sexta-feira, março 29, 2013

A Despedida de Cristo, poema de Thiago Rocha



A Despedida de Cristo

Na noite silente e fria,
naquela sala vazia,
a fraterna companhia
alegre se congregou.
O dia tinha passado
de trabalho carregado.
O grupo estava cansado,
e, assim, logo, se assentou.

Disposta a mesa para a pátria festa,
O Mestre, estando ali, sentou-se à testa.

Sabendo perto a batalha
que o levaria à mortalha,
o Senhor toma a toalha
e água deita na bacia.
E, pelos servos passando,
seus pés cansados lavando,
um a um vai enxugando
com o pano que o cingia.

Quer o Senhor deixar-lhes, neste gesto,
o ensino claro do viver modesto.

“Compreendeis o que vos fiz?
Mestre e Senhor, cada um diz
que eu sou – expressão feliz,
pois correta e verdadeira.
Se os vossos pés eu lavei,
assim vós também fazei,
pois exemplo vos deixei,
servindo dessa maneira.”

Voltando à mesa, disse o Salvador:
“Um de vós há de ser meu traidor”.

Como lança ao coração,
a triste revelação
de que havia traição
a todos surpreendeu.
E os servos que se espantaram,
perplexos, se entreolharam
e ao Salvador perguntaram:
“Porventura serei eu?”

Mas o Mestre querido os sossegou,
pois o malvado logo revelou.

Então, naquele momento,
trazendo o seu grupo atento,
deu-lhe novo mandamento,
o mandamento do amor:
“Deveis sempre vos amar
uns aos outros, e mostrar
o sentimento sem par
que por vós teve o Senhor”.

“Amai-vos uns aos outros, eis a lei,
amai-vos como sempre eu vos amei”.

Depois, o tempo correu,
e o grupo se entristeceu
co’a nova que recebeu
de Cristo e sua paixão.
E Jesus, compadecido
do seu colégio querido,
p’ra vê-lo fortalecido,
levou-lhe a consolação:

“Não fique o vosso coração assim,
credes em Deus, crede também em mim”.

“Na casa do Pai de Amor,
onde não há mal nem dor,
há moradas de valor,
que ninguém pode contar.
É verdade, eu vos repito,
se não fora tão bonito,
eu vo-lo teria dito.
Vou preparar-vos lugar”.

“Depois de o preparar, eu voltarei,
e para o eterno lar vos levarei”.

Na hora negra que passa,
quando se vê a desgraça,
envolvendo qual fumaça
o nosso mundo pequeno,
nada de melhor existe,
para o ser aflito e triste,
que saber que Deus o assiste,
e que Cristo diz, sereno:

“Não fique o vosso coração assim,
credes em Deus, crede também em mim”.

“Na casa do Pai de Amor,
onde não há mal nem dor,
há moradas de valor,
que ninguém pode contar.
É verdade, eu vos repito,
se não fora tão bonito,
eu vo-lo teria dito.
Vou preparar-vos lugar”.

“Depois de o preparar, eu voltarei,
e para o eterno lar vos levarei”.

Do livro Águas de Descanso (1969)

Um comentário:

Velho Pescador disse...

Parabéns, meu irmão, pelas jóias que você nos oferece.
Poema maravilhoso.

Grande abraço
http://velhopescador.blogspot.com.br

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