Rubens
QUANDO CRISTO MORREU
Trevas,
trovões,
um céu negro e soturno
flechado por relâmpagos,
o silêncio sombrio e sepulcral da consumação
e a ausência de tudo, exceto da dor,
anunciara que o fim havia chegado.
Quando Cristo morreu,
o inferno por um momento regozijou-se.
Mas o espetáculo da crucificação
e a coroa de espinhos
não conseguiram impedir o triunfo da ressurreição.
Quando Cristo morreu,
o homem encontrou a possibilidade de se reerguer.
Teu formão desce sobre as imperfeições de minha alma sozinha;“Por quem os sinos dobram?”
O Teu não é um terrível trovão
na tempestade tenebrosa.
Quem bate à porta?
Ninguém.
O Teu não é um silêncio assustador.
Quem está no barco?
Ninguém.
O Teu não é o abandono no Getsêmani.
Quem caminha agora em Emaus?
Ninguém.
O Teu não é o cálice amargo que deve ser tomado;
O Teu não é o melhor que é incompreendido;
O Teu não é a graça que basta;
O Teu não...
QUANDO A NUVEM NEGRA CHORAR
Lá, na profundidade da altura da montanha,
os exilados se conhecem.
Um dia – dizem eles – a nuvem negra vai chorar
e veremos o abismo das rosas de ouro.
Enquanto isso lembram de seu mundo
como névoas esquecidas por aqueles que os rejeitaram.
À noite eles cantam:
– O mundo não existe,
somos felizes ao ver as estrelas testificarem a glória de Deus.
Quando avistarmos o jardim,
as rosas de ouro exalarão o perfume eterno.
O TEU NÃO
Teu formão desce sobre as imperfeições de minha alma sozinha;“Por quem os sinos dobram?”
O Teu não é um terrível trovão
na tempestade tenebrosa.
Quem bate à porta?
Ninguém.
O Teu não é um silêncio assustador.
Quem está no barco?
Ninguém.
O Teu não é o abandono no Getsêmani.
Quem caminha agora em Emaus?
Ninguém.
O Teu não é o cálice amargo que deve ser tomado;
O Teu não é o melhor que é incompreendido;
O Teu não é a graça que basta;
O Teu não...
TESTAMENTO
Se minha porção é a gota d’água,
trazida no bico de um colibri
para apagar o fogo infame da maldade,
Tua porção é regar o jardim da bondade,
que está sendo devassado por este fogo.
Tendo cada um o seu quinhão,
cabe-nos não neglicenciar o Espólio
deixado na cruz do calvário.
Júnior Fernandes é advogado e professor de filosofia. É autor de O Sofrimento dos Filósofos (Ed. Biblioteca 24 Horas). Os dois primeiros textos fazem parte do livro (inédito) Trevas, Trovões e Trovas: Escritos de uma noite escura.
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