O Pequeno Livro dos Mortos (Contos).
Editora Letras e Versos, 2015.
96 Págs.
Seja bem-vindo a esta
pequena jornada, amigo leitor. Aqui o humor, o terror, o conto de espionagem, a
ficção científica, a fantasia borgeana e a crônica (sub)urbana, com seu traçado
agridoce e enlameado de poesia e violência, são os vagões, os gêneros desse
comboio, desse trem de memória e invenção de que valho-me para visitar e
emoldurar meus mortos. Ficção e realidade interpenetradas, perdição e redenção amalgamadas
num caudal de cores de inusitada composição, para falar dos muitos mortos que
perdi e ganhei, amigos e não-amigos, reais e imaginários, e suas mortes físicas
mas algumas vezes também espirituais. Mortos que precisam de uma voz, prontos
para revelar suas histórias de crueza e beleza, e de um como que encantado desencanto.
Um passeio pelas horas da verdade: momentos de encontros com (ou
retornos para) o Cristo, ressurreições, chamados cumpridos; mas também
desencontros, desvios e desdita. E o trem tragicômico dos mortos e vivos
avança: há provocações sutil ou escancaradamente acondicionadas em cada vagão, como
passageiros clandestinos. Prontos para abraçar e inquietar, com seu amor ou seu
aço, aqueles que se aproximarem...
A morte é o fato inelutável,
a certeza primeva de todo homem - e que por isso mesmo deve ser refletida e
ruminada, jamais encoberta, ‘esquecida’ - uma premência filosófica que levou Heidegger,
talvez o maior filósofo do século XX, a definir o homem fundamentalmente como ser-para-a-morte.
Mas ao pensarmos na morte, precisamos
atentar para seu caráter duplo, para o fato de que, se cremos na mensagem
cristã, há duas mortes possíveis: uma carnal, inevitável neste aqui-e-agora que
vivenciamos, e uma espiritual e eterna, representada pelo afastamento de Deus,
afastamento este perfeitamente evitável. Cabe sempre lembrar das palavras de
Deus em Deuteronômio 30:19: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te tenho
proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para
que vivas, tu e a tua semente...”. Sim, eis a boa-nova, a raiz e o fundamento do cristianismo: a todo homem
está franqueada a esperança de não passar pela segunda e verdadeira morte, e
galgar à eternidade re-unido com Deus, esperança radical advinda na pessoa e
pelo sacrifício vicário do Homem-Deus de Nazaré, Jesus Cristo, expressa em João
11:25,26: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra,
viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?”
No mais, para além de religiosidades (Cristo é uma pessoa, nunca uma
religião) e do tema algo lúgubre da morte, eis aqui apenas um livro de ficções,
que expressa uma cosmovisão, sim, mas não tem objetivos proselitistas de
qualquer monta: se ele puder entretê-lo, amigo leitor, ao lhe permitir devanear,
sorrir ou assustar-se, se emocionar e solidarizar, ou talvez, ainda que por
meros milímetros, expandir sua forma de perceber,
terá cumprido seu humilde papel de livro.
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Parabéns pelo livro, tema forte e interessante. Desperta curiosidade.
ResponderExcluirUm abraço