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Ruth Palmer
MANIFESTO
Poetas de todos os sonhos, uni-vos!
Nas folhas do silêncio e do verbo
editai as fisionomias do amor,
entrelaçai vossas metáforas.
Dai e recebei vossas mãos
trêmulas sob o peso do universo,
das lágrimas gotejadas pelos milênios,
dos que mataram a vida
amoldada pelos dedos de Deus.
Dizei às flores o vosso segredo
quando no anverso das coisas caminhais.
Uni-vos contra as foices sorrateiras
e degoladoras do vento, contra os martelos
que pisam sobre a harmonia dos homens,
contra os cifrões obesos e hipócritas.
Poetas de todos os planos, uni-vos,
estendei vossos braços até o infinito:
trazei de volta a Eternidade
pelos condutos de vosso sangue.
Urge casar o Belo de vosso canto perfeito
e a perfeita canção do caminho de Deus.
Escolhei a palavra madura
e a beijai ritualmente.
Poetas de todos os sonos, erguei
Dos submundos doentios
As águas da morte e com um olhar
Transformai tudo em poesia!
Acariciai com o verso mais sereno
Os que não sabem sorrir,
Os meninos amarelos, nus e esquecidos,
Os preclaros donos das guerras do mundo,
Os promulgadores de injustiças.
A estes avisai, poetas,
que sobre a inocência de seus netos futuros
pisarão os implacáveis corcéis da morte.
Poetas, uni-vos nas alamedas do amor
e jorrai vossos soluços unânimes,
porque os relógios do pânico
não dormem – com as bombas, não dormem –
com os terremotos grávidos de ira.
As potestades subterrâneas
apontam agora a última noite.
Urge convocar, poetas, as margens dos oceanos,
os pilotos, os timoneiros, os chefes austeros,
os sepulcros, os golfos solitários,
os mendigos, as meretrizes,
os humilhados pelos fortes, os tripudiadores,
os loucos de todo o gênero, os bastardos,
os reis sem trono, os tímidos, os assassinos,
os leprosos que se casaram com as trevas,
os natimortos, os desesperados sem remédio,
os sonhadores incorrigíveis, os sem honra,
os avarentos, os santos do Senhor de todas as terras,
os calmos viventes e os moribundos.
Porque, poetas, bem perto se anuncia
a última noite. E o ranger de dentes
e o pranto pousarão sobre as coisas e as frontes.
O Dia Eterno abrirá puríssimas asas
sobre as vestes vestidas de branco.
Poetas, emigrai dos sonos e dos sonhos
e cantai como espada e trombeta
as cores iluminadas do Amanhã.
(11/07/1977)
Poema lido pelo autor durante o I Encontro Nacional de Poetas Evangélicos - Rio de Janeiro, 24 de Julho de 1977.
In Antologia da Nova Poesia Evangélica (CPAD, 1977)
4 comentários:
Poema realmente lindo!
Uni-vos poetas!
Não me canso de elogiá-lo pelo blog amigo...
Deus o abençoe!
Unamines em uma só canção de amor e paz.
paz num abraço maior.
paz.
Paz, chefe! Só hoje conheci seu blog. Fiquei muito feliz por tê-lo encontrado e pelo seu conteúdo. Que Deus continue te abençoando nessa obra. Não tenho nada de poeta, mas amo poesia. É uma pena que ela esteja tão distante esses últimos dias...
Abraços.
Amigas e amigo, irmãos em Cristo, obrigado por suas palavras e pela constante visita.
Deus lhes abençoe grandemente!
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