segunda-feira, junho 20, 2011

Dois poemas de Jorge Pinheiro



prece


Senhor!
Não queria ser um Pedro
pregando às multidões
do que quer isto dizer?

Não queria ser um Paulo
de quem o fogo engordou
com a víbora que o mordera.

Não queria ser um Abrão
de Ur, lá longe, na Caldeia
ouvindo Teu chamado
seguindo o rumo
por Ti apontado.

Não queria ser um Moisés
levando Teu povo avante
enfrentando Faraó
com a mensagem
do Deixa sair meu povo.

Não queria ser um David
de mão forte e poderosa
que engrandeceu o Teu Reino.

Ah, Senhor!
Não sei de outro pedido
que este pedido me baila
e preso não se quer ver
na prisão do coração!

Senhor!
Queria ser a pedra do Decálogo
com a marca dos Teus dedos.

Queria ser a mão do Baptista
de dedos que tocaram
a Palavra da Vida.

Queria ser a talha de pedra
testemunha do Jesus-Elohim
como marca da nova ordem
que Tu inauguraste.

Queria ser a areia da praia
com o amor das Tuas palavras
chovendo
sobre o mar da humanidade.

Queria ser o chicote do Templo
usado em Tuas mãos
para escorraçar das mentes
o falso temor a Ti.

Queria ser o ar que Tu respiraste
quando predisseste de Jerusalém
quando multiplicaste os pães
quando viveste aqui
quando morreste por mim
qual momento sempre presente
do Teu amor insondável.

Queria ser todo Teu,
não na jactância ou com glória
mas na humildade
das coisas pequeninas
porque estão junto de Ti.





quando partires


Quando partires
não estarei só.
Fica comigo alguma coisa
que é tua
e não levaste.

Quando partires
não ficarei só.
No buraco da parede
permanece reflorido
o canto dos teus sonhos
em manhãs
que fazias plenas de magia.

Quando partires
não me deixarás só.
Teus passos soam pelo soalho
anunciando
o regresso quotidiano
da tua prece de esperança
mesmo quando te vestias
de desânimo
e prostração.

Quando partires
não me sentirei só.
A tua presença é viva
e forte
e não me dirás que encetaste a viagem
de onde
tu jamais regressarás.



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