quarta-feira, dezembro 30, 2015

Poema ao que sofre, de Joed Venturini


Ao Que Sofre

Aqui estou novamente olhando o céu
Outras vezes me encontras-te andando ao léu
Em meio à solidão, em meio à dor
Eu tento ver o teu amor
Então percebo que nunca foste embora

Tenho tentado ter vitórias, mas é fardo pesado

Reconheço que minhas glórias são coisa do passado
Teu Espirito ainda repousa em mim
Tua palavra mesmo o disse assim
Então porque me sinto tão desanimado?

No entanto, olho a cruz de dor e vejo tua tortura

E Tu crucificado ali em forçada postura
Recordo toda aquela maldição
O sofrimento, a vergonha, a perdição
Que Tu passaste para me dar vitória

Aquieto a alma e ouço Tua voz falando com dulçor
Como brisa suave que vem me aliviar a dor
Também tiveste uma hora de terrível escuridão
Mas logo veio o dia alegre da ressurreição
E Tu vences-te a morte
Percebo que o ar sufocante deste nosso mundo
Pode nos querer derrubar, levar ao fundo
Mas depois da tempestade o sol aparece
Enche o céu de brilho e nos aquece
Tal como tua paz eterna

O choro pode durar uma noite longa e penosa
mas a alegria virá pela manhã sempre radiosa
E aprendo a louvar em meio à dor
Em ti posso ser mais que vencedor
E celebrar a cada dia a Vida!


Sebastião! (o que todo pastor precisa)

A noticia chegou cedo numa manhã clara e fria
Durante a noite morrera o irmão Sebastião
O jovem pastor suspirou fundo do trabalho que antevia
Tinha que preparar o funeral, organizar a reunião

Era pastor há pouco tempo, seria seu segundo sepultamento
Conhecia mal a igreja, as pessoas, o falecido
Tinha dificuldade em pensar no que dizer naquele momento
Na verdade aquilo tudo o deixava aborrecido

Não sabia quem fora o tal Sebastião, de avançada idade
Era apenas mais um idoso que ostentara o título de crente
Aos olhos do pastor representava pouco na comunidade
Acreditava que o funeral arrastaria pouca bem gente

Mas eis a surpresa, o pequeno templo transbordou
Não cabia dentro todo o povo que queria entrar
As janelas se encheram logo que o interior lotou
Parecia que toda a cidadezinha queria participar

O pastor atônito ia ficando mais e mais nervoso
O velhinho que morrera era naturalmente estimado
Mas o que falar a respeito desse idoso
Desconhecido para ele, mas de tantos bem amado?

Bem na hora do funeral começar um ancião entrou
Todos o cumprimentaram com afeto e emoção
O pastor apesar de jovem logo reparou
Toda a alegria do povo, toda a comoção

O ancião chegado era da igreja o antigo pastor
Amado pelo povo, respeitado pela idade
De fala mansa, jeito humilde, respeitador
Ao jovem ministro se apresentou com gravidade

Fora pastor naquele local por mais de trinta anos
Conhecia bem aquele que agora morto, juntava a multidão
Não queria atrapalhar do nobre pastor os planos
Mas poderia dar uma palavra sobre o velho Sebastião?

O jovem pastor viu ali uma intervenção salvadora
Estava livre de uma difícil situação
Deu ao ancião o lugar e a palavra redentora
E quedou-se em silêncio e admiração

O pastor maduro liderou com simplicidade
Nada de pompa, nada de ostentação
Mas cada palavra transpirava sinceridade
Todos apreciavam com a devida gratidão

Sebastião foi um exemplo de vida, e de serviço
Dizia o ancião visivelmente emocionado
Sempre o conheci amigo leal e crente submisso
Pronto para o trabalho e para estar a nosso lado

Estava presente em cada culto e reunião
Mesmo cansado, doente ou com dificuldade
Podia-se ver sua dedicada consagração
Numa vida honesta e de integridade

Mas o que mais me marcou como pastor
O que tornou Sebastião tão querido e especial
Foi o gesto repetido sempre com fervor
E que mostrava um carinho todo paternal

Sebastião se chegava a mim muito gentil
No fim de cada culto ou atividade
Se inclinava com um gesto varonil
E cochichava em meu ouvido com gravidade

Necessita de mim para alguma coisa pastor?
Estou pronto para o que de mim precisar
Sabe que estou sempre a seu dispor
Basta dizer, pedir ou mesmo ordenar

E cada vez que dele algo solicitei
Prontamente o realizou com toda disposição
Desde o trabalho físico que precisei
Até viagens ou mesmo algum serão

No meu ministério ao longo da vida
Tive todo tipo de ovelhas ao meu cuidado
Umas me deram não pouca lida
Outras me trouxeram o coração atribulado

Mas Sebastião foi sempre motivo de louvor
Um servo de Deus pronto a servir
Enchia-nos a alma de dulçor
Permitia-nos um suave e descansado dormir

Por tudo isso nesse dia de saudade
Nos despedimos chorando mas com confiança
Sebastião deixou o mundo e sua maldade
Está hoje no céu, nossa alegre esperança

Louvamos por sua vida, por seu exemplo
Agradecemos a Deus por sua companhia
E se agora através de um véu contemplo
Logo o verei na glória cheio de alegria

Assim terminou o culto e a multidão dispersou
O caixão foi colocado em seu devido lugar
O pastor ancião à sua procedência voltou
O pastor jovem se colocou a meditar

Tão pouco sabia do velhinho que morrera
Tão grande fora sua rápida presunção
Que por não ser grande o personagem que falecera
Nada haveria para dele falar na reunião

Mas que verdade aprendera nessa oportunidade
Que lição tirara de todo o evento
Não se deve julgar com brevidade
O que se desconhece até o momento

E antes da noite terminar o jovem pastor
Pôs-se de joelhos em humilde oração
Clamou sincero ao seu grande Senhor
Põe em minha vida pelo menos um Sebastião.

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