segunda-feira, novembro 18, 2019

Quatro poemas de Laura García de Lucas


Laura García de Lucas, com seu livro Vasija (Bilha) foi a grande vencedora do Primeiro Prêmio Rei David de Poesia Bíblica Iberoamericana, promovido na Espanha para autores de língua portuguesa e espanhola. O livro vencedor foi editado em edição bilíngue espanhol/português pela Sociedade Bíblica Espanhola. A tradução dos poemas ficou a cargo da portuguesa Leocádia Regalo.

Levítico 25: 8
Apenas tocas o ponto
em que a tarde se fragmenta
contarás sete semanas de anos
o áspero som
da pele com toque de peixe
sete vezes sete anos

2 Reis 4:13
O colostro deste amanhecer
a sua crueldade
encontra os olhos abertos
porque nada distingue
o sono da morte
eu habito no meio do meu povo
os lábios secam-se
varejam-se as camas
estão vazias
as bilhas da casa

Jeremias 19: 10
Racimo caído
do que apenas comem
os forasteiros
os frutos enlaçam-se
como letras em ordem
o som do não escrito
então quebrarás a bilha
a primeira colheita
o peso do que não se nomeia
diante dos homens

Cântico dos Cânticos 1: 3; 4:12; 4: 14; 2: 16
Água estancada és
fonte selada, fonte fechada
no grito dos corpos
és toda um ermo poço
no peso das sílabas
um óleo perfumado e derramado
porque habitam em ti seres imundos
porque habitam em ti seres infames
e em ti se aninha a lama
e é o nome
um vazio sem veias
entre os filhos do pai
e é o nome
uma fissura no barro
e todas as árvores de incenso
a secar ao fundo do pátio
és toda um ermo poço
és água estancada
jardim fechado, fonte selada
e nunca chega a pele nova
porque vivem em ti seres selados
a fria distância do não
o silêncio do caminho
que leva a mão à têmpora
sessenta vezes sete
a chamada do cordeiro
contra o céu da boca
porque habitam em ti águas sujas
porque se aninham em ti águas imundas
fonte fechada, fonte selada
ele apascenta entre os lírios
debaixo do quício da casa
a última dor antes da chuva

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