domingo, janeiro 12, 2014

Dois poemas de Kelvin Fernandes



Coroa Cruel

Não sei se plantado e cultivado, não sei se nascido
Mas ele estava lá observando toda aquela gritaria
Ressecado pelo sol causticante da helenizada Judá
As pontas que lhe eram características estavam afiadas
A areia do deserto árido permeava-lhe todo
A beira do caminho ali estava. Esperando a sua hora

Não sei se com faca, não sei com mãos calejadas
Mas ele foi arrancado e cuidadosamente amaneirado
Seus pequenos galhos envergaram-se sim
Formando com suas extremidades uma rústica coroa
Tirada a sua areia e batidas as suas sujeiras
Já não estava mais à espera, pois chegara a sua hora

O abrolho tinha agora uma fronte para acomodar-se
Inocente fronte de um homem que nada devia
Mas ele ajeitou-se sim, com a ajuda de um caniço
Já não era mais um figurante a beira do caminho
Agora coroava um Rei. O Rei dos reis.
Em vez de areia, agora havia sangue em suas pontas

O indelicado espinheiro começa sim, a martirizar o Rei
Aliado aos bofetões ele torturava o filho do homem
Anexado as agressões ali estava ele, no alto. Imponente
De espectador à participante do espetáculo em momentos
De observador à observado em instantes
Os espinhos antes ressecados agora estão regados de suor 

Todo rei necessita de coroa, mas esta foi cruel
Feriu o grande e nobre Rei. Torturou o bom Senhor
Mesclada aos seus cabelos ela ali permaneceu
Ouvindo as palavras que vivificaram os mortos pelo pecado
"Perdoa-lhes eles não sabem o que fazem"
Antes de o seu suspirar, ela atentou para frase "Está consumado".



Que Rei era esse? Que coroa foi essa?
O seu nome era Jesus Cristo. O maior Rei com a coroa mais dolorosa!

Texto base: "E os soldados o levaram dentro à sala, que é a da audiência, e convocaram toda a coorte.
E vestiram-no de púrpura, e tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça.
E começaram a saudá-lo, dizendo: Salve, Rei dos Judeus!" (Marcos 15:16-18)


Comprando a Prostituta

Vivendo uma vida de constantes e duradouros declínios.
Assim era eu, prostituindo-me dia após dia.
Com meus amantes desfrutava eu de todas as concupiscências.
Deitando-me em leitos de profunda idolatria.
Com as migalhas de pão e vinho acostumei-me a viver.
Com o rosto desfigurado e profundamente triste.

Esqueci-me das promessas de que um dia me casaria com Ele.
Afundando-me fui, em antros de prostituição.
Condenada fiquei. Adquirindo assim a "ira" d'Ele.
Cega em embaraços cautelosamente colocados diante de mim.
Não mais esperava esse tão prometido casamento real.
Fiquei à venda, a espera do primeiro que ousasse comprar-me.

Baal por várias vezes quis me comprar, mas não.
Ele jamais permitiu esta fajuta negociação.
Em silêncio Ele sempre me protegeu de todos os compradores.
Mesmo que eu não o desejasse mais, Ele ainda amava-me.
Em minha mente já não havia mais resquícios d'Ele.
Em meu corpo já não havia mais a sua marca.

Em minha visão terrena, limitada e pobre
Eu já não mais o desejava como em outros tempos.
Por mais que o espera-se eu não mais cria n'Ele.
Em momentos de rebeldia passei a esquecê-lo.
No submundo em que vivia estava eu condenada.
Condenada a prostituir-se, adoecer e por fim a morte.

Mas o meu comprador desceu. Ele veio.
Da pequena Belém-Efrata Ele surge em humildade.
Seu pai terreno, um simples carpinteiro que lhe ensina o ofício.
Quando menos percebo a negociação começa cruel.
Com açoites e tortura Ele decide então comprar-me.
Não com ouro, nem com prata. Mas com o seu próprio sangue.


Nem prostituta, nem simples mulher.
Hoje sou a sua noiva. "A Noiva do Cordeiro".


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