quinta-feira, dezembro 12, 2013

Dois poemas natalinos de Nelson de Godoy Costa



NATAL DE GUERRA E DE PAZ

Natal. E a criancinha de Belém
Volta a deitar-se novamente sobre a palha.
Pelo universo todo uma nuvem de bem
Suavemente se espalha.

O bombardeiro esfria seus motores.
Não sobe aos céus para atirar lá das alturas
Chuva de morte sobre a terra já molhada
Pelo chorar dos órfãos, das viúvas,
E pelo sangue dos soldados inocentes
Que marcham contrariados para o "front".

Dorme a metralhadora. A boca escancarada
Dos canhões emudece nesse dia.
Pelos campos juncados de cadáveres,
Sobre as cruzes que marcam sepulturas
Dorme um silêncio frio que apavora.

Soldados acampados ou no fundo da trincheira
Escrevem cartas tristes, soluçantes
À esposa, à filha, à mãe, à irmã, à companheira.

E enquanto a noite estende os braços doloridos
Toda crepe e viuvez sobre as frentes de guerra,
Ouve-se, triste, a voz dos soldados entoando,
Entre lágrimas quentes de emoção,
A melodia universal
Do hino de Natal:
“Noite de luz!”  “Noite de paz!”  “Noite feliz!”

No lar, a ausência encheu de um frio inconsolável.
A ausência dele, o filho... o irmão... o esposo... o pai...
O coração está com frio porque falta
O outro coração que pulsava e aquecia,
E agora que é varrido da rajada
Não pulsa mais dentro do peito, cai...

Bem de manhã vai começar, dura, a batalha...
Porém, enquanto é noite, a voz triste se espalha
Sobre os campos, cantando para a morte
O nascimento do Senhor da Vida:
“Noite de luz!”  “Noite de paz!”  “Noite feliz!”

               *   *   *

É mesmo, meu Jesus! Todo o sangue que inunda
O mundo horrivelmente ensanguentado
Podia ser poupado!

Bastava aos homens crer em ti!

O reino que fundaste é diferente
Dos reinos todos idealizados!
Porque o fundaste sobre o amor!

Permite que o Natal que vem, que o próximo Natal
Seja bem outro que o Natal de agora.
Lança as forças do bem contra as hordas do mal.
Enxuga os olhos tristes de quem chora.
E que o mundo festeje felicíssimo,
Nessa noite de paz, nessa noite feliz,
O Natal de Jesus!   O Natal de Jesus!



O BEIJO DA ESTRELA

Quando Jesus nasceu
No céu azul era uma noite esplendorosa!
Cheia de luz, e muito grande, e muito linda,
Luz que iria brilhar por muito tempo ainda,
Uma estrela majestosa
Apareceu.

Maior que as outras, mais brilhante, e revestida
De extraordinária alacridade,
Tinha, a correr nos céus uma cauda comprida
Que se ia perder no azul na imensidade.

E corria a cantar pelos céus, em fulgor,
Um cântico de luz.
Era um hino de paz, de alegria, de amor
Que dizia ter nascido o Salvador
Jesus, Cristo Jesus.

Uns pastores ouvindo o cântico da estrela,
Os olhos levantaram para vê-la,
Inebriados de luz e da estranha emoção.
E ao final desse cântico de glória
Ouviu-se pela terra um hino de vitória:
Jesus venceu a morte e trouxe a salvação!

A estrela pelos céus, em cânticos de luz
Suavemente seguia.
E, graciosa, a fulgir infinita alegria
Pairou sobre uma humilde estrebaria
Onde estava Jesus.

E, através dos espaços resplendentes
Atirou sobre a palha onde estava Jesus,
Onde Jesus dormia,
Um puríssimo, um longo, um celestial
Beijo de luz,
Que foi depois dos beijos de Maria
O mais suave dos beijos de alegria
Sobre a fronte divina de Jesus.

Do livro VIDA (Imprensa Metodista, 1952)


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