segunda-feira, janeiro 07, 2008
Dois poemas de Samuel Pinheiro
Poema
Os homens precisam do nosso suor
Mãos que confirmam
Deus na terra
Eu tenho fome de mãos assim
Mesmo Deus tem fome do suor salgado
das searas
das mãos nos celeiros
a morder a Fome
das mãos
a despir o frio
das crianças
das mãos semeadas nos jardins públicos
das mãos públicas abrindo o mar
das mãos andando na rua dos homens
empunhando a chama do Amor
plantando o sangue no asfalto
Há sepulcros a devorarem mãos
Há mãos a devorarem os sepulcros
(é destas que eu gosto)
É urgente inaugurar as mãos
inaugurando nas mãos
as charruas
Não enterrem as mãos amigos
nem as pendurem nos cabides do sono-Morte
nem mesmo ao Sábado
nem mesmo ao Domingo
Soltai-as ao vento
colando-as nas picaretas
negando os anjos-de-papelão
que trazem ao pescoço
e os santos-mecânicos
que trazem espetados na língua
São urgentes mãos
a multiplicar
mãos
as mãos que se gastam construindo-se
a
gastar
as pedras e os silêncios
É preciso mostrar aos homens
que há um modo de Viver-Vivo
Amigos falem
falem bem alto
mas com as mãos
sílabas de leite e mel
que
as mãos também falam
E importa sobretudo
que falem a linguagem do Sal e do Pão
distribuindo o suor de Deus
pelos homens
ARITMÉTICA VIVA
I CORÍNTIOS XIII
O Amor que se serve na bandeja das mãos
o Amor preciso nestas praças caladas
é a prova real
da Vida
(a
constante)
multiplicada pelo tamanho exacto da argila em que pousa.
(DEUS MEU
DÁ-ME MÃOS INFINITAMENTE ABERTAS
COMO INFINITAMENTE ABERTAS SÃO AS TUAS MÃOS).
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