Gadareno
um sabor esquecido,
liberdade
luz sem sombras no lugar
dimensão que meus olhos
há muito
haviam perdido
ouvindo tua voz me chamar
agitou-se revoltosa a
legião
que me habitava
quando aos meus ouvidos
o céu
cantou os seus ritmos
minha loucura
subitamente se calou
pela manhã anunciei
sobre os montes
meu êxtase sem nenhuma
culpa
numa voz inofensiva
triunfante declarei
a humilhação de belzebu
sinto como nunca,
transições no real
num outono trêmulo,
ternuras anunciam
meu renascer
pétalas quentes,
perfumes no tempo
nunca mais perante o mar
sofrerei possessões
novas e puras sensações
me habitam
pelos cantos de mim
crescem em abundância
fragrâncias que jamais
perverterei
eu juro! prometo nunca
me desviar
pedras não clamarão por
mim, proclamarei
multiplicando assim esta
chama
num halo de gratidão
pelas vilas e vales, por
cidades e sertões
falarei das coisas que
me fez e de como teve
compaixão de mim —
recebi um perdão
que jamais eu ousaria
implorar
“tragada foi a morte
pela vitória”
não habito mais os túmulos, não me chamam
mais de louco
regressei, meus filhos
me reconhecem
a esposa me abraça e me
beija
novamente sou eu mesmo
novamente
consigo amar!
Oração de
um fragmentado
Senhor, por favor
me devolva pra mim
Me coloque de volta em meu lugar
Quero voltar pra casa
Eu tenho um lar
Há partes de mim por toda parte
Estou em fragmentos
E não sei me recompor
Preciso de Ti, Senhor
Faz parte de mim essa dependência
A autossuficiência não me cai bem
E além do mais, quem além de Ti
Me encontrará no lugar
Onde em pedaços me perdi?
Senhor, por favor
Me devolva pra mim
Meu anseio é profundo
E meu mundo deságua
Em um pranto sem fim
Numa água sem gosto
Sem cheiro e sem sal
O dia inteiro me sinto tão mal
E nada eu sinto, de tanto vazio
Que habita em silêncio
Por dentro e por fora
E só agora entendo o porquê
Que viver ao seu lado
Me ajuda a querer
Viver por inteiro aquilo que sou
Sem medo do tempo
Sem medo do fim
Por favor, meu Senhor
Me devolva pra mim
O
poeta e o vale de ossos secos
Poetiza
Sobre
o vale de ossos secos
Poetiza
Fala
o que Ele te mandou
Fala
em tom de profecia
Fala
com autoridade
Das
verdades recebidas
Através
dessa visão
Que
tiveste neste vale
Onde
existe apenas morte
Onde
nada nascerá
Onde
a esperança cessa
Se
ninguém poetizar
Poetiza
Com
a voz de amor do Céu
Poetiza
Sobre
os ossos esquecidos
Que
tão secos já estão
Mas
que podem se tornar
Gente
viva novamente
Vida
que do Céu virá
Se
você obedecendo
Ao
mandado lá do Alto
Hoje
aqui poetizar
Poetiza
filho, agora
Pois
mais tempo já não há
Poetiza
ao mundo todo
E
a vida voltará
APOCALIPSE
quando pequeno
me diziam que final de
tarde
com céu avermelhado
do jeito que está hoje
era sinal do apocalipse
chegando
daí eu saía correndo
me ajoelhava ao pé da
cama
e pedia perdão por todos
nós
até hoje isso funciona!
Confira o perfil do autor no Instagram: @renatosouzademelo
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