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sexta-feira, março 28, 2014

Um poema de Joselir Veiga Martins


Poesia salva 

As vezes eu me sinto poeta esquecido 

Jogado em um canto qualquer mendigando rimas. 
Lutando com lágrimas que teimam em não cair.
Quem sabe eu não seja um mendigo travestido de poeta? 

À espera de rimas que não virão.
Que chora à porta do templo 

aguardando o tempo.
Porta fechada para balanço 

E do lado de fora 
Um Deus aberto a diálogos.
Talvez eu nem seja mesmo um poeta 

Mas, sim, um cristão esquecido pelas areias do tempo 
Como moldura antiga 
Que carrega fotos amareladas 
Que jazem do lado de fora de Laodicéia, 
Enquanto as manchetes se multiplicam 
Em boas novas na cidade vizinha.
Cidade em tumulto 

Turbas apaixonadas 
Pedem a cabeça de um certo homem 
Três salteadores pendurados 
O do meio se diz ser Deus 
Que loucura! 
Gente bem intencionada diz que suas palavras exalam luz 
Parece que um dos salteadores foi iluminado: 
Esperança para o poeta.
A rima voltou. 

Esta noite entrarei no Paraíso.

domingo, março 23, 2014

Dois poemas de Rui Miguel Duarte


Espinho

“… um espinho, um enviado de Satanás para me atormentar…”
2 aos Coríntios 12:7

cravado um espinho me foi
na língua uma ponta cuja ponta
é o veneno por dentro do paladar
o hálito do anjo da negritude
uma textura acre
que reúne contra mim
num só golpe todos os golpes
e açoites do mundo

cravado na língua e revolvido
na carne como o punhal
no ventre do inimigo
que só nessa hora
se aprende a conhecer
de tão perto que os olhos
de uns nos do outro se vêem

pensava que com língua
amortalhada seria impossível dizer
os poemas da minha vida
que são a incessante forma
de o coração dentro dos escombros
do peito saber ser generoso

mas subitamente
elevado à morada mais longínqua
do céu sem corpo talvez sem sonho
aprendi que nenhum espinho trava
a língua antes mais a adestra
na cadência da palavra proclamada
na disciplina da graça

Conclusão


É tempo de concluir; já tudo foi dito.
Eclesiastes 12.4

De tudo isto a conclusão é: o sol brilha
e não deixa vivalma isenta de meio-dia
a noite consome-nos quando faz assobiar os gonzos
por trás de nós, por trás da memória

a areia devora-nos o rosto, é uma mó
que de tanto moer grão seco quebrou

o coração dissolve-se no vento
sem saber o que o leva às alturas
sem saber se há alturas ou apenas vertigem

de tudo isto, dos velhos que são fortes
curvados, do deserto em que não entrámos
que perdemos na ilusão de ser mar mas que entra
por nós dentro, e nos traga as mãos
ao tanto escorrer

de tudo isto a conclusão
é afinal irrefragável:
teme ao Senhor ama os preceitos dum Pai
a eternidade que são
todas as horas da tua vida de homem,
esta é a tua condição, esta é a tua conclusão



quarta-feira, março 19, 2014

Um poema de Lusimar Biasi



MEDITAÇÃO
                                                                                             
A  escuridão cai sobre Jerusalém
Uma grande luz extingue-se no além
JESUS está morto!
Usualmente, os mortos eram deixados na cruz
Na mais densa escuridão, sem luz!
Alimentos  de abutres  e cães selvagens
Fora dos muros, os muros da cidade
Como advertência dos crimes cometidos!
Almas angustiadas, corpos adormecidos
 
José de Arimateia, ,judeu rico e senador
Que foi um grande amigo de CRISTO  o Salvador
Antes que chegasse o sábado, que ironia!
Queria o corpo do Mestre, antes daquele dia
José de Arimateia,junto com  Nicodemos
Dois religiosos, sedentos da verdade, mas não supersticiosos
Conheceram a  JESUS no resguardo das sombras da noite
 
Para aprenderem, sem serem vistos pelos judeus
Temiam  as controvérsias,pois eles não criam em DEUS
E  antes que as trombetas soassem ao entardecer
Teriam que tirar o corpo de JESUS! Se Pilatos conceder
No entanto permissão é dada: e eles a correr
Chegam até a cruz, e que horror!,
Ficaram estarrecidos, em ver o seu SENHOR...
 
Em súbita emoção, choram e choram!
Choram por eles mesmos, por tudo que não fizeram
E por tudo que não entenderam
E por não terem seguido,  aquele que os escolhera.
Desajeitados  tentam tirar CRISTO da cruz!
O vento sopra forte, e lembram de JESUS
Quando disse: assim falou Isaías
Assim como Moisés, levantou a serpente no deserto
Da mesma forma importa que o filho do homem seja 
Levantado!
LEVANTADO! A expressão circula em suas mentes
Era momento de dor  e muito deprimente
Colocam o corpo no chão  e examinam os danos
Feitos pelos soldados, aqueles desumanos
Cumprira-se o que disse Isaías
O seu parecer estava desfigurado!
Seus pés e suas mãos estavam  perfurados!
O sol poente, apressa o trabalho dos dois
E pensam... não fizemos nada para evitar
Essa tragédia! Brutal, tinham  influência
Para barrar este tão grande mal
 
Levaram o corpo para o sepulcro de José
O corpo do bom MESTRE, JESUS DE NAZARÉ
Para esses heróis mais atípicos
Essa foi a hora da grande emoção
Longe de todos, longe da multidão!
O momento, amor tardio, que conduz
Quando eles olham para o SENHOR JESUS!

Nicodemos e José, colocam o corpo na sepultura
E abraçados choram, a terrível desventura
De não terem servido ao MESTRE com ternura!

sábado, março 15, 2014

Semente na Terra, poema de Myrtes Mathias



Semente na terra

Semente na terra não é semente perdida,
é vida escondida – um dia, surgirá.
Num tempo distante, que a gente não espera,
será primavera – linda germinará.

Por isso, com amor, vou lançando na terra,
o melhor de minha vida, de meus sonhos de agora:
com os olhos em Deus, vejo flores e frutos,
enfeitando o mundo quando chegar sua hora.

Talvez eu não veja, aqui não esteja,
mas esta certeza no coração,
me faz entoar a canção do ceifeiro,
quando ainda é semente escondida no chão:
mesmo maltratada, esquecida, pisada,
no dia em que sentir da Luz a atração,
não haverá barreiras, pedras, espinhos,
abrirá seu caminho,

será Luz! Será Pão!

Do livro Semente na Terra (JUERP, 1990)

quinta-feira, março 06, 2014

Oito de março, Dia Internacional da Mulher: Cinco poemas de Ivone Boechat



Sou mulher

Sou mulher,
com as aflições e a inspiração do poeta,
o esplendor e a serenidade das mães!

Sou uma canção de ninar,
experimentadora dos sabores do tempo,
estrela da constelação familiar!

Sou letra e música da canção
do mais puro sentimento
que a mulher é capaz de cultivar!

Sou feita síntese do segredo de amar,
tenho fases minguante e cheia,
assim como o luar!



Mulher madura

Esse ar puro oxigenado de maturidade
me dá o aspecto de que já vi tudo na vida,
disposta a rever a própria vida.

Este sentimento de mulher humana
me dá o direito de viver feliz,
inspirando segurança,
como se já tivesse tudo o que quis.

Esse jeito felino ou de criança
me dá a certeza de ser forte como nunca,
agarrada nos braços da esperança.

Essa determinação de chegar faceira,
sem ter que explicar nada
nem dizer porque,
me dá a sensação
de estar no auge da vida,
a vida inteira.


AS MÃOS DA MULHER
  
Vestem necessitados,
ensinando a bondade.
Dão o exemplo,
ensinando o amor.
Embalam o berço,
ensinando a ternura.
Indicam o caminho,
ensinando a decidir.
Preparam alimentos,
ensinando a repartir.

Erguem as mãos,
ensinando a orar.
Abrigam o aflito,
Ensinando a esperança.
Enxugam a lágrima,
ensinando a compartilhar.
Constroem a família,
ensinando a confiar.
Plantam flores,
ensinando a trabalhar.


Que mulher é essa

Que mulher é essa
que não se cansa nunca,
que não reclama nada
que disfarça a dor?
Que mulher é essa
que contribui com tudo,
que distribui afeto,
tira espinhos do amor!
Que mulher é essa
de palavras leves,
coração aberto,
pronta a perdoar?
Que mulher é essa?
que sai do palco,
ao terminar a peça,
sem chorar!
Essa mulher existe,
sua doçura resiste,
às dores da ingratidão,
resiste à saudade imensa,
resiste ao trabalho forçado,
resiste aos caminhos do não!
Essa mulher é MÃE,
linda, como todas são.



MULHER
  
Um aroma suave
exalou das mãos do Criador,
quando seus olhos contemplaram
a solidão do homem no Jardim!

Foi assim:
o Senhor desenhou
o ser gracioso, meigo e forte,
que Sua imaginação perfeita produziu.
Um novo milagre:
fez-se carne,
fez-se bela,
fez-se amor,
fez-se na verdade como Ele quer!
O homem colheu a flor,
beijou-a, com ternura,
chamando-a, simplesmente,

Mulher!