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sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Dois poemas de Elienai Cabral Jr.

Juan Gris, 'Still Life with Violin and Glass

SE

A descontinuidade redentora de duas letrinhas, quando portuguesas, "se". 
Antecedendo frases, suscitando aberturas. 
A dúvida que pode nos livrar da tolice de uma certeza inerte.
De um medo infantil.
De uma alegria leviana.
De uma desistência precipitada.
De um orgulho tóxico.
Da pobreza,
solidão,
perversidade,
panaceia.
Acrescente "se" às conclusões de sua história. Coragem.
Os próximos passos contarão com um pouco mais de ansiedade.
Serão um tanto quanto inseguros.
Mas nós seremos mais amorosos? Perdoaremos mais?
Imaginaremos mais,
acusaremos menos, morreremos menos?
Uma boa dúvida amplia horizontes.
Despede-nos de cavernas.
Catalisa ressurreições.
Aprofunda a vida, ao menos.



O pastor das palavras

Só existe palavra porque há amor,
abertura nervosa para o mundo.
Se falamos é porque o outro nos afeta,
a vida nos fere,
o mundo nos reivindica.
A palavra é incontornável.
Viver é dizer.
Falamos tanto que o silêncio palavreia,
os gestos dizem,
os olhares brigam,
o toque sussurra poesia na pele.
Se sonhamos,
é porque antes de soltar-se na vida,
a palavra é imaginação.
Antes de nos tirar o fôlego e dizer que Deus é amor, João nos surpreende,
afirma que desde sempre Deus é palavra,
logos,
revelação,
manifestação,
testemunho,
sua glória é dizer-se entre nós.


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