terça-feira, agosto 25, 2009

Um poema de José Julio de Azevedo

*
Gustave Doré


REVELAÇÃO

Houve um dia em que caminhava triste,
revendo trilhas antigas de minha alma.
Momento amargo em que
sentia não haver esperança,
pensava ser o caos a nossa herança.
Minha fé, vacilante como
uma luminária queimando
no entardecer, sob ventos,
era inútil e vazia
como um coração de cera.

Houve um dia, buscava a Resposta
Eu calava e ninguém parecia
perceber desespero e desamparo
de um jovem sem nome, caminhando
descalço em busca do horizonte.
Chegou a noite
e tentei esquecer de mim
observando, em lusco-fusco o teatro
que percorria nos sembrantes - tateante.
Como eu multiplicado,
cruzando o cenário do Absurdo.

Ele estava sempre comigo
e eu não o conhecia.
Dizia crer que existia em
algum lugar, algures, do Universo.
Mas não estava certo.
Se existir estaria há milhões de anos luz
de mim, pobre de mim.
Como podia ser meu amigo
ou ter misericórdia da humanidade?

Na verdade eu não sabia
desse Alguém que há muito
me espreitava .... parecia seguir de longe
às vezes tinha a sensação de estar perto,
porém invisível, sem afeto - Apenas ilusão?

Comia meu pão, bebia minha bebida,
lia meus livros, tragava meu cigarro,
escrevia versos, dançava no ritmo de
minha própria música
... Porém apenas o Nada não me saciava!
Voltei ao meu quarto
e no escuro tentava dormir
em busca de um sonho,
perseguindo uma pista.
Algo além de minha própria solidão.

Houve uma noite
que gravei no coração para todo sempre
- Óh! Glória! -
e que há de me acompanhar
pela eternidade.
Eu vinha daquele dia triste e vazio
- todos dormiam -
então eu percebi algo diferente
me tocando e ao tocar levava-me
ao extase que jamais havia percebido.
Era uma visitação que fazia vibrar
as fibras da minha alma, agora consolada.
O toque percorria meu corpo.

Alguém que veio de fora de mim mesmo!
Não uma visagem ou onírico delírio
Agora eu descobria ser real o parentesco
Semelhante àquela eterna Raça.
Ah! Doce revelação em ondas de ternura
indescritível - como a lavar, regenerar,
tocando a cabeça e penetrando
fundo a minha mente.
Ah! Banhando o coração na maravilhosa graça!

Não vi uma imagem!
Não recordo de nenhum sussuro em meus ouvidos
Era ele a quem chamamos DEUS
e que o Santo Evangelho nomina como AMOR!
Desde então essa Paz me consola e me ampara
em minha imperfeição e insuficiência.
Me perdoa e aceita como estou
fazendo-me ser o que verdadeiramente sou.
Certeza que nenhuma racionalização
pode tirar de mim
e à qual jamais renunciarei.

Aquela foi a primeira visitação
Intensa e suave.
Tudo mudou e nunca mais andei sozinho.
Meu coração antes vazio e frio
foi aquecido para sempre.

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