terça-feira, novembro 24, 2020

Dois poemas de Silvino Netto

 


QUERIA EU ESTAR NO LUGAR DELE!

 

Não pense que queria estar

No lugar de Jesus, em sua crucificação.

Não! Não! Aquele era o lugar dele se não

Eu não teria hoje a certeza de minha salvação.

Mas, queria eu e muito estar no lugar

Do homem chamado José de Arimateia

Membro do Sinédrio, o único que votou,

Com isenção, pela absolvição

De Jesus Cristo, por não julgar nos seus atos

Qualquer, qualquer motivo de condenação!

(Que os nossos membros dos sinédrios sejam assim: justos, éticos, corajosos, corretos).

Queria eu estar no lugar de José de Arimateia

Na simplicidade de um homem rico

Que não queria plateia,

Mas corajoso tomou a posição

De quem ama e em gratidão

Manteve-se de pé, com fé, ao pé da cruz

Tão diferente daqueles que fugiram de medo,

Negaram ou dormiam enquanto sofria

Cristo Jesus na noite fria.

José de Arimateia sentiu de perto a dor

Do Cristo, seu Senhor!

Após a sua morte pediu a Pilatos autorização

Para sepultar Jesus, seu Salvador.

Liberado, retirou o corpo ferido, machucado,

Com placas de sangue o lavou.

Abraçou o corpo frio, talvez sozinho,

Aqueceu-o com amor e carinho,

Envolveu-o em pano limpo, de linho,

E o levou lavado para seu túmulo de rico

Esculpido na rocha, seguro, guardado

E ali, em lágrimas, emocionado

Agradeceu a dádiva de Deus que amou o mundo

De tal maneira que o seu único filho deu!

Quisera eu, quisera eu, e muito estar no lugar

Deste homem sensível, corajoso,

Agradecido, destemido, amoroso,

Para também, naquele momento,

Prestar meus sentimentos ao Cristo morto

Untá-lo com bálsamo perfumoso

E declarar meu amor incondicional

Pelo que fez por mim e por todos afinal

Para salvar-nos para sempre de todo o mal!

Quisera! Queria! E como! Estar lá também

Para ver o Cristo ressurreto, vitorioso,

E que hoje vive para sempre em mim! Amém!

 

 

SENSIBILIDADE SOCIAL.  ACORDEMOS!

 

Num quarto de meu quarto de dormir,

Deitado, ainda na madrugada que se fez longe,

Meus olhos preguiçosos de acordar

Me levam a um quadro pelo quadrado da janela,

A uma pobre comunidade adormecida,

Iluminada por luz pálida, amarelada,

Acolhida no berço de uma montanha sem verde

Coberta de nuvens negras, cinzas e brancas

Esperando o alvorecer sem sol.

Não consegui dormir mais

Ao pensar no dia a dia daquela comunidade.

E despertei-me deitado em berço macio acolchoado.

Entrei com meus olhos de ver em suas casas humildes

E vi gente dormindo sonhando com a esperança

Do dia do amanhã ainda sem chegar.

Vi outros, acordados, na angústia

Do ontem que não aconteceu.

Vi outros sonados que pareciam mortos

Sem ânimo para despertar.

Outros guerreiros dormiam de pé

Em cochilos espasmados

Porque sabiam que o dia de amanhã seria sempre noite

Se não acordassem antes do despertar do sol.

E naquele cenário ainda na escuridão

Ajoelhei-me com a sensibilidade

De ver com o coração

Aquele perto dos meus olhos

Mas longe do meu ver do dia...

Enquanto durmo preciso ver o irmão

Em vigília, em insônia, que não dorme.

Que tem o direito de um amanhecer de luz.

Por mais que ache que me vejo vendo o outro

É apenas um pisca pisca de olhos que não veem

De ouvidos que não ouvem

De bocas que não falam,

De braços que não abraçam.

SANTO DE PAU OCO!

Ainda sou um gigante adormecido

Que não posso permanecer

Em berço esplêndido

Eternamente deitado

Vendo o outro paisagem. Natureza morta!

Que não possa eu dormir

Enquanto o outro cansado

Nem consiga deitar um pouco

No seu direito, pelo menos, de repousar

E num cochilo sonhar com o amanhã!

 

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