sábado, julho 29, 2017

Três poemas de Valdomiro Pires de Oliveira




SUBLIME PASTOR

O Senhor é o meu pastor
ainda com a despensa vazia,
com a previdência doentia
e a noite dizendo na janela:
está longe o novo dia!

O Senhor é o meu pastor
ainda quando as florestas
viram uma queimada só
e as águas de descanso
uma impureza que faz dó.

O Senhor é o meu pastor
ainda quando pelo vale
das usinas nucleares
uma sirene estridente 
anuncia dias intranqüilos.

O Senhor é o meu pastor
ainda quando a injustiça
corre palácios e tribunais,
condena pobres e trabalhadores
e inocenta poderosos e marginais. 

O Senhor é o meu Pastor
ainda quando a mesa farta
e o lucro sem precedente
são para os nossos bancos,
para as multinacionais,
não para a nossa gente. 

O Senhor é o meu Pastor
e a sua misericórdia me 
seguirá em todas as idades,
pelas catástrofes naturais 
e pelos perigos nas cidades. 

O Senhor é o meu sublime pastor!...



Testemunho

Eu ando tão só!
Perdido que nem sei!
Alguém ainda me ama?
Os bons amigos se foram
e esqueceram de voltar...
Sinto vontade de ir embora, 
mas pergunto: pra onde?
Que rumo tomar na vida?

Pelos caminhos 
machuquei pessoas, 
mas nenhuma vez 
feri alguém por querer.
Quando se trata do coração 
não dou conta: faço coisas 
boas que encantam, mas 
também erro, sofro e faço sofrer...
Acho até que algumas pessoas 
já se cansaram de me perdoar...

Tem hora que sinto vontade
de sentar na calçada e chorar,
chorar, chorar até amanhecer,
depois andar, andar até me perder.
Cachorro sem dono expiando
seus erros, pagando suas contas 
e perguntando: mereço recomeçar?
Espero que alguém ainda me veja, com 
os olhos de antes, e saia a me procurar.
É mais provável que alguém que já
foi tão perdido quanto eu me acolha
e me diga, com firmeza, o que devo fazer.
Hoje só uma coisa me serve de conforto: 
saber que Deus ama os perdidos.



Lava Senhor


Senhor, lava os meus pés:
precipitei alguns passos,
pisei quem não merecia,
andei por caminhos errados,
parei quando devia ter continuado,
deixei os meus pés me levarem para o pecado. 

Senhor, lava as minhas mãos:
toquei o que não devia,
fiz gestos que ofenderam,
feri quem já estava machucado,
perdi de tecer coisas do teu agrado,
deixei minhas mãos acariciarem o pecado.

Senhor, lava a minha boca:
Ofendi com palavras e palavrões,
contei o que era segredo,
expus as fraquezas alheias,
falei quando devia ter me calado,
deixei minha boca me chafurdar no pecado.

Senhor, lava o meu coração:
nele guardei coisas do mal 
cultivei raiva do meu irmão,
paixão pelo que é errado,
dei espaço às ervas daninhas,
e nunca aceitei que estava enganado.

Senhor, olha as minhas necessidades!
e faça das minhas mãos, dos meus pés,
da minha boca e do meu coração,
órgãos úteis ao teu Reino. Abençoados!...
E que eu viva para o teu louvor, 
para abençoar e ser abençoado!...


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