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quarta-feira, janeiro 13, 2021

Dois poemas sobre o Alcoolismo

 


ACORDANDO NU

 

Estou em uma festa quando uma criança me pergunta:

"Ei, você quer beber, mano?"

Oh, não, obrigado, eu não bebo mais

Isso é uma porcaria

Otário, trouxa, fraco

Às vezes devo ser chato - então sou chato

As festas que geralmente vou consistem de café e sentimentos

Algumas vezes por semana, nós sentamos em um círculo

e tentamos reconstituir nossas vidas.

Não nos lembramos delas tão claramente.

 

Além disso, uma vez, quando pesava apenas 60 quilos,

matei uma garrafa de Jack Daniel's em trinta minutos.

Na manhã seguinte, acordei nu no banco de trás do meu carro

Com o gosto de vômito subindo até a garganta.

 

Sou alérgico ao álcool.

Toda vez que bebo eu acabo algemado

cago no carpete da sala e, em seguida, chuto uma porta.

Até hoje eu coloquei três gatos em uma mochila,

um cachorro em um armário

Não me chame de chato, senhor

 

Uma vez, eu esqueci onde era minha casa

Fui escoltado por estranhos

Estava com um pacote de biscoitos, um guarda-chuva 

e completamente nu

Mas uma vez eu soquei o meu melhor amigo

tão forte que quebrei o nariz dele

E uma vez eu tomei mais comprimidos que eu consigo lembrar

E aceitei que estaria morto em uma hora

 

Não se atreva a me chamar de fraco

Eu engoli mais litros de arrependimento

do que o sangue que você é capaz

de bombear no seu corpo.

 

Não diga ao meu pai que ele era ‘chato’

ao olhar o seu único filho nos olhos

e perguntar-lhe se ele bebeu mais uma vez.

Você não será bem-vindo nesta casa.

 

Não diga a minha mãe que eu sou fraco

Ela não vai conseguir conter as lágrimas

ao lembrar-se de quando ‘passeava’ pela ala psiquiátrica

Para ver seu próprio filho algemado

a uma cama na sala de emergência.

Ela passou quatro anos orando pela minha sobriedade,

E você não vai tirar isso dela.

 

Se for me dar uma dose (tiro), é melhor ter um gatilho envolvido

A vez que me senti mais forte foi quando 

eu disse “não” pra bebida pela primeira vez

Eu disse não, todas as manhãs desde 29 de setembro de 2008

Eu digo não dezoito vezes antes do café da manhã

Um para cada passo necessário para ir do meu quarto até a geladeira

Eu digo não dez vezes antes de trabalhar

Uma para cada outdoor que me diz que eu era mais forte quando bebia

Eu disse não mais vezes do que posso contar

Uma vez pra cada noite que minha família ficava acordada 

tentando não imaginar a minha lápide

Você me faz a pergunta

Eu não ouço as palavras que você está dizendo

Escuto você me perguntar: você quer morrer, Michael?

Não, eu não quero mais morrer.

 

Michael Lee

Trad. Sammis Reachers e Erick Mendes



UMA COISA A DIZER

 

Só há uma coisa que eu poderia dizer

sobre como me senti naquele dia.

O dia em que nos sentamos com livros para colorir

e continuamos rindo de nossas pinturas engraçadas.

Uma memória para sempre impressa em minha alma,

a única que terei, desde que você perdeu o controle.

 

Só há uma coisa que eu poderia dizer

sobre como me senti naquele dia.

O dia em que você me machucou pela primeira vez

e me fez pensar que respirar era um crime punível.

Uma memória que eu daria qualquer coisa para trocar;

O dia em que minha mãe começou a desaparecer.

 

Só há uma coisa que eu poderia dizer,

para descrever como eu odiava todos os dias.

Os dias em que eu esperei a noite toda,

porque eu não conseguia dormir

até que você chegasse em casa bem

Uma memória minha que você nunca conheceu,

porque quando você chegava, eu me escondia e evitava você.

 

Só há uma coisa que eu poderia dizer,

para expressar como você me fez chorar naquele dia.

Os gritos e o ódio que vi em seus olhos

não era minha mãe, mas um efeito de sua embriaguez.

Uma memória que assombra e se recusa a decair.

e você nem se lembra disso, de qualquer maneira.

 

Não há nada que eu possa dizer,

para dizer como me sinto hoje.

A dor no meu coração a que nunca vou me acostumar,

porque é ilegal para mim falar com você.

Eu te amo, embora você nunca acredite nisso;

apesar de sua raiva, seu ódio, e ataques temperamentais.

 

Não há nada que você possa dizer,

para fazer toda a dor ir embora.

Vou lembrar de você por quem você era,

das primeiras memórias de um borrão confuso.

Tenho saudades da minha mãe e de tudo o que ela poderia ter sido,

se ela não tivesse deixado o álcool fazer sua vida desabar.

 

Nota do autor: Eu tenho 17 anos. Este poema obviamente foi escrito sobre minha mãe, que tem um terrível problema com drogas e álcool. Ela costumava me deixar em casa sozinha para jogar por horas; às vezes, por dias. Sempre que ela voltava, ela voltava bêbada e abusiva.

Lembro-me de noites em que fiquei acordada e esperei que ela voltasse para casa. Metade de mim queria que ela voltasse em segurança, e metade de mim desejava nunca mais vê-la.

Ela quase me matou há cerca de um mês. Eu preenchi uma ordem de restrição e não posso mais vê-la.

 

Anônimo


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