O
poeta e pastor presbiteriano chileno Luis Cruz-Villalobos publicou, recentemente, a edição em
português de seu livro Deus Mendigo - Teografias, cuja tradução ficou a cargo
de Flavia Romera e Jorge Barro. A edição é mais uma iniciativa da Hebel
Ediciones, uma casa plural e sem fins lucrativos que tem disponibilizado
excelente poesia latino-americana na rede, já de há algum tempo.
A
poesia de Luis é uma poesia de liberdades e metáforas; ao fotografar, ao teografar a divindade vestida de pó, ao fazer Deus descer ao
nível de cada um de nós, e mesmo dos menores, piores dentre os homens, o autor
traz à tona e celebra o Deus em nós, que criados fomos à sua imagem e semelhança. Sua
poesia e suas licenças, ainda que poéticas, podem não agradar a todos, e cremos mesmo que assim será; mas como editores não poderíamos nos furtar de
divulgar tal obra singular e repleta de humanidade.
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O DEUS-PARDAL
Se
Deus existisse
Nada
mudaria
Dizia
Sartre
Desde
a sua estrábica perspetiva
Mas
está claro
Que
o deus platónico
Ou
o aristotélico
Ou
o não-deus do príncipe Gautama
Ou
o Logos estoico
Ou
o de Spinoza
Enfim
Nada
poderiam mudar
Tal
como o deus deísta
Relojoeiro
louco
Palrador
distante
Impotente
por definição
Apático
por suprema excelência
Esse
Deus
Nada
Zero
à esquerda
Definitivamente
Sartre
estava certo
Nula
ajuda
Um
Deus frio e calculista
Impávido
Nada
Mas
não poderão negar jamais
Que
o Deus-pardal
O
Deus empobrecido
O
Deus apaixonado pela sua obra de arte
O
Deus louco de amor
O
Deus mártir
Este
e só este Deus
Muda
tudo
Tudo
deixa em desconstrução
Como
os átomos dançarinos.
ÓRFÃO E VIÚVA
A Ernesto Cardenal, por
exemplo
Contam
que Deus
O
mesmo que fez dançar
O
primeiro átomo de hidrogénio
E
que sabe o número
de
todos os sistemas de galáxias
Costuma
visitar os órfãos
E
as viúvas
Pela
noite
Sussurra-lhes
uma canção
Ao
ouvido
Beija-lhes
a testa
E
parte triste
Desejando
fazer-se carne
Fazer-se
pai/mãe palpável
Fazer-se
esposo/esposa visível
Mas
já não pode
É
outro o projeto
Por
ele
Parte
veloz
Como
vento espectral
A
sussurrar a mesma toada
Ao
ouvido daqueles que lhe têm
Um
amor extremado
Indiscriminado
Profundo
E
que estão e estiveram dispostos
A
ser os pais/mães/esposos/esposas
Dos
desolados da terra.
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