O jovem poeta Marvin Cross, editor do blog Missão Poesia, acaba de lançar e disponibilizar para download seu livro homônimo, reunindo poemas já publicados no blog, além de outros inéditos.
Você pode baixar o e-book clicando AQUI.
Três poemas do livro:
LO-DEBAR*
Quem sou eu, ó rei, para que uses de bondade comigo?
Eu, que não passo de um cão morto, imundo
De onde vim é escuro, densa terra do silêncio
Quebraram-me os pés, não posso andar
Ainda criança me tornei um manco humilhado
Mataram meus sonhos, ó Rei, fui machucado
Eu tinha futuro predestinado, a perder de vista
Palácios, luxos, riquezas e domínios
Mas indefeso caí, tão frágil fui à ruína
E agora tu vens, ó rei, a fim de me restituir
Tudo aquilo que um dia eu tive, e perdi?
Eu que quase fui um príncipe, posso outra vez sonhar?
Arrancaste-me da terra de minhas feridas
E puseste esperança diante de meus olhos
Estarei à tua mesa para cear contigo, ó Rei bondoso!
Quebraram-me os pés, silenciaram minha alma
E quando nada me restava, além de solidão
O bondoso Rei me aquece o coração
Quem sou eu, ó Rei, para usares de bondade comigo?
Sou agora um homem digno, de olhos erguidos
Nunca mais, Lo-Debar, lugar escuro de silêncio...
* Referência para este poema: 2Samuel:9
ORAÇÃO DO EU
Que eu seja uma voz de esperança, em vez de medo
Que eu possa vestir a roupa da verdade, em vez de um disfarce
Que eu saiba dar a outra face, em vez de mostrar os dentes
Que eu entenda um pouco de arte, em vez de amordaçá-la
Que eu tenha o dom de escutar mais, em vez de tentar calar
Que eu possa reconhecer outras belezas, em vez do meu próprio espelho
Que eu consiga ser menos ranzinza, em vez de brigar com o mundo
Que eu creia mais em Deus, em vez de despejá-lo à toa pelos lábios
Que eu seja capaz de ajudar a subir, em vez de chutar para cair
Que eu guarde minha boca do mal, em vez de jorrá-lo como ouro pela saliva
Que eu seja pacífico, em vez de estimular a vingança e a violência
Que eu ame sem salário, em vez de impor o valor da recompensa
Que eu pare de reclamar da sorte, em vez de birrar como criança mimada
Que eu esqueça dos pecados passados, em vez de trazê-los da tumba
Que eu ore e agradeça por tudo, em vez de pensar só no que me falta
Que eu abrace com braços de afago, em vez de dar abraços gelados
Que eu tenha a ignorância de uma criança, em vez da sabedoria maligna de adulto
Que eu louve e cante para um Deus real, em vez de um deus efêmero
Que eu limpe meu coração dos rancores, em vez de regá-los com água do ódio
Que eu chore nos colos do Pai, em vez de engolir pílulas de depressão
Que eu sirva com boa vontade, em vez de cobrar qualquer palavra dita
Que eu me desvie das sombras estranhas da noite, em vez de namorá-las
Enfim, que um dia possa eu, em minhas quimeras
Chegar a um mínimo de minha humilde oração, quem dera!
(CH)OREMOS AO SENHOR
Orar, como nunca oramos antes
Uma vez ao menos, um esforço somente
E veremos tal grandeza de milagres
Perpétuo socorro vislumbrado
Orar, mas com muita, muita fé
Um grão de mostarda regado com lágrimas
Tocar a Deus, lavar seus pés
Apresentar diante Dele nossas almas
Expor nossos corações sangrados
Manchados retratos de nossas sombras
Cantar, dançar, louvar, ex-ter-nar
Pôr pra fora toda a dor, descarregar
Chorar, prantear do ponto mais fundo
Oremos com o rosto em pó, clamemos
Clamemos por toda dor desse mundo
Ao Senhor, Senhor, como santos O adoremos
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