quarta-feira, agosto 29, 2007

Dois poemas de J. T. Parreira



Salmo do Amor Interrompido

«Já ninguém nos molda com terra e com argila.»
Paul Celan


Agora o teu sopro espalha o nosso pó
abandonamos nossos mortos
com terra e argila e o sal
que vertemos pelas pupilas
Que nos adianta chorar?
O ímpio persegue o pobre
ódios são bombeados do coração
e o nosso grito, Senhor, está longe
e retorna aos nossos ouvidos
E és Tu, no entanto, o único
que compreende a nossa voz
o cheiro do nosso medo
no corpo escondido.


O Coração

(Para o Carlos Baptista,diretor de Novas de Alegria )

Carlos, os teus olhos saíram de cena
a tua sombra, também
a tua sombra que subiu
contigo para uma das ruas
do Céu, hão-de cair agora folhas
em branco do lugar
em que estavas sentado a procurar
a espiga, o fruto, das palavras
hão-de vir pássaros trazer
sementes invisíveis à tua porta
- mas tu estás noutro Lugar
sentado com os olhos
fixos na alegre passagem
do Cordeiro.

9-8-2007

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