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sábado, outubro 25, 2014

A poesia cristã de Carlos Nejar




Eva
A culpa toda
me reveste
e eu nua.

Ouvi o que
a serpente
sussurrava
e caí.
Com Adão.

Nos desterrou
o anjo.
Era o conhecimento
de um pudor
ou soluço.

O que pode
a dor,
se nenhum traço
nos julga?

Com medo,
escondo a face.
E opaco, nulo
o riso. Tudo
é desconhecido
fora do paraíso.



Bem-aventuranças

Bem-aventurados os pássaros,
as nuvens, as madrugadas.
Bem-aventurados são os pássaros.
Para eles
todos os dias
são todos os dias.
Reais, antigos, tutelares.
Nós, coitados,
não sabemos
que fazer deles.
Queremos os dias
limpos, arrumados
com cadeiras.
Felizes os pássaros.
O mar é um animal feliz
e as coisas imaginadas
alí existem.
Bem-aventurados são os pássaros:
não pensam em liberdade
porque voam nela
sem idade.
Nós, coitados,
nem sabemos
que fazer dela.
A nós, o cisco,
o mar baixo.
Arriadas velas,
as ações com elas,
os pensamentos arriados.
Jamais o ir adiante
até onde
a resistência manda
que se ande,
até onde
perca seu comando
e vá seguindo
quando
for chegando.
Bem-aventurados os pássaros!

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