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quinta-feira, dezembro 28, 2006

DOCUMENTO HISTÓRICO

Em 1974, foi publicado, pelos poetas Joanyr de Oliveira e João Tomaz Parreira, o manifesto “Por Uma Nova Poesia Evangélica”. Primeiro na revista ‘A Seara’ (Brasil), e após na revista ‘Novas da Alegria’ (Portugal, onde também assinou o manifesto o poeta Brissos Lino). O feito representou um verdadeiro marco em nossa poesia, numa época em que, se por um lado era fervilhante de experimentalismos e novidades o meio literário secular, onde a palavra vanguarda ainda tinha algum valor significante, era, por outro lado, de uma certa estagnação na poesia dita evangélica, com a maioria dos autores ainda presa às velhas correntes.
Publico abaixo, na íntegra, o texto do Manifesto, ciente de que suas proposições são válidas ainda hoje.


Por uma nova poesia evangélica

CONSIDERANDO que Arte pressupõe criatividade, pesquisa, crítica e auto-crítica, busca permanente de novas formas e fórmulas;
CONSIDERANDO que em Arte ou renovamos ou perecemos no marasmo do lugar-comum, na sensaboria do pasticho, no eco estéril;
CONSIDERANDO que o apego a escolas ou correntes estéticas ultrapassadas vem comprometendo de modo muita vez irremediável o nível da poesia, notadamente a de conteúdo religioso e particularmente a da mensagem evangélica;
CONSIDERANDO que uma linguagem renovada na expressão poética pode manter-nos em perfeita harmonia com idéias, figuras, símbolos, metáforas contidos nos textos bíblicos;
CONSIDERANDO que a pretensa “simplicidade”, defendida e praticada por muitos, é quase sempre um apelo ao fácil descategorizado, ao prosaico, ao comodismo que nada constrói nem coopera no aprimoramento a que todos devemos aspirar;
CONSIDERANDO que o pieguismo (muito próprio da alma latina, aliás), a adesão ao derramado sentimentalismo, não dignificam a Arte, já que reduzem, quando não suprimem, o exercício da serena reflexão;
CONSIDERANDO, por fim, não haver incompatibilidade entre as fontes seculares – enquanto tomadas como subsídios, pontos-de-referência, paralelos – e a religião, sendo válidos todos os dados culturais quando se realiza uma obra de Arte, importando, antes, o tratamento dispensado ao “material”, o “savoir faire” nos rumos da dignificação do não-digno, da desprofanização do profano, dentro do espírito paulino de examinar de tudo, retendo o que é bom;
DECLARAMO-NOS por uma Nova Poesia Evangélica, inconformada e irreconciliável com o decadente e o passadista em matéria de expressão (de linguagem) e de concepção; por uma Nova Poesia Evangélica dirigida no sentido de uma contínua renovação expressional, em que a glorificação a Deus e a aceitação dos valores espirituais (de ênfase bíblica e evangélica) se destaquem, de forma alta e nobre, sem hostilidades passionais ou indeferentismos ante aquilo que se aninhe no interior de cada criatura humana ou que gravite nas periferias do Homem.
Em Fevereiro de 1974
Ass.: Joanyr de Oliveira - Brasil (Brasília, DF)
Ass.: João Tomaz Parreira - Portugal (Aveiro)

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