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terça-feira, junho 06, 2023

Dois poemas de Edcleide Monteiro

 


MÃOS

 

Era Menina-moça

Tímida e delicada

Primogênita da família

Amada e bem cuidada

 

As mãos do lar

Sempre dão proteção

Todos os filhos

Estão cercados de atenção

 

Aos olhos de seus pais

Reinava em inocência

O atroz não tem cara

Independe da etnia

Não mora distante

Vive no seio da família

 

A perversidade é

Invisível

Impercebível

Ininteligível

 

A mão de confiança

Traiu a parentela

Trouxe desesperança

 

A menina moça

Teve alma invadida

Sua pureza perdida

 

O tempo passou

O tempo não curou

Tempo, tempo, tempo

O que se pode esperar do tempo?

 

A menina cresceu

A ferida também

 

Suas mãos delicadas

Trêmulas ficaram

Suas risadas alegres

As angústias silenciaram

 

As frágeis mãos

Seguiam sozinhas

Não expunha sua dor

Vergonha tinha

 

Em seu caminho

Alguém a encontrou

A mão estendeu

Empatia demonstrou

 

As mãos furadas

Ele a mostrou

De braços abertos

Seu amor revelou

 

As mãos furadas

Prontamente a acolheram

Um abraço lhe deu

Sua dor removeu

Vida nova concedeu

 

Essas mãos furadas

Continuam estendidas

Presenteando a você

Paz, amor e vida



Cordel: A Graça da Incerteza (sobre o câncer)

 

Vivo cada dia

Com rotina programada

Minha agenda pronta

É toda cronometrada

 

Para os próximos meses

Tenho muitos compromissos

Tento honrar todos eles

Não me espelho nos omissos

 

Como vai passar a noite

E o dia chegará

Tenho a convicção

Aurora me aguardará

 

Certo dia amanheço

Escuto triste notícia

Enfermidade chegou

É real, não fictícia

 

Nos braços do Pai celeste

Encontro Paz e consolo

Sua Graça infinita

Não há tristeza nem dolo

 

Contudo, meu coração

Se aflige inquieto

Sentindo-se inseguro

Sofrendo, nada discreto

 

Logo, então percebo

O controle já não tenho

O futuro é incerto

Confiança não detenho

 

Leio na Bíblia Sagrada

Que me lembra quem eu sou

Vaso na mão do oleiro

Que o barro amassou

 

Entrego ao meu Senhor

O desejo de controlar

A precisão da certeza

No altar quero deixar

 

Em teus santos desígnios

Minha alma vai descansar

Como bebê que mamou

Em teu colo vou nanar

 

Diante de ti eu chego

A tua graça me rendo

Em oração percebo

Tua presença me enchendo

 

Em meu pai celestial

Tenho força e firmeza

A minha vida comanda

Ele me tem feito proeza

O meu coração sossega

Na Graça da incerteza


Perfil da autora no Instagram: @tesourodehistorias


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