OS
CRIADORES
O Arquiteto
disse, indo à frente:
"Da
arte, o mestre eu sou:
Eu tenho um
pensamento em mente,
Eis o que
meu coração sonhou.
"Vem
agora, bom artesão, exerce tua arte
Com
ferramenta e pedra — obedece-me;
Veja, no
plano que fiz, tua parte.
Eu sou o mestre;
serve-me".
O Artesão
respondeu: "Senhor, eu vou; observa,
Contudo, que
este teu rascunho
Seja do tipo
a que a minha habilidade é serva —
Tu não és mestre
do ofício que empunho.
"É por mim
que a torre se toma distinta,
Eu
estabeleço o curso, eu moldo e talho;
Tu fizeste
um pequeno rabisco à tinta,
E isso é
tudo o que alcanças em teu trabalho.
"Conta
comigo, o mestre humano,
Para colocar
minha rígida trena
Sobre o
plano, e sobre o que serve ao plano:
A pedra
impotente e mui serena".
A Pedra
responde: "Mestres meus, escutai:
Sabei isto:
abençoar ou condenar poderei
O que quer
que vós dois projetais
Sendo apenas
a coisa que sou; pois sei
"Que
ouro não sou, mas puro granito,
Pois sou
mármore, não argila;
Inútil
martelar, a mim impor molde estrito:
Eis que sou
mestra, não pupila.
"No
entanto, vez que se me impõe maestria,
Com paciência,
hei de sofrer o necessário
Do aço que
cliva, do peso que me trituraria,
De ambos que
fazem de mim um calvário;
"E tu
podes, com tua mão, me esculturar
Para arco e
botaréu, telhado e parede,
Até o sonho
surgir e perdurar:
Serve apenas
apedra, ela que servir todos cede.
"Que
cada um faça bem o que melhor sabe,
Que nada
recuse e não fuja da obrigação,
Já que se
assenhorear dos demais a ninguém cabe,
Mas todos da
obra apenas servos são;
"A obra
que mestre nenhum dominou,
Salvo Aquele
que a todos ensina,
O Arquiteto
que tido imaginou,
Dela Artesão
e Pedra de Esquina.
"Então,
quando o maior e o inferior
Sentarem-se
juntos na festa,
Após terminarem
todo o seu labor,
Vós vereis
uma maravilha manifesta:
"O
Criador de cada homem que trabalha
Vai se
curvar entre os querubins de fulgor,
Tomando aos
braços bacia e toalha,
Servindo aos
servos que o servem com amor".
Arquiteto e
Artesão, em intacto
Acordo falam:
"A Pedra diz bem";
Vinculados à
tarefa por um pacto,
Cada um à
sua obra dá-se como convém.
Tradução de Francisco Nunes.
Do livro O Homem que nasceu para ser Rei.
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