A CALIGRAFIA
Com o dedo escrevia as linhas
que desenharam as estrelas
Com o dedo escrevia as linhas
que desenharam as estrelas
no chão escrevia com elas
um inigma, um retrato, uma declaração
de amor que faltava inventar
a paixão de perdoar.
Como o céu de verão que arde
sem perder do azul a compostura
escrevia no chão, a luz na treva
um salmo, uma jaula aberta
para no ar a ave se alongar
uma velha estrofe da lei do coração.
Foi tudo o que escreveu na vida
um inigma, um retrato, uma declaração
de amor que faltava inventar
a paixão de perdoar.
Como o céu de verão que arde
sem perder do azul a compostura
escrevia no chão, a luz na treva
um salmo, uma jaula aberta
para no ar a ave se alongar
uma velha estrofe da lei do coração.
Foi tudo o que escreveu na vida
um verso do Amor à sua altura.
18.01.2004
A ovelha perdida
Pastor, onde está a ovelha tresmalhada
ferida como um pássaro
que caiu do ninho, que se ergue
num balido apertado entre os espinhos
a confusa ovelha que segue o luar
espargido no chão
na ilusão da água
Que pode fazer uma ovelha sem rebanho
que perdeu o norte ao céu
senão errar, que pode a simples
fazer sob as nuvens
que cruzam o sol, senão baixar
os seus olhos para a tristeza
sob o infinito breu
Envia o coração com os teus ombros
prontos a romperem com firmeza
pelos vales oblíquos, que esperas, Pastor,
o fim da noite larga? Não deixes
que a próxima manhã que espelha o sol
desça e acorde sequer uma janela
e sem rebanho encontre a tua ovelha.
12-04-2003
NO JARDIM DO GETSÊMANI
Não foi sozinho para o Jardim
acompanhavam-nO as sombras
dormentes dos discípulos
Ele andava e parava
a cada rosa pontiaguda
como um espinho no chão
andava e parava
até recostar os seus joelhos
para uma oração que feriu
de morte os abismos da noite
«Pai, se queres, passa
de mim este cálice »
Espera-O uma coroa de espinhos
para secar o sangue
sobre a fronte, espera-o
a fome de um chicote
que as costas lhe há-de devorar
Aí, nunca os homens amaram
tão pouco
a própria vida.
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