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quinta-feira, junho 01, 2017

Dois poemas de Gerardo Oberman


Te esperamos

                                              Tradução de Sammis Reachers

Vem, te esperamos,
Deus dos processos que escandalizam,
Deus das chegadas surpreendentes,
Deus dos lugares inesperados
E das formas inapropriadas,
Deus que se faz como um de nós
que te apoias às nossas fragilidades,
que te reconcilias à con-vivência,
com quem somos barro e sonhos,
dor que dói profunda
e esperanças que não deixam de latir

Vem, te esperamos,
nascendo ali onde poucas pessoas te buscam,
onde só as gentes humildes podem encontrar-te,
abraçado pelo amor dos pobres e dos
desprezados,
abraçado pela sensibilidade dos nadas,
perfumado pelo aroma do pão que se sabe
compartilhar
e que se faz festa solidária,
hóspede refugiado ali onde a única fronteira
é a de Tua graça sem fronteiras.

Vem, te esperamos,
anunciando salvações possíveis,
abrindo sulcos em direção à paz com justiça,
marcando o ritmo e apontando aquele horizonte
de luz
onde as armas são arados e os meninos e as meninas
folgam,
onde ninguém calça botas e não há tiranos,
onde nenhuma pessoa julga nem fere nem mata a
seus próximos,
onde a alegria é verdadeira
porque não há opressão nem existem as escravidões,
onde a criação inteira alcançará sua aguardada
plenitude.

Vem, Jesus, te esperamos.


Tempo de tirar as máscaras

Não corra mais, não te escondas,
Não deixes que te insultem
Nem que te acusem nem que te magoem
Com suas palavras ofensivas e suas piadas imundas.

É tempo de tirar as máscaras
E de ver quem é quem.
Não temas, mulher, que o teu pecado
Não desculpa os outros pecados
Nem dá direito ao julgamento
Aqueles que se escondem em aparências
De Misericórdia, de bondade,
De cumprimento da lei,
De perfeita santidade,
De generosidade e até de decência.

Aqueles que te trazem aos pés de Jesus
Dizem ter encontrado amando,
Talvez a quem não devia,
Sem dúvidas fora da lei da época.
Mas ignoram que seu dedo acusador,
O veneno das suas línguas afiadas,
E as pedras que carregam em suas mãos
Ou que escondem em seus bolsos,
Não podem enganar o coração do mestre.

De repente, diante de um olhar e uma pergunta simples,
Os argumentos condenatórios desmoronam-se,
A armadilha se desmascara
E um a um, começam a ir embora
Aqueles que se acham donos da verdade,
Aqueles que sem misericórdia
E procurando justificar-se,
Queriam dar uma rasteira
No Projeto de Deus.

Levanta a vista, mulher,
Põe-te em pé, deixa o chão da vergonha
Em que te jogaram com desprezo
E recupera a dignidade que quiseram tirar
Aqueles covardes de meias verdades.

Jesus não condena...
Jesus abraça, perdoa,
Restaura, anima, ensina,
Dignifica!

O teu regresso à vida cotidiana, mulher,
Será um permanente lembrete
Para aqueles que te trouxeram, primeiro,
E depois te deram as costas,
Da necessidade de rever a própria vida.
E será, por todos os tempos,
Um sinal de esperança
Para todas as pessoas caluniadas
Por ódios discriminadores,
Desumanizadas por leis cruéis,
Estigmatizadas por sua raça, sua condição social,
Sua religiosidade ou sua vida sexual;
Será um sinal luminoso
Para as pessoas jogadas no chão do desprezo,
Pisada na sua fragilidade,
Vítimas de regimes opressores
E de uma religiosidade que se esvaziou de Deus.

Levanta-te, mulher,
Já não há pedras,
Só um caminho novo por descobrir
E muita luz
No Horizonte de tua vida restaurada.

À Luz de João 8:1-12




O argentino Gerardo Oberman é pastor, escritor e poeta. Seu livro de poesias (em espanhol) Barro y Cyelo (CHILE: Hebel Edicones, 2017) pode ser baixado gratuitamente AQUI.


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