VII 3.16
o espírito cheio de plumas
paira por sobre as sumas
teológicas
e mancha com seu amarelo ouro
o pseudo tesouro
e o palavrório
de são Ligório
o espírito cheio de fendas
vem sobre as lendas
como fumaça
e com soluços revela
no meio de uma favela
o olhar e a mão
vem santo espírito pomba
e arromba a nossa porta de ferro
desce do céu como pomba
sobre o meu berro
XVI 7.7
no fundo de tudo
no fundo de todos
só resta a resolução nunca tomada
de estender as mãos
e deixar
que elas se alonguem como palmeiras
até as praias
LXVIII 19.29
abandonemos as casas
para chegar à casa
e sejam bênçãos
os telhados e os jardins
não amamos os que amamos
transitórios e estranhos
quando os possuímos
a vida eterna
é transição
abre com sua argúcia
as portas da participação
LX 18.21
meu próximo começa no meu pé
ponte flutuante de transição
e da peregrinação
meu próximo começa no meu sorriso
reflexo necessário da alegria
na ambivalente melodia
meu próximo começa na minha boca
palavras comida e gosto
na floração do rosto
meu próximo começa na minha mão
carícia entre solidão e abismo
no companheirismo
meu próximo começa no meu corpo
solidariedade da carne e dos ossos atômicos
nos debruços anatômicos
meu próximo começa no meu sexo
direção vertiginosa do beijo e dos gens
num chafariz de bens
meu próximo começa no meu começo
Do livro Rastro de São Mateus (Sociedade Religiosa Edições Simpósio e UMESP, 1998).
Um comentário:
Filosofia linda de se curtir. Amei demais, cada frase, cada reflexão. Parabéns à autora! Que Deus a abençoe e a inspire ainda mais!
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