domingo, setembro 21, 2025

Três poemas de José Cassais

 


PERSEVERANÇA

 

A verdade tem de ser tão simples
Como as estações que vem e vão,
Sem desapontar-nos nem uma vez;
No devido tempo, aqui elas estão.

A verdade tem de ser como a flor
Que se atira na terra como semente,
E, contendo em si a futura cor,
No seu tempo desabrocha, não mente.

Não deixemos nunca de buscá-la!
No coração a pedir e com as mãos a bater
Em sua porta, haveremos de encontrá-la.

Pois mais fiel e verdadeiro não há
Do que aquele que já nos fez saber:
Pedi, e recebereis; batei, e abrir-se-vos-á.

 

 

ORAÇÃO 2

 

Oh guia-me, Senhor,

Pois não sei como andar

Nesta escura floresta.

Se pretender conduzir-me

Sem a Tua ajuda, meus pés,

Certamente, me levarão por

Falsos caminhos,

Caminhos que conduzem

A lugar nenhum.

 

Porém, entrego a Ti a direção,

Clamo a Ti, estendo-te a mão,

Aspiro Tua doce presença.

E a caminhada, que ora inicia,

Já chegou ao fim.

 

 

PRESENÇA

 

Lendo o Salmo noventa, tive um vislumbre da glória do Senhor.
Ele habita em luz inacessível, no âmago da escuridão silenciosa;
Para Ele o universo entoa sua canção, e toda a vastidão do cosmos vibra,
Pulsa em cadências de fantásticas energias.
Há um ritmo de estrelas que se dissolvem num alento final de luz,
E emudecem, encerrando em seu ventre um poder tão grandioso
Que não podemos sequer imaginar.
Todas estas harmonias compõem a música na qual Ele se deleita.
O universo inteiro é o trono da Sua presença.
O Senhor santifica a imensidão,
Sua doce respiração percorre as alamedas vazias do universo;
Há uma palpitação de amor sustentando a morada das constelações.

Bom seria, ó Deus, navegar em ti,
Sobre as tuas asas mergulhar na escuridão,
Acompanhar um raio de luz prateada no seu périplo em teu reino.
Porém, Tu nos contemplas – a obra de tuas mãos!
Observas as nossas imperfeições, e não te agradas da nossa incapacidade.
Então, envias o teu filho, teu único e precioso filho,
Para que habite conosco, em nosso próprio espírito.
E, assim, santificados nesta presença, podemos, enfim, ser um contigo.

Posso sentir em meu espírito a palpitação das tuas grandezas;
Posso habitar em teu universo.
Senhor, Tu tens suportado a iniquidade dos homens,
Porém, o ruído da transgressão cessará, e a eternidade
E o júbilo infindo permanecerão.
Veremos face à face a tua maravilha. Ó perfeito gozo!
Para sempre o esposo e a esposa na eterna vibração do amor.


Leia muitos outros textos no blog do autor: https://enigmasbiblicos.blogspot.com/


terça-feira, setembro 09, 2025

Dois poemas de Evelyn Underhill

 


Confiando em Tua Palavra, ó Senhor, esperamos Teu Espírito.

Envia-o do santo céu, para santificar nosso coração, nosso íntimo,

que sem ele é vazio e informe.

Talvez nas profundezas de nosso ser haja segredos ocultos,

desejos e tendências que não ousamos reconhecer

             nem para nós mesmos.

Entra lá também.

Queima, purifica, transforma.

Não somos capazes por nós mesmos de nos amparar.

Esperamos em Ti.



Corpus Christi 


Vem, querido Coração!

Os campos estão brancos para a colheita: vem e vê

Como num espelho o mistério atemporal

Do amor, pelo qual nos alimentamos

De Deus, nosso pão de fato.

Dilacerado pelas foices, vê-lo compartilhar o sofrimento

Da Criação laboriosa: mutilada, desprezada,

Ainda por seus amantes o mais caro e valorizado

Porque por nós ele deposita sua beleza—

Último pedágio pago pela Perfeição por nossa perda!

Traça nestes campos sua Cruz eterna,

E sobre os feixes feridos a coroa da Vítima Imortal.


De horizontes distantes veio uma Voz que disse,

‘Vejam! Da mão da Morte, tome o seu pão de cada dia.’

Então eu, despertando, vi

Um esplendor queimando no coração das coisas:

A chama do amor vivo que ilumina a lei

Da morte mística que opera o nascimento místico.

Conheci a paixão paciente da terra,

Maternal, eterna, de onde brota

O Pão dos Anjos e a vida do homem.


Agora em cada lâmina

Eu, não mais cego, vejo

A glória do crescimento de Deus: sei que é

Um penhor do Plano Imemorial.

Sim, eu entendi

Como todas as coisas são uma grande oblação feita:

Ele em nossos altares, nós na terra do mundo.

Assim como este milho,

Nascido da Terra,

Somos arrancados do gramado;

Ceifados, moídos para moer,

Esmagados e atormentados nos Moinhos de Deus,

E oferecidos nas mãos da Vida, uma Eucaristia viva.


Evelyn Underhill (1875 - 1941), autora anglicana dos EUA, escreveu importantes obras sobre espiritualidade e misticismo cristão.


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