O autor Júnior Fernandes acaba de lançar sua nova obra, Trevas, Trovões e Trovas, pela editora Penalux. O livro possui 82 páginas e fina edição. Tivemos o prazer de prefaciar o livro, prefácio que reproduzimos abaixo.
O livro pode ser adquirido no site da editora, AQUI.
Você pode ainda comprá-lo diretamente com o autor, escrevendo para: jrfernandes1000@gmail.com
A secreta
tristeza de todo poeta é saber-se um exilado. É este leitmotiv que o fundamenta, e que, em moto contínuo, leva-o ao
papel e o elege/condena a “trágico herói do absurdo” tal qual Sísifo. Cordeiro
que vaga pela noite, o poeta é um estranho e mais, um estranhamento no ninho. Um furtivo enveredando por dimensões,
tateando pelas falhas em suas costuras, em busca de brechas por onde continuar
sua marcha de fugitivo e expedicionário. As dimensões são dimensões ou círculos
da noite, da humana dor: a noite de dentro, a noite sua; a impenitente noite do
mundo; e a noite sartreana, a noite (n)o outro. Um cordeiro-andarilho
desgarrado, em busca de um redil, de paz, equalização.
Afinal, independente
de sua concepção filosófica ou religiosa, de sua cosmovisão, o poeta é também um
pré-ciente da Queda: sua dor exacerbada é o documento a atestar que há algo
aprioristicamente errado com o homem; sua busca atávica pela beleza, seu anelo
instintivo por redenção é a certeza surda, lacônica de que algo foi perdido, de
que um dia expulsos fomos do Jardim.
Em Fernandes
a angústia do poeta une-se à angústia do filósofo, e sentimento e erudição,
fluição e cálculo interpenetram-se, estabelecem em conjunto filtros de
percepção, maneiras de ver e de ver-se dentre a noite escura, e de perseguir as
linhas de esperança semeadas pelo Cristo.
Sim, ele
sabe-se um Dâmocles sobre quem paira a espada da morte, a iminência do trágico
- trágico de certa forma já realizado na simples latência, na espera, no
cansativo spleen baudelariano, esse status da Queda que como um corvo solapa
os dias e noites do poeta.
Mas a noite
não o paralisa. E ele avança, em passos e versos, pelo deserto escuro qual
beduíno, intimorato mercador “de tudo aquilo que cabe na caixa de Pandora, no
inferno de Dante”. Porém seu avanço não é cego; ele apodera-se de sua dor e
caminha em direção à alba, ao alvorecer, a um porto e a um Guia, pois sabe que
“quando Cristo morreu, o homem encontrou a possibilidade de se reerguer.” Um
homem que, como Lázaro, ao som de um grito, ao som de um trovão rasga as
amarrações da noite e desfaz-se da mortalha, rompe com o ilusório, debanda da
caverna de Platão, e avança para Aquele que o chama, Aquele que chama.
Este Trevas, Trovões e Trovas marca o grato
advento de um poeta de esmerada dicção, de um filósofo que, numa noite
escura de sua alma, foi banhado pelo clarão transcendente, o mesmerizante
fulgor desta espécie de mística maior
que é a poesia e o seu exercício.
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