Em comemoração ao Natal, este belíssimo poema do irmão lusitano (da Assembléia de Deus) Samuel Pinheiro.
NASCER 1
(em
BELÉM
-ano primeiro da nossa Esperança-)
MENINO FOSTE
de carne e osso (e não de papelão ou de bolas de sabão
e não apenas de barro
como alguns ainda te querem).
Menino
nasceste para Matar
a Morte do homem-sobrevivente
a Morte aos nossos pés das nossas mãos dos nossos miolos, Estavas cansado de ver homens
a caminharem o caminho largo da Morte
a fabricarem a sua Morte
a pensarem a Morte.
Menino
acordaste para acordar
trazendo a geometria dessas estrelas de sermos novos
que batiam insistentemente à porta das nossas veias.
Quando tudo ao Teu redor
era sono era silêncio era pedra
Tu acordaste.
E os céus e a terra e o mar
bateram as palmas de contentamento.
Nasceste para Matar
acordaste para acordar
e as camas e os berços e as campas
dos negócios mesquinhos da feira da vaidade
não adormeceram nem Mataram
a Tua decisão de acordar os que dormiam resolutamente
embalados pela Morte.
Nasceste para Matar
acordaste para acordar
e eras o arado
que rasgaria o chão da noite
um caminho da Vida-que vale-a-pana-viver.
Menino
entre o Alfa e o Ómega
uma lágrima eras na frente da batalha
contra os monstros da mentira.
Uma lágrima de pé límpida transparente
a quebrar todos os seixos e todas as navalhas arrogantes
do orgulho.
Uma lágrima salgada. Uma lágrima de sol.
Uma lágrima a arder chorada das alturas.
Uma lágrima que beberia do nosso rosto
as nossas lágrimas plenas de sepulcros e grades.
Um sorriso eras sem o bolor que têm as palavras doentes
e os discursos siflíticos dos fariseus
e o olhar cheio de muros dos levitas.
Um sorriso emigrado das planícies macias do vento
que a nossa triste—tristeza
de não sabermos degolar a tristeza-de-tristes-estarmos
iria estrangular impiedosamente.
Foste Tu que vieste dizer-BASTA!
-BASTA
de homens escravos.
-BASTA
de homens secos.
-BASTA
de homens podres por dentro
e manequins
por fora.
Uma ave nascias para abrir as pedras.
Uma ave de puríssimos contornos (a subir)
o espanto dos fantasmas.
Uma ave de espessas madrugadas
de Vida de trabalho de bom combate!
A alegre-alegria que procurávamos!
Menino
eras a pólvora exacta de suor e sangue
contra o arame farpado das nossas antigas fronteiras
das nossas antigas chagas
o antigo abismo entre Deus e os homens
entre os homens e os homens
vinhas sepultar definitivamente.
Sendo ponte
ditando sangue
transitando pela luz
trazendo mão de sal
abrindo o habitáculo de todo o verde
transpondo os engenhos e os púlpitos tuberculosos
da tradição.
Vieste! Viveste! Em Veste de fogo!
Menino
eras um vulcão enorme de justiça e verdade que nascia
mesmo no meio da praça dos homens
investindo arrojadamente
contra os minuetes dos abutres
contra as nossas muralhas de estúpida jactância
e os cemitérios do irracional poder
contra as frias esculturas das falsas religiões
e os calhaus da vingança regados de muitas palavras.
Não te vendeste nunca
ao medo à mentira
ao poder dos frágeis senhor desta terra.
Nunca Te calaste
porque Tu és o grito que ninguém pode abafar.
Os Teus silêncios
eram punhais pelos ouvidos dos juizes vendidos.
Eram fogueiras ardendo nos olhos das discípulos.
As Tuas palavras
eram avalanches de luz pelo peito dos teus amigos.
Os Teus gestos gestos longos profundos
eram sóis que nenhumas nuvens se atreviam a cobrir.
Meninoo Teu combate era beber a nossa sede.
As Tuas lágrimas eram o Suicídio das nossas lágrimas.
Tu
eras o único preço de resgate
da nossa loucura.
Tinhas o coração
da forma de uma cruz!
Tinhas nos lábios
a espada bigúmea de seres a verdade!
Tinhas nas mãos
searas e searas de fogo.
MENINO FOSTE
sem mancha
E
AINDA HOJE NASCES!
E
ainda hoje
as montanhas de medo que temos nas veias
ficam arrepiadas e tremem ante o mar do Teu sangue
quando Tu entras de rompante na nossa vida!
E
ainda hoje
nos visitas na figura de consolo e paz guerreira
de uma pomba!
E
ainda hoje
despedaças as penhas do orgulho!
Agora
QUEM PRECISA NASCER
SOMOS NÓS!
EU.
NÓS.
ÉS MEU CRISTO O NOSSO NATAL
AINDA HOJE!
NASCESTE
PARA NÓS PODERMOS NASCER-DE-NOVO!
www.samuelpinheiro.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário