segunda-feira, abril 30, 2007

Dois poemas de J. T. Parreira

O BOM SAMARITANO

Tive fome de pão e puseste a minha mesa
numa toalha em linho
derramada
a sede, tive-a como um dia quente
a ondular entre os lábios
e a água
e ungiste meu corpo com um óleo
quando a noite oxidou as
minhas chagas
estive ao frio e teus vestidos coloriram
a palidez da
minha carne nua
e na tua cama inclinei os meus ouvidos
os teus móveis
abriram gavetas
para os meus cristais de chuva.


Poesia

Jesus, Nazareno, três dias morto
Entre lençóis com os aromas
Do seu corpo reúne o ar
A mirra e o aloés

Sua alma desceu ao fundo
Dos velhos mortos, esqueceu
O grito da multidão
E milhares de olhos judeus
Esqueceu as mãos inúteis de Pilatos
Cobrindo-se de água inútil

Três dias morto
Até ao romper da pedra da manhã
Apenas o silêncio
Dentro do seu coração
Um corpo apenas fechado em sossego

segunda-feira, abril 23, 2007

Dois poemas de Myrtes Matias

Agora

Se queres dar-me uma flor;
Dá-me antes que eu morra...

Se podes hoje fazer o milagre
De um sorriso num rosto que chora,
Não coloques flores sobre tumbas;
Se queres dar-me uma flor, faze-o agora.

Se podes dar um lar ao órfãozinho,
Abrigo ao pobre que geme lá fora,
Não encolhas a mão - Deus está vendo;
Se podes dar-me uma flor, faze-o agora.

Se conheces o Eterno Caminho
Que leva ao templo onde a alegria mora,
Não guardes, egoísta, o teu segredo;
Se podes dar-me uma flor, faze-o agora.

Se podes dizer uma frase linda
Algo que faça a tristeza ir embora,
Dize-a enquanto posso agradecer sorrindo;
Se podes dar-me uma flor, faze-o agora.

O que farei das orações, das flores
Quando do mundo eu já não mais for?
Aos pés de Deus eu as terei tão lindas
Que não precisarei do teu amor.

Não esperes o instante da partida:
Se podes me fazer feliz, faze-me agora.
Para que chorar de remorso e saudade?
Custa tão pouco a felicidade:
Dá-me uma flor antes que eu vá embora.


Escreve em Mim

Senhor, aqui está minha vida,
não como um documento já preparado
à espera da Tua rubrica.
Apenas uma folha de papel em branco
a ser preenchida com a vontade Tua,
com os planos Teus.
Por favor, Senhor,
pensa em minha insuficiência,
considera minha dificuldade de compreender
e escreve com tintas vivas, nítidas,
de tal maneira que me seja impossível
confundir ou duvidar.
Quero sair agora,
ainda hoje, se possível for,
a mostrar ao mundo o que escreveste em mim,
a provar aos homens que Tu és o Autor.

Que a mais simples criança possa ler-te em mim
e que o mais sábio dos homens possa reconhecer
em cada gesto meu
o traçado dos eternos dedos Teus.

Diante desse mundo que se desintegra,
desta sociedade que exige cada vez mais,
quem sou eu para escrever primeiro
e pedir depois a Tua aprovação?

Estende a mão que gravou no Sinai a Santa Lei,
que escreveu na areia uma mensagem até hoje desconhecida
e, para o bem do mundo,
para glória Tua,
para paz de minha alma,
escreve na folha em branco de papel que eu sou,
a palavra que és Tu mesmo:

AMOR!

terça-feira, abril 17, 2007

Companheiros de Vanguarda


Acima os poetas Joanyr de Oliveira (esquerda) e João Tomaz Parreira. Dois de nossos maiores poetas evangélicos, renovadores e incentivadores da Poesia Evangélica, no Brasil e em Portugal.

Dois poemas de Joanyr de Oliveira

Cantares – VI
(Doxologia)

A tessitura da flor
e a geometria das horas,
e o vôo tranqüilo e a água,
canção na boca da terra.

Linhas velhas da paisagem
de Deus também como o tempo,
sol inaugural e ervas
e os solilóquios do mar.

A navegação dos peixes,
os passos da tarde e as ondas,
bailado leve das nuvens,
palmas em verdes meneios.

A harpa e a clarineta,
os choros às brumas humanas,
rouxinóis a ungir o dia,
alvas palavras da paz.

De Deus a teia dos sonhos,
a harmonia das marés,
o beijo materno, o amor,
do ofendido o silêncio.

A insone cor de meus olhos
em canto fundo e secreto.
Meus púlpitos, minhas fugas
para o mundo das essências



A Oração

A oração é uma senda
- por ela sigo, vou longe.
Com ela toco e até movo
as nobres mãos de meu Deus.

A oração é uma nave
sem casco, timão ou remo.
Mas nada tão alto e célere,
e nada mais poderoso.

A oração: firme voz
remetida ao vero Rei
onde um trono perenal
se ergue mais que glorioso.

A oração é um ligame
singular, sem similares,
sempre pronto a reviver
quem cai no Vale da Morte.

A oração é um cantar
beijado por anjos ledos
a embalar as nossas vidas
nas áureas redes da paz.

Um poema de Dietrich Bonhoeffer



Wer Bin Ich? Quem Sou Eu?

Quem sou eu? Freqüentemente me dizem
Que saí da confinação da minha cela
De modo calmo, alegre, firme,
Como um cavalheiro da sua mansão.

Quem sou eu? Freqüentemente me dizem
Que falava com meus guardas
De modo livre, amistoso e claro
Como se fossem meus para comandar.
Quem sou eu? Dizem-me também
Que suportei os dias de infortúnio
De modo calmo, sorridente e alegre
Como quem está acostumado a vencer.

Sou, então, realmente tudo aquilo que os outros me dizem?
Ou sou apenas aquilo que sei acerca de mim mesmo?
Inquieto e saudoso e doente, como ave na gaiola,
Lutando pelo fôlego, como se houvesse mãos apertando minha garganta,
Ansiando por cores, por flores, pelas vozes das aves,
Sedento por palavras de bondade, de boa vizinhança
Conturbado na expectativa de grandes eventos,
Tremendo, impotente, por amigos a uma distância infinita,
Cansado e vazio ao orar, ao pensar, ao agir,
Desmaiando, e pronto para dizer adeus a tudo isto?

Quem sou eu? Este, ou o outro?
Sou uma pessoa hoje, e outra amanhã?
Sou as duas ao mesmo tempo? Um hipócrita diante dos outros,
E diante de mim, um fraco, desprezivelmente angustiado?
Ou há alguma coisa ainda em mim como exército derrotado,
Fugindo em debanda da vitória já alcançada?

Quem sou eu? Estas minhas perguntas zombam de mim na solidão.
Seja quem for eu, Tu sabes, ó Deus, que sou Teu!

Dietrich Bonhoeffer foi um grande teólogo protestante alemão, considerado um dos mais relevantes do século XX. Perseguido e aprisionado pelo nazismo, foi enviado a um campo de concentração, onde foi executado, já em fins da Segunda Guerra.
Para mais textos e informações sobre Bonhoeffer, visite:

http://www.sociedadebonhoeffer.org.br

quinta-feira, abril 12, 2007

Um poema de Myrtes Matias

Súplica de uma jovem

Dá-me, Senhor, ALGUÉM COMO DANIEL
Senhor, seria ingênuo e ridículo,
Se não fosse tão sincero o anseio.
Mas a quem buscar, com este coração sensível,

Este corpo frágil, e esta alma que sonha,
Se não a ti que me conheces,
Pois que me fizeste?
Quero amar alguém, Senhor, mas alguém

Que me ajude a chegar cada vez mais perto de Ti.
Reconheci que a felicidade é relativa,
E proporcional à proximidade Tua.

De que me aproveita ser admirada, querida
por alguém que não te conhece,
que não te reconhece como Senhor,
e amigo verdadeiro?

Quero ser para aquele que te peço,
Uma das demais coisas que lhe acrescentas,
Porque antes te buscou primeiro.
Quero um amor tão forte e duradouro

Como uma prova que de Ti desceu.
Capaz de compensar minha fragilidade,
Que, tendo como meta a eternidade,
Já na terra seja um pedaço de céu.
Não te peço um Davi de Miguel Ângelo,

Nem um César com poder na mão:
Peço-te um homem verdadeiro,
que eu possa chamar de "companheiro."
que antes de esposo seja meu irmão.

Quero alguém que eu admire tanto
E que saiba tanto se fazer amar,
Que eu não me importe de diminuir
Para fazer grande o comum porvir

Do qual eu me orgulhe de participar.
Quero-o de joelhos diante de Ti,
Mas de pé diante do mundo cruel.
Que nada tema senão te ofender,

Que nada busque senão Teu querer,
Nos dias de hoje, um outro Daniel !

sábado, abril 07, 2007

Dois poemas de Denilson Alayon dos Santos

O SENHOR REINA

O Senhor ordenou e tudo passou a existir,
Seu reino subsiste, eterno, acima dos céus,
O Senhor reina para as estrelas de brilho reluzente,
Reina, ostentoso, resplandecendo nas alturas celestes,
Reina, absoluto, em todos os espaços do universo,
Reina para os anjos que jubilam pelo seu amor,
Reina para os querubins que contemplam seu poder,
Reina observando a Terra com olhar piedoso,
Reina no solo fértil em que floresce a esperança,
Reina na flora abundante que exala seus perfumes,
Reina na fauna exuberante que louva seu esplendor,
Reina sobre as águas profundas dos oceanos,
Reina acima da superficie dos rios cristalinos,
Reina em todos os climas da face terrestre,
Reina na claridade que procede no horizonte,
Reina, lindo, no romper da aurora,
O Senhor reina com glória desde o princípio
e não cessa nunca...


SUAS MÃOS

Deus, Criador de todas as coisas,
Pela sua Palavra tudo se formou,
E suas mãos moldaram,
Suas mãos fizeram o universo que está encoberto de mistérios,
Suas mãos criaram cada pedaço dos céus, que é infinito,
Suas mãos formaram os montes e vales com plenitude,
Suas mãos separaram os rios dos mares com brilhantismo,
Suas mãos geraram vidas de todas as espécies, com afeto,
Suas mãos operam milagres com a grandeza de seu poder,
Suas mãos apontam o rumo verdadeiro a ser seguido,
Suas mãos modelam um coração puro com seu imenso amor,
Suas mãos enxugam as lágrimas nos dias ruins e consolam,
Suas mãos abrem o caminho da sua glória,
Suas mãos protegem, com um abraço, o viver,
Suas mãos tocam a alma com farta sensibilidade,
Suas mãos envolvem a existência e trazem sua presença,
Suas mãos são o sustentáculo inabalável sempre...

Fonte: www.emjesus.com.br
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