*
Samaritana
Vai, samaritana, vai!
Vai
e conta a toda a gente
que as notas da desdita
não mais serão tangidas
Vai, samaritana, vai!
Vai e conta aos teus
― no grupo dos indiferentes
― no monte dos zombadores
que o ar da comiseração
deixou de ser respirado.
Vai, samaritana,
e conta a todo o mundo
que as pedras do desânimo
já não ferem tuas carnes
porque foram removidas.
Vai, samaritana,
e pelas praças e becos
ergue alto a tua voz
porque o barro da vergonha
na água do amargor
amassado, cozido e ressequido
jaz desfeito
em pedaços espalhado.
Vai!
E alça tua fronte
erguida
ao novel escárnio e zombaria
de quem te não quer escutar
que no poço de Sicar
enterraste o mau viver.
Vai!
E mostra no canto das aves
na simplicidade
das coisas simples
que a poeira maldita
da proscrição
jaz amordaçada
aos pés de uma luz
nova
real
e tangível
Quando eu acordar na glória
Quando eu acordar
na Glória,
nem sonhos nem pesadelos
irão perturbar jamais
a radiosa aurora.
Quando eu acordar
no Além,
nem dores nem gritos,
descompassados e inertes
cercarão meu tálamo
que eu quereria dourado.
Quando eu acordar
na resplandecente aurora,
meu fardo,
pesado e medonho
de angústias e incertezas,
não estará no momento
do transpor da Eternidade.
Quando eu acordar
na Glória
e cercar a realidade,
não terei nem preso a mim
o fio ténue e espesso
do relembrar da memória
de dias negros e passados
de infinita tristeza.
Quando eu acordar
na Glória,
viverei a felicidade
aqui somente entrevista
sentida em sonhos
de dia claro,
mas jamais atada a mim
como realidade perfeita.
Quando eu acordar
na Glória,
a lágrima que, ora, presa
nesta faixa de humano,
rola grossa e farta,
contando de mundos
perdidos
e ansiedades falhadas,
seca para sempre
estará,
cedendo lugar vitorioso
ao sorriso de alegria
de um novo viver sempiterno.
Quando eu acordar
na Glória
― ah! dia mais desejado ―
nem ríctus de dor,
de angústia,
de tristeza velada,
jamais ensombrarão meu ser
que nova luz
radiosa
brilha para sempre imortal.
Quando eu acordar
na Glória,
meu coração destroçado
banhado em lágrimas amargas
que o cercam e o aninham
reviverá para sempre
com um canto novo
de gozo e de louvores
na certeza retumbante
de uma vitória eternal.
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