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terça-feira, novembro 26, 2013

Dois poemas de Julia Lemos



POR AMOR

Foi tanto o vexame, 
lado a lado com dois vagabundos
expulsos fora de portas.
Mais que tudo:
sendo o pior de todos eles.
Chistes, esgares,- porque te
apanharam?

Desfeito de formas
diante de estranhos homens
de fala obscura.
Um deles me lançou uma praga alucinado
de rir uma risada sem dentes,
até que se exumou de vez.

Lágrimas em óleo quente.
Mais que as lanças rasgando-me juntas
e descolando carne da carne,
era a vergonha absoluta.

Entardecia, virava-me
o sol as costas. Monções de poeira
sopravam para longe
toda-paixão pelos homens.
Meu ouvido dizia: adormece !Yeshua!
Até que as cordas do coração
me soltaram e a descer, a descer,

vertiginoso preparo
para a permanência na
região do silêncio sem respostas

A noite desceu compacta e
Jerusalém mergulhava escura
no sangue de um homem sem culpas


Apesar de tudo destes últimos dias, mantenho-me viva com a esperança neste que foi designado o meu mestre para todo o sempre, Jesus!




MINHA CANÇÃO

O arco nobre do tempo foi te ver passar.
Eras a mulher de ouro a brincar com as flores,
uma princesa que Deus coroou de ternura.
Não eras uma fada. Fadas não cozinham nem lavam roupa
não dão de comer, não aconchegam.
Fadas vivem com duendes, tu bordavas e costuravas.
Te feriam os alfinetes e a ponta da faca, no rasgar e no cortar
e tanto trabalhavas que empalidecias o dia.
Sobre ti, a noite fechava suas cortinas
e dormias envolta em alvos lençóis, em morno abraço,
braços e rostos a tua volta.
Teu corpo era uma pequena montanha de veludo onde eu alçava aos meus sonhos. Tu eras linda, fizeste o mundo, a casa,
e os telhados repletos de esperança.
Cozeste, teceste toalhas e almofadas
e encheste de sabores as panelas.
Encobrias o sol para passarmos pela sombra;
teu sorriso era luminoso e guardava-nos da chuva,
inventaste a tarde para descansarmos sobre os
livros, criaste para nós a brisa, a ceia compuseste
junto com o conforto de uma consciência tranquila.
Foi o intervalo mais nobre de todos os tempos
este em que te vi passar, minha mãe querida; este que foi a tua vida.

Musica. A tua vida foi uma silente musica acima de todos
os abalos da existência. Ouvir-te era uma canção
que Deus compôs para nossos ouvidos atentos.
Só entendemos um melhor tudo depois que acabou a festa.
Deixei de dançar contigo todos os passos dessa marcha alegre.
Vais me esperar no céu para isto.

terça-feira, novembro 19, 2013

Dois poemas de Stefano Cavalcanti



DESEJOS

Eu queria ser aquela manjedoura que te abraçou
Eu queria ser aquele barquinho que te carregou
Podia ser qualquer um que te serviu
menos Judas que te traiu
podia ser Pedro, Filipe, André, Tiago ou João
Só para poder te ver ministrando o sermão

Só pelo prazer de te ver
Só pelo prazer de te ouvir
Só pelo prazer de te ter bem pertinho de mim

Eu queria estar na ceia provando o pão e o vinho
Eu não queria ser a coroa de espinho
Subiria em qualquer lugar para te ver JESUS
Não queria ser os cravos nem aquela cruz
Passaria vinte e quatro horas ao teu lado
Vendo os mortos ressuscitarem e os enfermos serem curados

Só pelo prazer de te ver
Só pelo prazer de te ouvir
Só pelo prazer de te ter bem pertinho de mim

Sei que não sou manjedoura nem barquinho
Mas sei que quando estou só, eu não estou sozinho
Um dia te verei SENHOR, como tu és
Por enquanto eu só te vejo pela fé

E tenho prazer de te ver
E tenho prazer de te ouvir
E tenho prazer de te ter bem pertinho de mim


Se Hoje Fosse

Se hoje fosse o meu último dia
Eu te diria obrigado, e perdão por às vezes te esquecer

Honraria a tua palavra e perdoaria quem me feriu
Ouviria tua voz o dia todo desde a manhã até anoitecer
Juntaria todos meus dons e ofereceria para o teu louvor
Entraria em meu quarto e cantaria várias canções pra ti, Senhor

Faria uma declaração de amor
Oraria a cada instante – um servo melhor eu seria
Senhor com toda minha força meu entendimento e de toda minha alma te serviria
Sim, tudo o que eu tenho te ofereceria

- Então, quero viver como se hoje fosse o último dia.

Visite o site do autor: http://www.opoetadorador.com

quinta-feira, novembro 14, 2013

FÉ, um poema de Nelson de Godoy Costa




Quando eu deixar o corpo no sepulcro
as energias todas de meu ser
despir-se-ão das vestes rôtas da matéria,
e, lavadas no sangue do Cordeiro,
trajar-se-ão felizes
desse corpo glorioso
de roupagens alvíssimas do espírito
para as glórias eternas dos céus.

Quando eu fechar os olhos para o mundo,
há outro mundo espiritual, eterno,
onde serei eterno e espiritual.
Outra cidade existe, e permanente,
não por mãos de homens edificada
mas, construída por Deus antes de haver os mundos.

Se esta vida se esvai como um suspiro,
quando eu deixar a vida transitória,
há outra vida que não morre mais!
Eternidade sobre eternidade —
Que vida eterna de felicidade;
livre das vestes rôtas da matéria,
de perfeição em perfeição junto de Deus!

Quando eu deixar o mundo,
dá-me a ventura de viver
numa casinha humilde
da rua menos bela da cidade.
Não tenho nem ao menos um merecimento,
mas, acima da miséria a que estou preso
paira, sublime e puro, o teu amor.
E eu guardo e tu bem sabes com que glória
pelos teus próprios merecimentos
uma certeza imensa de ser teu.

Dá-me a ventura de viver num canto humilde
da rua menos bela da cidade.
Escutarei feliz as salmodias
e as harpas junto ao trono de meu Deus.
E louvarei por toda eternidade

o nome excelso do Senhor Jesus. 

Nelson de Godoy Costa foi poeta, escritor e pastor metodista.
In O Jornal Batista #44, 02/10/1969
Originalmente no livro Vida (São Paulo: Imprensa Metodista, 1952)


domingo, novembro 10, 2013

Lançamento do livro QANTA MUNANI - Eu Te Amo, de Marilaine Guadalajara


A poeta Marilaine Guadalajara lançará seu mais novo livro, QANTA MUNANI - Eu Te Amo, na Igreja Batista Bethléem, em Vitória da Conquista, BA. O evento ocorrerá no dia 30 de novembro, às 19h.

Para os que desejarem desde já adquirir a obra, o livro custa R$ 30,00, mais despesas de envio, e pode ser adquirido diretamente com a autora, através do e-mail marilaineguadalajara@yahoo.com.br


segunda-feira, novembro 04, 2013

O Grande Advogado e outros poemas de Myrtes Mathias




O GRANDE ADVOGADO

Um pensamento.
Um ato.
Um destino.
O despertar tremendo da realidade...
Fora apenas um pensamento,
um sonho de adolescente,
possuir um carro...
Levar Sandra...
a vida era bela...
e os cabelos da namorada, tentadoramente perfumados.
Ao volante seria um homem importante e sem complexos.
E o sonho toma vulto, vira plano, torna-se obsessão.
Rouba...
Tudo aconteceu como imaginara. Ninguém viu.
E Sandra sentiu-se a mais querida das mulheres
e ele o mais importante dos homens.
Mas a justiça não é romântica,
nem desculpa os sonhadores,
e Raul ouve, pela primeira vez,
o trágico e metálico ruído da porta da prisão.

Caminha para o banco dos réus,
curvado sob a vergonha, o remorso, o medo...
Acusam-no...
Ameaçam-no.
É próprio inferno!
Sem esperança e sem salvação.
Onde andaria Sandra? seus pais?
Seus irmãos?
Procura no auditório
Com uma esperança desesperada.
Ninguem...
Só...
Desgraçadamente só com seu destino sem piedade.
Súbito alguém se levanta:
Eu defendo o moço!
Escapa um suspiro de alívio
e certeza do peito de Raul.
Sabe que estará livre
Quando o homem falar.

E o advogado fala, argumenta, indaga, pondera, insinua, defende.
Faz mágicas com a palavra,
brinca com o pensamento,
e salva Raul.

Livre! Livre! Livre!
Outra vez a loucura das ruas,
a beleza de Sandra,
a embriaguez da mocidade...


Correm os anos...
o que surgira como pensamento,
culminara como crime, transforma-se em hábito:
Rouba, mata, desonra.
Não mais por um sonho.
Embrutecera.
É um criminoso vulgar,
cínico e sem piedade.
Acostuma-se a enganar a justiça,
aos homens,
a própria consciência.

Mas até os invencíveis tem o seu dia
e, mais uma vez,
Raul ouve o trágico e metálico 
ruído da porta da prisão.
Outra vez o inferno do medo e da revolta.
Há ódio nos olhos do júri,
há ódio em seu coração.
Sabe quanta desgraça 
existe no mundo por sua causa.
(Se Dr. Fausto aparecesse...
aquele maravilhoso advogado
capaz de convencer uma pedra,
de fazer ver num demônio um santo...)


O juíz pede silêncio.
e só, então, Raul volta-se
para a inviolável figura do magistrado.
- Deus do céu! 
Seria crível?!
O Juiz!
O venerando juiz é Dr. Fausto.
Está salvo! Salvo! Salvo!
Não importa a cabeleira, a toga. 
É Dr. Fausto, o insubstituível defensor.

Não ouve e não vê mais nada.
Seus olhos estão fixos,
hipnotizados, no rosto impassível do juiz.
Só desperta quando seus lábios se movem: 

- CULPADO!

Raul salta da cadeira 
e atira-se aos pés do homem que o condena.
Não há força que o detenha.
Aquela face de pedra é sua última esperança:
- Lembra-se de mim, Dr. Fausto?
O juiz é inflexível e frio:
- Lembro-me, Raul, lembro-me.
Eu era advogado e o salvei.
Tudo mudou, Raul, tudo.
Um juiz não defende - julga.

Por isso, meu amigo, trago-te um recado
do Grande Advogado, do Senhor dos Céus,
dAaquele que se oferece para defender,
do único capaz de te absolver,
Porque pagou o preço exigido por Deus.

Compreendo teu cansaço e a tua revolta,
a vida te impôs uma pesada cruz.
Mas seja teu problema o maior dos problemas,
seja teu tormento o maior dos tormentos,
pára um momento. Olha pra Jesus.
Olha-O no calvário, assim crucificado,
levando teu pecado diante de Deus,
comprando com sangue tua liberdade,
pagando na cruz tua felicidade,
o direito de advogar no tribunal dos céus.

Lembra que o amanhã é uma interrogação.
Sabes, acaso, se o amanhã virá?
Como podes manter assim a calma?
“Se esta noite pedirem tua alma,
o que tens preparado para quem será?”

Este é o recado que meu Deus te manda!
Crê somente, se queres ser feliz.
Hoje é advogado e pode te salvar,
mas o tempo passa e o dia há de chegar
em que não mais defenda, pois será Juiz.

E naquele dia não poderás dizer
nunca ter ouvido a mensagem da cruz.
Neste momento, alguém convida e chora,
neste momento há alguém que implora: 
Entrega-te, amigo, ao Senhor Jesus.

Olha.
Pensa. 
Sente.
És o responsável.
De Deus é a proposta, tua é a opção.
Não cometas contra tua alma um crime,
só há um caminho que redime:
faze a tua escolha - CRISTO ou a PERDIÇÃO!

Do livro Menina Sem Nome





O ABACATEIRO

Receio que ninguém te tenha ainda
sacudido pelos ombros,
para arrancar de dentro de ti
o poeta,
o cientista,
o cooperador de Deus,
adormecidos e inertes, diante de um mundo que se desintegra,
de uma civilização que regride
para o nada.
Por isso, te endureceste,
petrificaste,
tomando esta forma de estátua de sal,
indiferente e distante, 
em face de uma Sodoma que o fogo consome. 
No entanto, eu sei que muitos esperam em ti.
Basta que tua mão se estenda,
e que teus lábios pronunciem
uma palavra de amor,
para que muitos rostos se iluminem à passagem tua.
Mesmo que a fala, a vista, o corpo, 
as circunstâncias te limitem a ação,
lembra-te que, no eterno Plano,
há sempre um lugar para o menor de todos.
Mesmo quando tudo é adversidade e obstáculo,
o Plano está em execução.
E ninguém será convocado ao descanso, 
sem que sua parte, no eterno propósito, 
em sua vida se cumpra.

Eia, pois, irmão!
Arranca, de dentro do teu desânimo
e da tua revolta
um poeta realista,
um cientista que lute
contra as doenças fatais,
um oleiro que transforme farrapos humanos
em filhos de Deus.
É lindo ver surgir
as folhas tenras do abacateiro,
exatamente sobre o lugar onde enterraste
a semente escura e enrugada,
aparentemente imprestável e sem beleza.
Mesmo que tudo te tenha sido arrancado,
restam-te ainda a fé e a esperança
numa vida melhor,
que pode começar aqui mesmo,
se usares o amor como ataque
e a paciência como defesa.
São armas ao teu alcance,
bens eternos, que o dinheiro não compra
e o ladrão não rouba.
Elas podem fazer de ti um participante,
um abacateiro novo
sobre a semente escura e enrugada
que enterraste um dia,
quando alguém te sacudiu pelos ombros,
arrancando de dentro de ti
o poeta,
o cientista,
o oleiro,
o santo,
o cooperador de Deus.


Do livro Encontro Marcado



MÃOS QUE SUSTENTAM CORDAS

Nessa hora de lembrança e gratidão,
eu me lembro das mãos que sustentam as cordas
dos que descem ao fundo das minas
e dos mares, em busca de tesouros.
Há uma dignidade santa nessas silenciosas mãos,
nem sempre lembradas quando surgem os tesouros:
a alegria é tanta que pouco tempo resta
para pensar naqueles que realizaram um papel
injustamente considerado de menor valor.
Benditas mãos que talvez nunca cheguem
até onde chega a bênção de sua dádiva.
Ignoradas, diligentes, incansáveis mãos
de professoras, funcionários, estudantes,
operários, donas de casa;
frágeis mãos de crianças, que engraxam sapatos,
vendem laranjas, colocam moedas num porquinho
de plástico para dar uma oferta bonita no
Dia Especial.
Também elas se ferem,
cobrem-se de calos, passam a ostentar
as gloriosas cicatrizes que o esforço
confere como uma condecoração.
Para que citar nomes, se isto não as tornaria
mais felizes que o prazer de servir,
que as levou a passarem horas segurando uma pena,
preparando lições, tricotando casaquinhos de lã,
batendo bolos, pedalando uma máquina de costura
e até se estendendo para pedir emprestado
porque a Obra é urgente e esperar não pode.
Para que citar nomes que Deus já tem escrito
no eterno Livro com letras de ouro?
Nesse instante de lembrança e gratidão,
em nome dos doentes que serão curados,
das crianças que aprenderão a ler,
dos bebês vestidos e alimentados,
das almas simples que se encontram com Jesus,
dos trabalhadores da seara que receberão
no fim do dia o seu salário;
em nome dos irmãos humildes, que nos atalhos
distantes do sertão, à luz do luar ou das lamparinas
caminham com passos ligeiros
em direção do templo novo,
pintado de branco,
para louvar a Deus,
eu me ajoelho para agradecer as silenciosas
e ignoradas mãos que sustentam as cordas
para que os enviados possam descer ao vale,
em busca do tesouro que são as almas dos homens.


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