quinta-feira, junho 21, 2007

Dois poemas de Joanyr de Oliveira


Do livro "Canção ao Filho do Homem", disponível na CPAD: www.cpad.com.br.


A estrela

A estrela macia vai flutuando
na vereda do céu, sobre o Oriente.
(Suas pontas de luz cantam na Altura,
seguem beijando a Terra.)
Vai de longe, do fundo do Universo,
rumo à vera humildade de Belém.

A estrela executa o seu ofício
de nobreza sem par,
afagando o bercinho improvisado
onde o bom Criador fez-se criatura.
Um corpo se constrói para o martírio
prestes a desabar sobre o madeiro.

A estrela se limita ao puro e excelso
que envolve o divo rosto do menino.
Ela não tem olhar nem pensamento
para o cantar do galo contra Pedro,
para o pesado sono dos discípulos,
para o vindouro sangue no Calvário.

A estrela só conhece a calma fronte
e o riso iluminado do pequeno
de amor inalcançável,
maior que o infinito,
pronto a envolver o coração escuro
na mais soturna vila deste mundo.

A estrela pisca alegre
e reflete o amor do Deus-menino.
Quanta ternura alcança o seu mister,
enquanto a Luz, no mundo acorrentado
na transgressão, atravessa o silêncio
e os abismos da Morte.

A estrela sussurra, amiga e leda,
maduros vaticínios de Isaías,
anúncios joaninos no deserto.
E Cristo a emergir de um manto infindo,
da manjedoura abençoa os que na Terra
a sede afogarão na Fonte Eterna.


Ao irmão sem terra

Ao Josué Sylvestre

Sei que não inculpas a Deus
pelo escuro abismo em tuas mãos.
A terra foi dada aos homens
- e o Senhor os bendiz e afaga
os generosos. E abomina
os que dobram os joelhos aos grãos
antes de semeá-los.

Pelos profetas e pelo Espírito
- em jubileus e anos sabáticos –
Deus pontificou a Israel
que a miséria é filha da injustiça
e o riso dos erguidos do pó,
a alegria dos frutos, dos molhos,
das corolas e semeaduras
fluem em rios de águas vivas
do coração do Altíssimo.

Os que usurpadores saltaram
sobre as ricas dádivas de Deus
- e as bodas dos pobres condenam
a mastigar as entranhas dos ventos –
são anátema. (Anátema! Anátema!)
Os que, enganosos, entronizam
seus tesouros em alturas maiores
que a do trono do Todo-poderoso
vão roer as vísceras do Dragão.
E como cães rasgarão nos dentes
as próprias orelhas mutiladas.

Meu irmão, que o pranto de teus filhos
e a dor do suor de teu rosto
jamais te coloquem nas antípodas
o inocente rosto de teu Deus.
O Senhor te apagará os gemidos
- e com pontas de fogo já marcou
os artesãos da injustiça.
O Deus de amor, certamente,
julgará os vivos e os mortos.

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