segunda-feira, abril 30, 2007

Dois poemas de J. T. Parreira

O BOM SAMARITANO

Tive fome de pão e puseste a minha mesa
numa toalha em linho
derramada
a sede, tive-a como um dia quente
a ondular entre os lábios
e a água
e ungiste meu corpo com um óleo
quando a noite oxidou as
minhas chagas
estive ao frio e teus vestidos coloriram
a palidez da
minha carne nua
e na tua cama inclinei os meus ouvidos
os teus móveis
abriram gavetas
para os meus cristais de chuva.


Poesia

Jesus, Nazareno, três dias morto
Entre lençóis com os aromas
Do seu corpo reúne o ar
A mirra e o aloés

Sua alma desceu ao fundo
Dos velhos mortos, esqueceu
O grito da multidão
E milhares de olhos judeus
Esqueceu as mãos inúteis de Pilatos
Cobrindo-se de água inútil

Três dias morto
Até ao romper da pedra da manhã
Apenas o silêncio
Dentro do seu coração
Um corpo apenas fechado em sossego

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...