso mestre Joanyr falam fundo aos corações ávidos por justiça...
ResponderExcluirParabéns pelo blog, veja meu comentário lá.
Deus lhe abençoe
Caro Sammis, tendo como tenho autografado pelo insigne Poeta a antologia "Tempo de Ceifar", fico extremamente flez por ver aqui estes dois altíssimos poemas de um posicionamento social que sem reconheci e longamente também daloguei com o meu querido e saudoso Amigo e Confrade Joianyr de Oliveira. Continue,caro poet Sammis, a divulgar a boa poesia evangélica na nossa língua comum.
ResponderExcluirObrigado meu caro João, é uma honra poder contar com textos de tão firme lavra como os do Joanyr e também os teus meu irmão.
ResponderExcluirEstamos juntos!