quarta-feira, agosto 29, 2007

Dois poemas de J. T. Parreira



Salmo do Amor Interrompido

«Já ninguém nos molda com terra e com argila.»
Paul Celan


Agora o teu sopro espalha o nosso pó
abandonamos nossos mortos
com terra e argila e o sal
que vertemos pelas pupilas
Que nos adianta chorar?
O ímpio persegue o pobre
ódios são bombeados do coração
e o nosso grito, Senhor, está longe
e retorna aos nossos ouvidos
E és Tu, no entanto, o único
que compreende a nossa voz
o cheiro do nosso medo
no corpo escondido.


O Coração

(Para o Carlos Baptista,diretor de Novas de Alegria )

Carlos, os teus olhos saíram de cena
a tua sombra, também
a tua sombra que subiu
contigo para uma das ruas
do Céu, hão-de cair agora folhas
em branco do lugar
em que estavas sentado a procurar
a espiga, o fruto, das palavras
hão-de vir pássaros trazer
sementes invisíveis à tua porta
- mas tu estás noutro Lugar
sentado com os olhos
fixos na alegre passagem
do Cordeiro.

9-8-2007

sexta-feira, agosto 24, 2007

Dois poemas de Myrtes Mathias


do livro Ainda Canta o Coração, disponível para compra no site da União Feminina Missionária Batista do Brasil .



A Flor e o Vento

Nada me pesa hoje.
A não ser o amor.
Mas o amor não pesa. Levanta pesos, afasta questionamentos, abre a janela, enriquece a alma, faz milagres de transformação.
Hoje, por exemplo, antes
que o olhar alcance o muro,
a chaminé da fábrica, a poluição,
o amor me faz ver o jardim,
e sentir que é um pouco meu,
com suas roseiras e companheiras que se balançam ao vento...
Um vento bom, que não levanta pó, e refresca o ar e a alma da gente.
E é, então, que me volta o pensamento:
será o vento que balança a flor ou será a flor que se balança ao vento? Isso tem importância?
Claro. Toda descoberta é importante:
se é a flor que se balança, tem que estar atenta e até ansiosa;
mas se ela apenas se inclina,
para lá, para cá,
à vontade desse vento que ela nem sabe de onde vem, nem para onde vai, é apenas uma questão de sensibilidade, confiança, entrega total.
Isso é lá com a flor.
E comigo, também.
Porque, nessa manhã de bem e luz, a harmonia que me faz cantar assim é a paz de Deus reinando em mim!


Dever do Dia

Pára de lutar, queixar, acusar,
buscar razões, soluções,
em mil caminhos
que vão chegar ao nada,
como uma porta fechada
ao fim do corredor de cada tentativa.
Pára de buscar alternativas,
procurar explicações.
“Deixa o assunto com o Pai”,
que tem a força e a sabedoria
e confiante vai
fazer o teu “dever do dia”.
Levanta os olhos até onde
o olhar alcança
e vê quanta falta de paz e esperança:
campo branco a esperar por ti.
Começa por aqui. Ao teu redor
há um mundo de oportunidades
para exercer o amor.
Mas, se nem mesmo consegues te mover,
lembra que Deus habita no louvor:
pede, então, que derrame
em teu coração a sua alegria
que nossa força é:
e pela fé, aí mesmo
- onde só Deus é tua Companhia –
canta essa Alegria!
Esse pode ser
o teu dever do dia!
- ...amanhã?
- “Deixa o negócio com o Pai”!

segunda-feira, agosto 20, 2007

Um poema de Roberto E. Zwetsch

Salmo de Um Protestante

Pai Nosso,
somos filhos e filhas da Reforma,
mas andamos desgarrados, ausentes,
descompromissados, desiludidos até.
Onde ficou o espírito protestante
do movimento?
Perdeu-se na mesmice do tempo
ou se ocultou preventivamente?

Que evangelho é este que anunciamos?
Consolo barato ou desafio permanente?
Protesta contra nós, Senhor da Vida,
quem sabe alguém te escute,
e o espírito primeiro desate
o nó que asfixia a minha via.

Perdão, Senhor,
pela arrogância dos iluminados,
pela certeza dos piedosos,
pela leviandade dos despreocupados,
pela ciosa cautela dos fartos.
Ajuda-nos a buscar o Evangelho
da graça e da vida solidária.
Isso não é pouca coisa.
E ajuda-nos a viver com os olhos da justiça
e do amor.
Tem piedade de nós, Senhor!

Do livro: Vigília: Salmos para tempos de incertezas

sexta-feira, agosto 17, 2007

Um poema (tríptico) de Josué Ebenézer


TRÍPTICO DA VIDA

1

Se existe dom supremo, só pode vir de Deus.
E que nome ele recebe, senão algo sublime?
Amor! É o próprio Deus vendo os filhos seus
que foram alvo na Terra da ação que redime.

Esse dom sublime, em suprema excelência,
amor que brota de Deus e logo dele emana.
Pois só nele tal sentimento é parte da essência
que na terra aos homens une e todos irmana.

Ah, amor! Vens de Deus e para onde vais agora?
Se não ficas em mim, sinto o moer de uma dor.
Se não ficares comigo, Deus presente da aurora

ao por do sol de uma vida que se abre em flor!
Amor, amor! Sentirei longo pesar e, abatido,
prosseguirei meu caminhar, triste e sofrido...

2

Por quê? Por que estás abatida ó minha alma
e é triste o teu caminhar na face desta Terra?
Se o coração pede alívio e também a calma
em Deus encontras bálsamo que dor encerra.

Exercita-te naquela - que de todas as expressões
que o homem pode fazer -, o leva a se pôr em pé!
E que acende uma chama, brasa nos corações.
E que atende pelo nome; singelo nome de fé!

A fé é um remédio que levanta qualquer enfermo.
É força a animar o corpo e o coração cansado.
Que traz para o caminho o que se acha no ermo

e faz do oprimido um ser novo, revigorado.
A fé é alimento para sempre e todo instante
e na vida do crente se faz presença constante.

3

Além do amor e da fé, de que precisa o homem?
Que sentimento necessita para atravessar a vida?
Se os dias são frios, duros, áridos e já consomem
o que ele tem de melhor que é o motor de partida?

Então não fiques parado, esperando acontecer.
Quem sabe faz o tempo, faz a hora, e o momento.
A vida é pra ser vivida, tu nascestes para crescer.
A esperança é o motor que te põe em movimento.

Porque tens sonhos, caminhas; a estrada está aberta!
E a esperança que aninhas não está pra ti deserta.
É um oásis de vida, com sombra, água e amor.

Por isso desperta e prossiga com garra no coração.
Saboreie da árvore o fruto que tu vistes como flor.
E ao que achares no caminho, chame logo de irmão.

Fonte: www.josuebenezer.blogspot.com.

terça-feira, agosto 14, 2007

Moça, me dá uma Rosa! – Poema de M. B. França

Disponibilizamos aqui, para download, o famoso poema de Mário Barreto França, “Moça, me dá uma rosa!”, muito pedido pelos leitores. O poema é relativamente grande (4 páginas), e por isso não o publico diretamente nas páginas do site.

Para baixar o arquivo com o poema, [CLIQUE AQUI].

Dois poemas de Marcos Soler


Poemas de Marcos Soler, do livro Além do Rio (Editora Hosana, 2000)

Respostas de Deus

Na adversidade... O inimigo
o coração exaspera!
- Senti de perto o perigo
desejei a ele o castigo.
Clamei a Deus! Ele respondeu:
ESPERA!

O plano era tão lindo
persisti com tanta emoção!
Da minha vontade provindo.
Percebi quando: Só e findo!
Deus outrora respondera:
NÃO!

No caminho... mui tribulado
Pensei: A morte será o fim!
Clamei! Tens pra mim traçado
um caminho iluminado?
Com amor Ele respondeu:
SIM!



Os Ídolos

Feitos de barro,
bronze e madeira...
- Eu não entendo
deuses que morrem
numa fogueira!
Tapado nariz!
Nenhuma visão!
Boca sem fala!
Duvido que ouçam!
Que enganação!...

Estão inertes
todo momento.
- Queres ainda
curvar-se a eles
num juramento?

A esses ídolos
são semelhantes:
Seus construtores
e todos que neles
estão confiantes!

quinta-feira, agosto 09, 2007

Dois poemas de Brissos Lino



SALMO PRESENTE

Escuto. Mas o uivar dos lobos não me assusta.
Nem o rumor do vento
poque o meu olhar se me alonga
para os pastos verdejantes
e águas tranquilas.
O bardo onde vivo refrigera-me
(já nem sei o que sejam veredas errantes).
A lã de que sou vestido é branca,
e só de alegria o peito me salta
porque a mesa em que me sento é farta
e os meus inimigos se espantam comigo.


O céu de Auschwitz

Os gritos, o medo
a força da vida
nos barracões de Auschwitz
metralhadoras miram
corpos nús
homens e mulheres
velhos
crianças
quatro milhões de inocentes
no espanto da igualdade
russos, judeus e polacos
franceses e outros
metralha e “Zyclon B”
a besta nazi rumina
vinte mil mortes por dia
nas câmaras de Auschwitz
toneladas de cabelo
milhares de óculos
roupas
dentes postiços
brinquedos e chupetas
o stock ignominioso
da besta
satanás desmascarado
no carnaval carioca
da morte
…………………………………..
o céu é cinzento e húmido
hoje
em Auschwitz.

In “Salmo Presente”, IEC, Setúbal, 1996

domingo, agosto 05, 2007

Dois poemas de Caio Kaiel



Poema

Amar é escolher a dor que não se quer sentir.
É fechar os olhos enquanto se pode ver.
Tentar compreender,
quando tudo o que se quer é sentir e ver,
quando os olhos já não bastam para observar,
nem as palavras para dizer.

Nasce na entrega do que não se tem,
sobrevive na condição irrefutável do ser em estar junto.
É dádiva de Deus.
Acontece na procura pelo estar perdido
e existe enquanto estiver nos braços de Deus, seu inventor.
Não vem de nós mesmos.

Se amo, perco.
Pois na vida eu só tenho aquilo que deixo.


o-puro

Limpei minhas mãos nas coisas que perdi,
purifiquei meu coração nas coisas que me foram tiradas.
Não ter nada é o começo de ter alguma coisa.

www.caiokaiel.blogspot.com

*Nota do editor: A foto das flores é de minha autoria. Sempre que possível, tentarei postar mais fotos que venho tirando, as quais podem ser livremente copiadas e republicadas em qualquer lugar.

Um poema de Dária Glaucia


Ó minha Bíblia, ó livro precioso! Quando velha ficares, bem velhinha
e eu também envelhecer contigo,quando recordações de erros passados
e glórias e torturas e pecados...se projetarem diante dos meus olhos...
Quem me dará a mão na hora derradeira quando o passo falhar nessa fatal carreira?
Quem me trará de novo as energias moças quando o corpo e a alma estiverem sem forças?
E quem me dirá na hora extrema o verso derradeiro de um poema que me fez doce a peregrinação?
Oásis de consolo ou de esperança, bússola a apontar-me o norte,
arrimo, escudo, vida e segurança e o cajado apoiado ao qual irei ao vale da sombra da morte?
Tu, somente tu, ó minha Bíblia, abrir-me-ás as portas de ouro e jade por onde entrarei
no céu dos céus, e aqui na Terra, ficarás ó Bíblia para guiares outra alma como eu
para os portões da Luz, à Paz, à Vida, para a Imortalidade e para DEUS!


*Nota: A foto que ilustra este poema é de um Monumento à Bíblia, localizado no bairro Teixeira de Freitas, aqui em Niterói - RJ. O monumento foi inaugurado no Dia da Bíblia do ano passado (10 de Dezembro 2006) pela Igreja Assembléia de Deus em Teixeira de Freitas.
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