Poderoso Discurso
A
tarde vai morrendo. O sol, agonizante,
Ensanguenta
inda o céu dos últimos clarões.
No
entanto, o Nazareno envolve, nesse instante,
Em
seu profundo olhar imensas multidões!
Desde
pela manhã, com seu Verbo possante,
Ele
sara e conforta enfermos corações.
Mas,
porque nesta vida a dor nos é constante,
A
fronte vem dobrar do povo, as aflições!
–
Não vês, lhe diz alguém, que estamos no deserto?
Despede
a multidão, que a noite já vem perto
E
só longe daqui se encontra algum recurso!...
–
Não despeço, diz Ele, e seria loucura...
Não
voltará vazio alguém que me procura.
E,
os pães multiplicando, encerrou seu discurso.
Minha Paz Vos Dou
(João 14.27)
Noite
profunda. Há luto pelo espaço.
A
terra, o céu, o mar, a natureza,
Parecem
confundir-se em negro abraço,
Num
abraço infinito de tristeza.
Sobre
o mar galileu, barca indefesa,
Conduz
alguns judeus no bojo escasso,
Os
quais jazem vencidos de fraqueza,
Na
cruel perspectiva de um fracasso.
Eis,
senão quando, um vulto assoma além!
Caminha
sobre o mar! Do barco, alguém
Solta
brados de medo e imprecações!
Calai-vos!
– diz Jesus – Que estais temendo?
Olhai,
sou vosso Mestre. E, assim dizendo,
Desce
a paz, sobre o barco, aos corações!...
MUNDO ETERNO
O
mundo além, "o porvir", é por nós ignorado:
Jaz
envolto em mistério, oculto, indescritível!
Mas
Deus, no Apocalipse, o descreve adornado
Em
pedrarias raras, como o pouso aprazível,
De
Cristo e seus remidos! E o Salvador dos crentes
Vai,
dali, governar todos os continentes!
Não
se sabe a extensão dessa pátria ignota,
Nem
eu a vou pintar nas tintas do meu verso.
Mesmo
que alguém falasse, como bom poliglota,
As
línguas conhecidas todas, do Universo,
Creio,
lhe faltaria à palavra, o vigor
Bastante,
a demonstrar, seu místico esplendor!!!
Dir-se-ia
tudo imerso em luz! Grande alvorada!
Que
a terra, o mar, o vento, os rios em cascata,
Os
extensos jardins, no bosque a passarada,
Tudo,
numa só voz, prorrompe em serenata,
Erguendo
ao Criador os mais puros louvores,
Que
enchem os corações de angelicais dulçores!
Ó
almas Imortais! Almas puras, serenas,
Que
buscais lenitivo à vossa eterna dor,
E
em delícias viveis, com louçãs falenas,
Girando
ao derredor duma encantada flor!
Recebei,
com Jesus, a vida em Deus, secreta,
Pois
somente em Jesus, nossa vida é completa!
Almas
que, nos momentos árduos da existência,
Desejais
encontrar um doce leniente,
E
na noite da vida andais, com diligência,
Procurando
o luar de um gesto sorridente,
No
Evangelho achareis clarões mais salutares,
Do
que a luz de um farol, na escuridão dos mares!
Do livro Inspirações do Ocaso (Imprensa Metodista, 1961).