3 poemas
do livro YHVH
Do capítulo 10 5 6 5
O TESTEMUNHO DE DIMAS
O teu rosto emagrecido e sujo pendia,
uma varejeira grudou no sangue e suor
que escorria pela fronte perto do meio dia;
das feridas abertas subia forte odor
Dava para sentir trêmulas as pernas,
pés imóveis e os dedos se contorcendo
de dor, um denso rio de sangue das ternas
coxas aos joelhos unidos padecendo.
Tossiu sangue por duas vezes sufocando
enquanto arqueava suas costas no madeiro
de alto a baixo roçando a tez descarnada.
O outro, do lado extremo, assim blasfemava
insultando o Mestre derradeiro
aos berros, tal bode com a barba ensebada.
Os braços ensanguentados estendidos;
carnes rasgadas cozendo no mormaço.
Não há beleza na face, só cansaço
e ásperas feridas nos lábios fendidos.
Pulsos dilacerados pela ferrugem
dos cravos, e no ar o gosto de salsugem.
Ao olhar para o céu Ele orava reverente;
dos meus olhos caíram os véus de repente.
Meu Senhor, lembra-te de mim, quando entrares
no Teu Reino — pedi ao trocarmos olhares.
Hoje ainda estarás comigo no Paraíso —
respondeu com Sua palavra de salvação.
Entre a hora nona entregou Todo o juízo
a D'us; morreu para nos dar a redenção.
A coroa de espinhos na fronte cravada,
eu vi sua veste em jogo de azar lançada.
Há trevas sobre a terra, da cruz morte cruel,
o maldito profeta, o leproso de Israel
morreu nu, e na boca o gosto do vinagre
ficou. A tarde se converteu em milagre
enquanto chorava a mãe do Nazareno;
outras mulheres, com o rosto moreno,
também choravam aos pés do Rei Cordeiro.
Ele chegou antes e antes partiu herdeiro
do Reino, vitorioso em teu ministério.
Na cruz, crisálida aberta, foi mistério
revelado; do pecado é a taça amara.
Um soldado espetou teu ventre com vara;
para ver se morto Ele estava; verteram
sangue e água por todo o Monte da Caveira.
Foi na dura pele, lasca de madeira,
que nasceu a flor e o fruto da Romãzeira.
E logo depois, minhas pernas quebradas,
por outro romano, com armas arqueadas.
Mas foi como se nada sentisse ao ouvir voz
bendita, vibrando em mim. E perdoei o meu algoz.
Primeiro o abismo se abriu com sua escuridão,
de repente uma luz surgiu e gloriosa mão
puxou da matéria o meu espírito ao Jardim.
Como prometido ao Gan-Éden fui alçado,
junto a Cristo, o meu coração resignado.
Glórias e Aleluias cantam os anjos num festim!
Do capítulo
SOBRE A MAJESTADE DE YESHUA HA MASHIACH
I
A Majestade de Cristo está na pele
dos leopardos e jaguares, salpicada
em gloriosas rosetas e na revoada
dos flamingos em alaridos qu'impele
sopro divino, das águas o marejar
e nas praias do mundo, no cruzar dos ninhos
dos oceanos, pelas jubartes, golfinhos
baleias azuis e cachalotes no quebrar
frio das geleiras pelo dente dos narvais;
nosso unicórnio dos mares e a beluga,
entre céu e mar, em grandes batalhas navais.
E orcas na caça de um leão marinho em fuga,
também do Filho pertencem os arrebóis,
e a Tua majestade, vale mais que mil sóis.
Do capítulo O Vale dos Abortados
VI
Como Virgílio, Dante me guiou no Vale.
Almas, com a natureza defraudada,
surgiram em nossa longa caminhada;
vi o menino com a carne esquartejada,
pela própria mãe e com tua cruel companheira.
Pra onde vai toda essa gente sorrateira —
perguntei ao poeta — que comete tal ato?
Não imaginas o que o destino, de fato,
reserva; a fundura e a imundice do fosso
tenebroso pra essa gente destinada.
Passarão eras roendo da carne o próprio osso.
Ainda confessou o poeta, ao fim da jornada:
Se ilude quem crê que a dor é aliviada
com a morte, nem sempre é assim além vida.
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