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terça-feira, maio 10, 2022

JESUS, O NOSSO DEUS MISSIONÁRIO, artigo de Jefferson Magno Costa


Jefferson Magno Costa

     Plantar a semente de Vida Eterna nos corações; não impressionar-se com a aridez do solo, a agudeza das pedras, a altura das montanhas e a profundidade dos vales, o rigor do sol e a inclemência dos ventos e da chuva, é dever de todos nós, discípulos de Jesus; nós, que custamos a dor e o precioso sangue do Filho de Deus.
     Nosso Senhor Jesus Cristo é um Deus missionário. Ele veio ao mundo para resgatar a todos nós para Si. O pastor norte-americano D. T. Nils disse certa vez que o ato de evangelizar “é um mendigo contando a outro onde encontrar pão”. Conscientizados de que, como cristãos, nosso maior dever é falar do amor do Filho de Deus ao mundo inteiro, apresentaremos a seguir, como contribuição ao trabalho de Missões nas igrejas, alguns poemas de temática evangelístico-missionária.


SALMO
Murilo Mendes

Ó Tu que mandaste um serafim
purificar os lábios de Isaías com um carvão ardente,
limpa meu coração de todo desejo impuro.
Imprime em mim Tua cruz que desconhece limites.
Faze com que eu renegue a ciência do mundo.
Apaga em mim o encanto pelas conquistas do tempo.
Inspira-me para que eu possa inspirar os outros.
Digna-Te descer a todo instante na minha alma.
Cairão fábricas, palácios e choupanas;
cairão museus, teatros, bibliotecas,
os poetas e os falsos salvadores do mundo.
Mas um anjo de asas unindo o universo de ponta a ponta
levará Tuas palavras até o fim do mundo e por toda a eternidade.


POEMA LIDO NOS MEUS OLHOS
Jefferson Magno Costa

Outros antes de mim
empunhem armas e lutem,
arem a terra,
governem os povos,
busquem a imortalidade
na página, na pedra,
na carne, na tela,
no vento.
 Quanto a mim,
tentarei despertar nos homens
o pensar na vida eterna,
o desejar conhecê-la e possui-la,
estabelecer a necessária conversação
entre eles e Deus.
Ao sol, sob os ventos, semeando nos corações,
pelo Caminho Eterno irei,
questionando o amor, a morte e a vida
irei, rumo ao país da Perpétua Aurora.
E isto é tudo.


SÚPLICA
Emílio Moura

Os inquietados, os loucos, os que ainda
não Te descobriram, e os que nada compreendem,
os que pararam e os que jamais tentaram a grande jornada,
todos eles, Senhor, estão comigo neste momento.
Comigo estão todos os que perderam a grande partida.
Comigo estão, Senhor, todos os que Te deixaram
e os que não souberam amar-Te.
Comigo estão os que não Te amam nem Te compreendem,
os que te negam porque são felizes,
e os que te negam por que são infelizes.
Senhor, todos eles estão agora
na minha insônia e na minha desolação, como a presença
da morte está na máscara dos que nada esperam.
Matai-os em mim, Senhor.


CONFISSÃO
Benedita de Mello Amaral
(poetisa cega)

De cem ovelhas, cada qual mais branca,
apenas eu fui que saí fugida;
e feia e triste e desgarrada e manca,
hoje confesso que fiquei vencida.

Agradecendo a quem me deu guarida
e, quando pode, o meu gemido estanca,
prossigo ainda bendizendo a vida,
esperançosa, resoluta e franca.

Pastor do Céu que todo o bem promove!
Deixei-te perto e me perdi além!
É noite escura, relampeja, chove.

Vem compassivo procurar-me, vem!
Ao teu rebanho de noventa e nove,
deixa que eu volte a completar as cem!


quarta-feira, janeiro 18, 2012

A POETISA EVANGÉLICA PERNAMBUCANA ELIÚDE MARQUES E SUA "APOTEOSE AOS CAMPOS BRANCOS"


Eliúde Marques declamando poesia durante evento da Academia 
Evangélica de Letras do Brasil, em 2010

Jefferson Magno Costa

(Matéria escrita em 1984 para a seção Contato Poético da revista A Seara, periódico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus)


Campos brancos...
Imensos se estendem pelo universo
E mãos hirtas de desespero
Erguem o grito da última oportunidade.

Onde estão os ceifeiros?
Onde as mãos que protegem, abençoam,
Defendem, libertam, cultivam e salvam?

Campos brancos...
Frutos maduros apodrecem:
Na orgia, no vício, na incerteza, no caos
À espera dos ceifeiros que não chegam,
Que não ouvem os seus gritos submersos
Pela guerra, pelo crime
E por toda a violência e descrença
Nas máquinas e nos operários da paz.

Onde estão os ceifeiros?
Vinde hoje, vinde todos
Os tímidos adiáveis
Os fracos e os esforçados,
Os pobres e os abastados...
Há tanto espaço vazio
E os dos celeiros se escancaram
Num convite improrrogável,
Pois as sombras da grande noite
Já se projetam no mundo.

Ceifeiros, o Senhor da Seara vos pedirá conta
E pesará vosso gesto
Se quis dar-vos a força e vós enfraquecestes;
Se vos abriu a porta e lhe negaste ajuda;
Se vos entregou talentos e não fizestes o trabalho;
Se vos traçou Seu caminho e fostes por vosso atalho.

Despertai, trabalhadores da undécima hora,
Enchei as mãos vazias e multiplicai os celeiros,
Pois o Senhor se aproxima com soberania e glória
No Tribunal da justiça em julgamento final
Para a possessão da paz,
Numa apoteose aos campos
Que não branquejarão mais.

A geração dos novos poetas evangélicos tem muito o que aprender com aqueles que já cristalizaram seu talento no difícil oficio de lutar com as palavras para com elas produzir beleza.
É necessário àqueles que cultivam a poesia não se fecharem em uma escola, ou elegerem um determinado autor como único ponto de referência ou modelo na criação de suas poesias. Isto só estreitaria os horizontes, só bloquearia o conhecimento de outros nomes, de outros valores pertencentes à galeria dos bons poetas das literaturas de língua portuguesa.
Aqueles que se fecharam nos conceitos da escola da poesia atual, orgulhosa e auto-denominada de estritamente modernista, se não fosse o caráter eclético e aberto desta página (Contato Poético), não teriam a oportunidade de aprender com a experiência e o valor de conteúdo e estética dos trabalhos de uma poetisa como Eliúde Marques.
A autora do poema Apoteose aos Campos Brancos (que é também título de seu segundo livro) esteve visitando recentemente o Rio de Janeiro, quando participou do culto de abertura dos trabalhos comemorativos do Jubileu de Diamante da Assembleia de Deus em São Cristóvão, bairro da cidade do Rio.
Naquele momento histórico, e no histórico púlpito daquele templo, a conhecida poetisa pernambucana recitou seu poema Apoteose. Movida pelo Espírito do Senhor da Seara, a igreja recebeu, emocionada, a grandiosa mensagem poética magistralmente entregue por Eliúde Marques.
A autora de Primícias do Meu Jardim confessa sua grande admiração pela poesia de Mário Barreto França. Sabemos da influência que a obra desse poeta tem exercido sobre os evangélicos que amam a poesia, especialmente sobre os que costumam recitar poemas nos púlpitos das igrejas.
Aliás, a poetisa lamenta que os declamadores estejam se extinguindo entre nós: “Com muita tristeza tenho notado que até mesmo no Nordeste as moças e rapazes que declamavam se extinguiram. E com isso a poesia está, de um certo modo, se extinguindo. O nosso povo não a valoriza mais como a deveria valorizar. Isso não ocorria na minha época, quando eu era criança, quando eu era jovem. É com tristeza que constato que a poesia não está mais ocupando seu merecido lugar na igreja. Porém, precisamos incentivar os jovens a escrever poesias, pois só assim surgirão novos talentos...”
Em 1972 a CPAD publicou o primeiro livro de Eliúde Marques, Primícias do Meu Jardim. A tiragem de dez mil exemplares projetou o nome de Eliúde Marques entre as igrejas evangélicas pentecostais.
Naquela época sua poesia estava essencialmente marcada pelo estilo de Mário Barreto França: tom declamatório, vocabulário simples, versos correntios, métrica e rima regulares. São as marcas da escola condoreira (nome derivado de condor, aquele falcão solitário que constrói seu ninho nas imensas alturas dos Andes). Estas caractísticas marcaram o estilo da fase final da poesia romântica brasileira, cujo principal representante foi Castro Alves.
Com o passar dos anos, Eliúde Marques perfeiçoou seu estro, leu novos autores, diversificou seu repertório temático, e afastou-se das antíteses e hipérboles e do tom grandiloquente, puramente discursivo da poesia condoreira. Passou a escrever poemas descompromissados com as estreitezas das escolas conservadoras, e a praticar uma poesia cujo principal objetivo sera ser lida e estendida.
A obra de um poeta como Gióia Junior foi cuidadosamente lida por Eliúde Marques. Essa variação de modelos poéticos resultou no enriquecimento técnico dos trabalhos da poetisa. Após muitas leituras, estudos da Bíblia e do assunto missões, Eliúde sentiu-se madura o suficiente para produzir o material que compôs o seu segundo livro: Apoteose aos Campos Brancos, publicado pela CPAD em 1982. Este livro está saindo agora em segunda edição.
A poetisa Eliúde Marques é um dos grandes valores da poesia evangélica brasileira. Ela hoje prefere manter-se, poeticamente falando, em um território de equilíbrio diante do leitor: um tanto afastada de Mário Barreto França, e mais próxima do estilo de um Gióia Junior, mas sabendo que do outro lado está o primoroso, ultra-técnico e avançadíssimo Joanyr de Oliveira e a escola de poetas que têm afinado o seu estro pelo diapasão e os conselhos poético-doutrinários da seção de A Seara, Contato Poético, dirigida pelo Joanyr.

domingo, dezembro 12, 2010

UM POUCO DE POESIA À SOMBRA DO GÓLGOTA

.

Jefferson Magno Costa 


     O nascimento, o ministério, os ensinamentos, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo constituem o alicerce do cristianismo. Cristo não foi um líder a mais a fundar uma religião, mas o único que, com o seu sangue derramado na cruz do Calvário, abriu para a humanidade o único caminho que conduz ao Céu.

     No decorrer de quase dois mil anos, o cristianismo tem inspirado inumeráveis obras literárias. Por não querer cometer o pecado da prolixidade, reuni aqui tão-somente quatro poemas sobre o significado da morte de Jesus. 

     Dois deles foram escritos por poetas com quem eu tive o privilégio de conviver (Joanyr de Oliveira e Gióia Junior), servos de Deus que já partiram para encontrar-se com o Senhor Jesus, que lhes havia inspirado os mais belos poemas. Foram convocados para participar do encontro de poetas que já tem data marcada para acontecer no Céu, sob a liderança do sublime e inspiradíssimo salmista Davi. Esse é o encontro que eu jamais quero perder. 

     Entre esses poemas, inclui um soneto que escrevi em 1986 (naquela época, com vinte e poucos anos, eu era ingênuo o suficiente para cometer este e outros atentados contra a poesia).




SENHOR, EU VEJO

Joanyr de Oliveira



Com alguns pregos

trêmulos e um madeiro

pesado de angústias

e remorsos futuros
feriram-te, Cristo.
Hoje, Senhor, eu vejo.



Todo o peso do inferno

e a humana culpa

sobre ti desabaram

na extrema hora
da amarga colheita.
(Mas de plena vitória
sobre os braços da morte.) 
Hoje, Senhor, eu vejo.



E eu lá estava, Jesus,

nessa carga de fel

e de agudo silêncio.

Teus olhos em sangue
sobre mim pousaram.
As gotas da fronte
apagaram abismos
de minhas trevas.
Hoje, Senhor eu vejo.



Vera vida brotou

de tua morte, Cristo.

E as colunas da noite

mergulhadas em pânico
gotejaram seu medo.
Mesmo os céus rasgaram
as cortinas do azul.
Em teu corpo moído
as máguas e as dores
deste mundo insano,
deste mundo em pântanos,
deste mundo infame.
Hoje, Senhor, eu vejo.




RECONQUISTA UNIVERSAL NO GÓLGOTA

Jefferson Magno Costa



Prego e carne,

têmpora e espinho,

lábios, sede

e sangue



soerguidos em cruz:

por entre pedras,

trapos de véu,

tremores



e túmulos iluminados,

rasgam um caminho,

vertical e límpido.



Equilibram, pesam

e compram

horizontes reencontrados.




A GRANDEZA DO AMOR DIVINO

José de Abreu Albano



Amar é desejar o sofrimento,

E contentar-se só de ter sofrido,

Sem um suspiro vão, sem um gemido,

No mal mais doloroso e mais cruento.



É viver desta vida tão isento

E neste mundo enfim tão esquecido,

É por o seu cuidar num só sentido,

E todo o seu sentir num só tormento.



É viver qual humilde carpinteiro,

De rudes pescadores rodeado,

Caminhando ao suplício derradeiro.



É viver sem carinho nem agrado,

E ser enfim vendido por dinheiro,

E entre ladrões, morrer crucificado.




ENCONTRO

Gióia Júnior



No espaço

sem luz

um traço

seduz.



Reduz

cansaço,

conduz

meus passos.



E avisto

o espaço

em luz. 



– É Cristo

nos braços

da cruz!

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terça-feira, setembro 07, 2010

CARTA A UM POETA NO CÉU

*
Em 1996, a comunidade evangélica brasileira perdeu o grande poeta, radialista, deputado federal (por dois mandatos) e pastor batista, Gióia Júnior. Estive presente no seu culto fúnebre, e três dias após o seu sepultamento, escrevi esta carta que foi publicada em algumas revistas e jornais evangélicos:


"Caro amigo Gióia Júnior:

Agora que você não está mais entre nós, mas no céu, na região reservada ao descanso dos justos; agora que você usufrui da companhia de todos os grandes poetas de Deus,e com eles espera o grande dia da ressurreição final, só me resta escrever, apressadamente, algumas palavras em homenagem póstuma ao poeta que você foi. Apressadamente, sim, pois sei que em breve também raiará para mim a aurora do Dia Eterno. Aliás, fugaz e velozmente a vida passa para todos nós. Os que acham que terão muito tempo para chorar os seus mortos, brevemente serão chorados também. Muitos partem com os olhos ainda umedecidos das lágrimas que derramavam por alguém que havia partido pouco antes deles.

Nós já vamos pele vale um a um, entoaram aqueles dez cantores reunidos em torno do seu caixão, e sei que você, Gióia, com a imensa sensibilidade de que era dotado, muito se emocionaria se os tivesse ouvido, como eu os ouvi e me emocionei. Mas os seus ouvidos, agora para sempre surdos diante da dimensão de todos os sons terrestres, não mais puderam ouvi-los; nem o seu coração, para sempre paralisado diante de todas as emoções humanas, não mais estremeceu, emocionado.

Você passou, eu passarei, todos nós passaremos, mas a sua poesia ficará. Enquanto o coração de um pai ou de uma mãe bater apreensivo, tarde da noite, diante da demora de um filho ou de uma filha que ainda não voltou para casa, sempre haverá a esperança de que, a qualquer momento, a maçaneta da porta iniciará sua festiva canção do retorno. E todos os pais concordam e continuarão repetindo que:

Não há mais bela música

que o ruído da maçaneta da porta,

quando o meu filho volta para casa.

Volta da rua, da vasta noite,

da madrugada de estranhas vozes,

e o ruído da maçaneta,

e o gemer do trinco,

o bater da porta que novamente se fecha,

o tilintar inconfundível do molho de chaves

são um doce acalanto,

uma suave cantiga de ninar.

Só assim fecho os olhos;

Posso, afinal, dormir e descansar.

(Oração da maçaneta, trecho do poema)

Enquanto houver mulheres preparando a comida para o marido e os filhos, e envelhecendo na frente de fogões, sua poesia será lembrada. E quantas mães já não leram esse trecho do seu poema, achando que você o escreveu inspirado nelas?

Na frente do fogão, enquanto os filhos crescem,

vão sendo modelados pela vida e pelo tempo,

chegam e a beijam na testa,

e ela na frente do fogão,

chegam e dizem um “olá” distante,

e ela na frente do fogão,

chegam e não dizem nada,

e ela na frente do fogão,

porque a chama abraça o fundo da panela

para que o jantar fique pronto,

para que eles matem a fome

e cresçam mais e se afastem dela cada vez mais.

(Mulher na frente do fogão, trecho do poema)

Sua poesia só será esquecida quando Jesus deixar de ser a alegria dos homens. Mas nós sabemos que:

Nesta hora de incerteza,

de cansaço e de agonia;

nesta hora em que, de novo,

a guerra se prenuncia;

neste momento em que o povo

não tem rumo nem tem guia,

ó Jesus, agora e sempre,

Tu és a nossa alegria!

(Jesus, alegria dos homens, trecho do poema)

Quando todos os meninos pobres do mundo receberem o pão que os homens lhe roubaram, sua poesia será esquecida. Porém, no exato momento em que esta carta está sendo escrita, há um menino pobre (aliás, há milhões de meninos pobres) necessitando ouvir suas palavras de solidariedade e incentivo, Gióia:

Menino pobre do meu bairro, grita

para que escutem tua voz tremente,

amargurada, enfraquecida e aflita.

Pelos irmãos que dantes não gritaram,

clama nas ruas angustiosamente:

exige o pão que os homens te roubaram!

(Menino pobre, trecho do soneto)

O poeta grego Homero cantou na Ilíada a guerra entre gregos e troianos e a interferência dos falidos e extintos deuses do Olimpo. O italiano Dante Alighiere desceu ao Inferno nas asas da imaginação e, de lá, essas suas asas o levaram ao Paraíso; mas tudo não passou de uma Divina Comédia. O poeta português Luis Vaz de Camões cantou em Os Lusíadas as grandes rotas de navegação que interferiram no tracejamento do mapa do mundo moderno, e o poeta inglês John Milton, após mergulhar na cegueira absoluta, ditou para suas filhas o poema O Paraíso Perdido, e nele viu a tremenda rebelião de Satanás. E você, Gióia, preferiu cantar em seus poemas a vida e a situação das pessoas humildes, dos pobres, dos injustiçados que se amontoam na condição de desbrigados, famintos, doentes e esquecidos, abandonados ao pé da pirâmide social.

Agora que você está aí tão perto do coração de Deus; agora que você tornou-se um habitante da santa e felicíssima Jerusalém celestial, onde a juventude nunca envelhece, o amor nuca diminui, o contentamento não se interrompe nem a vida jamais se acaba; agora sabemos, Gióia, que você não mais contempla o rosto ensangüentado de Cristo, aquele Rosto sofredor, de olhar parado e enxuto, que você descreveu com tanta sensibilidade no seu poema Ó Rosto ensanguentado! (Leia todos esses maravilhosos poemas e muitos outros no livro Orações do Cotidiano, publicado pela Mundo Cristão).

E a própria morte, que para muitos é motivo de apreensão e medo, você não a temia. E até nos ensinou a não temê-la! Sim, porque para nós, que conhecemos a Cristo, morrer é finalmente alcançar a altíssima paz; é ser recebido por um cortejo de anjos; é ser saudado pelos clarins celestiais; é receber vestes resplandecentes, harpas e coroas de ouro; é nos tornarmos mais altos e mais belos que as estrelas, e passarmos a encher os espaços infinitos com melodias de gratidão e adoração a Deus.

E, para que todos nós aprendamos a não temer a morte, transcreverei aqui, caro poeta, este seu poema sobre a morte – última porta que se abrirá para nós, antes de embarcarmos e subirmos velozmente conduzidos pelo elevador de fogo de Deus, que nos transportará para a cobertura do Céu, com vistas para o infinito (devo esta belíssima metáfora ao meu amigo e irmão em Cristo Nelson Ned, a quem tive a honra de biografar):

Vem, doce morte, eu sei que não és o mistério

do sem fim, o pavor do escuro cemitério,

não és o vulto mau, a sombra horrenda e esguia

do cutelo fatal e da mão muito fria,

cujo afago cruel, implacável, glacial,

arrebata mães e rouba crianças...

E como és diferente!

És um sussurro manso,

um cântico de paz, um hino de descanso.

És o dia esperado em que os filhos da luz

poderão ver, afinal, o rosto de Jesus.

Leva-me pela mão, ó delicada irmã,

ao jardim multicor da Nova Canaã.

Irei como um menino, alegre, num transporte...

Minh’alma te deseja e diz:

“Vem, doce morte!”.

Até breve, poeta!

Jefferson Magno Costa 

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quinta-feira, julho 08, 2010

Oração a Hiroxima

*

ORAÇÃO A HIROXIMA
Clélia Inácio Mendes

a Kenji Takenchi, um menino
que a pediu a 6 de agosto
de 1945

1- Se costumais, homens
da terra,
dar asas a aves mortas,
se ouvis com prazer
seus fúnebres trinados,
se correis pelos campos
de sangue
com tochas acesas,
erguei uma “torre da
memória"
e esmagai sob
ela
vossos orgulhos.

2- Eu vejo, ó Hiroxima,
tuas crianças que
choram,
teus olhos vazios
prostrados no silêncio
e oro por ti.

3- Eu sinto, ó Hiroxima,
tua carne dilacerada
teu corpo desnudo
de sentido
e oro por ti.

4- Eu amparo, ó Hiroxima,
teus braços caídos.
Neles deponho
as lágrimas
que em ti se
cruzaram
... e oro por ti.

5- Eu hoje oro
Kenji-Shan
pelo fumo que
se eleva da
cripta
de tua mão,
por Toshin (teu
irmão) que te disse um
eterno adeus.Eu deponho nos
seus túmulos
as cinzas da
minha alma
e como epitáfio
as asas brancas da melodia que
esperaste ouvir
naquela manhã
escaldante
do mês de agosto
dum ano que jamais
findará em mim.

Em Portugal há atualmente excelentes poetas evangélicos. Nada de excepcional existe nisto, em se tratando de um país que reúne um dos mais ricos elencos de poetas antigos e modernos, entre todos os que estão hoje em atuação na moderna literatura dos países europeus. Haja vista o fato de a genial romancista belga de língua francesa Marquerite Yourcenar, a primeria mulher a entrar para a Academia Francesa de Letras, e autora, entre outros títulos, do sublime livro Memórias de Adriano, ter-se esforçado para aprender o português só para ler os poetas da modernidade portuguesa, conforme ela mesma declarou. Portugal deu ao mundo um Camões e um Fernando Pessoa, além de outros gênios na poesia e em vários outros gêneros literários.
Entre os atuais poetas evangélicos, a poetisa portuguesa Clélia Inácio Mendes ocupa uma das primeiras posições.
Ao publicar, em 1985, sua Oração a Hiroxima, Clélia nos legou um dos mais belos poemas já produzidos por uma poetisa evangélica de expressão portuguesa. Eis o que a levou a escrever o poema: “Escrevi essa oração-poema ao ler uma obra intitulada Testemunhos de Jovens e Crianças de Hiroxima, uma coletânea de declarações feitas em escolas e colégios do Japão. Reparei com os olhos e a mente na frase de um menino (Kenji Takenchi), que disse: ‘Gostaria que naquela manhã alguém tivesse feito uma oração para Hiroxima’. Isso na realidade me tocou, e quis fosse eu quem orasse pela cidade-mártir”.
Quem tem o dom da poesia e costuma exercitá-lo sabe que não há hora marcada para o aparecimento do poema. A inspiração pode surgir a qualquer momento, no decorrer ou no final de uma leitura (como no caso de Clélia), durante um passeio, na contemplação de um amanhecer ou de um anoitecer, durante uma conversa, ou ao ouvirmos o simples rumor da passagem do vento pela folhagem das árvores. (Sobre a passagem do vento, o genial Fernando Pessoa escreveu, dentro de um dos seus poemas assinados pelo heterônimo Alberto Caeiro, estes versos belíssimos:
..........................................................
Outras vezes ouço passar o vento,
e acho que só para ouvir passar o vento
vale a pena ter nascido.
..........................................................
Em sua Oração a Hiroxima, Clélia soube tirar proveito das técnicas modernas de tessitura poética. Ela sabe que o poema pode crescer em riqueza expressional se for construído valorizando-se até os espaços em branco, o que o torna múltiplo de sentidos nas entrelinhas. Por exemplo: na primeira estrofe, que começa com o verso: Se costumais, homens, e termina em vossos orgulhos, há versos constituídos de um só vocábulo ou de expressões isoladas: da terra, de sangue, memória, e ela. Numa análise literária simples, despretensiosa, vejamos quais foram os efeitos produzidos por essa técnica.
Clélia poderia ter iniciado o seu poema escrevendo: Se costumais, homens da terra, mas não o fez. Ela valorizou a expressão “homens da terra” dividindo-a e isolando o termo “da terra”, que forma o verso seguinte. Em se tratando de uma oração, temos de considerar o posicionamento diametralmente oposto entre os planos humano e o divino, entre aquele que suplica e Aquele que ouve, entre os homens e Deus. Os homens que costumam dar asas a aves mortas, e ouvir com prazer seus fúnebres trinados, são homens da terra. Eis a importância do verso da terra ter sido deslocado para baixo e ficado isolado. A mesma técnica foi empregada com relação a campos de sangue e torre da memória. O último verso da primeira estrofe (vossos orgulhos) surge “esmagado” sob a “torre da memória dos homens”.
A colocação e repetição do verso e oro por ti, no final da 2ª., 3ª. e 4ª. estrofes foi outro importante recurso utilizado por Clélia. Porém, o ponto alto do poema está na 5ª. estrofe. Para o leitor habituado a ler poesia, é fácil visualizar nos versos pelo fumo que/ se eleva/da cripta/ de tua mão/, a própria mão de Kenji-Shan estendida e aberta sobre o chão, calcinada, fumegante. Isto nos faz lembrar um poema do gigantesco poeta chileno Pablo Neruda, sua Ode ao Átomo. Diz ele, descrevendo os efeitos da bomba nuclear lançada sobre Hiroxima:


Despertamos.
A aurora se havia consumido.
Todos os pássaros caíram calcinados.
(...) O ar incendiado se ergueu,
e a morte avançou em ondas paralelas
alcançando a mãe adormecida
com o seu filhinho,
o pescador do rio
e os peixes,
a padaria
e os pães,
o engenheiro
e seus edifícios.
(...) Os homens
viram-se de súbito leprosos,
pegavam
na mão de seus filhos
e a pequena mão
se desprendia em suas mãos (...)


Todo poema tem seu ritmo, sua velocidade. Clélia Inácio Mendes termina seu poema em um crescendo de emoção, fazendo uso de um ritmo angustiado, veloz, suplicante. Oração a Hiroxima é um dos mais belos e tocantes poemas produzidos por um cristão-evangélico em língua portuguesa.

Jefferson Magno Costa

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domingo, junho 20, 2010

VOZES CELESTIAIS DA POESIA CRISTÃ DE LÍNGUA PORTUGUESA I - Jefferson Magno Costa

*

Jefferson Magno Costa

CANTO SOBRE AS ÁGUAS DA ILHA
José Santiago Naud

 

Eu, poeta, profeta, biógrafo de Jesus Cristo,
João,
Quero dizer aos homens
Como o mar se espraia na ilha,
E é linda a moldura do céu sobre os rochedos.

Eu, solitário, homem hebreu, peregrino,
Boanerges,
Quero contar às mulheres
Como o trovão é doce,
E é delícia o caminho que o raio traça nos céus.


Eu, habitante de Patmos, homem ancião, vidente,
Apóstolo,
Quero suplicar às crianças
Como as crianças são,
E pedir-lhes a conservação de sua humildade sem véus.


Eu que sou todos, dentro do amor que sofro,
E sou sábio, sob a luz do Paracleto,
E sou santo, pelo sangue de Cristo,
Quero dizer que não vos desespereis,
Homens de rede sem peixe,
E que compreendais o vento,
navegantes sem rumo,
E que vos perdoo doentes,
ao me arrancardes da ilha,
Para que gema convosco.


Eu, João Boanerges Apóstolo, biógrafo
de Jesus Cristo.



CANTARES VII
(Filha do Rei)
Joanyr de Oliveira


Os teus passos, filha do Rei,
acariciam a face translúcida
do dia; os caminhos, os campos.



Teu andar se harmoniza
com o mar e os pássaros,
em louvações perfeitas.

O imaculado corpo, teu corpo,
Estende-se ao longo da paisagem,
bendizendo os ofícios do Sol.


Nas têmporas do monte,
teus olhos equilibram as águas
construídas em meigo azul.


Ramos ataviam as alturas.
A cabeça nívea, serena.
A cabeleira flutuante no tempo.

O esquio porte, de palmeira.
Espargem teus cachos na Terra
taças de unções indizíveis.

Tens aroma – que estremecem e inebriam
as várias colunas da noite,
porque beijas o soluço e a dor

e os transmudas em flores.
Bem-aventurados teus filhos,
ó vero amor de delícias!

Sobre as piscinas de Hesbom,
deslizando as saudades antigas,
mosto de romãs, perfumes.

Bem-aventuradas tuas sandálias
sob a altiva torre do Líbano
e as frontes iluminadas do Eterno!


    No dia em que o primeiro homem ergueu o seu olhar para o céu e entoou um hino de louvor e agradecimento a Deus, nasceu a Poesia Religiosa. Era a mais bela e sublime poesia jamais brotada de lábios humanos. Depois Abel ofereceu a Deus as primícias dos seus rebanhos, acompanhadas de orações tão puras quanto o seu coração; os patriarcas registraram o relato de suas grandiosas peregrinações, os cânticos de Moisés e os Salmos de Davi foram ouvidos, e a harpa sagrada dos profetas ressoou, revelando os desígnios de Deus e inundando de beleza e majestade as páginas da Bíblia.
    Trazer uma mensagem nova (as Boas Novas) em linguagem contemporânea sem perder, contudo, o tom grandioso, inspirado e ungido dos poetas bíblicos, deve ser o objetivo de todos os que almejam propagar e enaltecer o nome de Cristo através da poesia evangélica.
    Os poetas evangélicos José Santiago Naud e Joanyr de Oliveira conseguiram alcançar em seus poemas um alto nível técnico e inspiracional.
    Há no poema de José Santiago Naud, Canto sobre as águas da ilha, uma tonalidade de céu e mar, uma amplitude e um ritmo que o aproxima da grandiosidade de muitas passagens bíblicas - aquele mesmo tom majestoso e grandiloquente que caracterizou o estilo do profeta Isaías e do apóstolo João.
    Há no poema de Joanyr de Oliveira, Filha do Rei, uma cadência suave, um fluir musical que nos faz lembrar o próprio caminhar leve e majestoso de princesa. Joanyr debruçou-se sobre a mesma fonte lírica (as pessoas, os costumes e a geografia da Palestina) de onde Salomão retirou os substratos para escrever o livro de Cantares (o  Cântico dos Cânticos).
    Mar, pássaros e campos se entremesclam com palmeiras, sandálias, piscinas de Hesbom e torres do Líbano. Joanyr (o meu grande amigo e confrade Joanyr, ex-companheiro de trabalho e um dos nossos maiores modelos de poeta exímio, que em dezembro último
partiu para encontrar-se e viver eternamente na companhia do Rei dos reis, e a quem estou devendo uma crônica neste blog) alcança uma plenitude lírica que o aproxima do gigantesco e universal poeta chileno Pablo Neruda, um dos cinco maiores poetas modernos da América Latina.
    No seu poema O Cântico Repartido (como em grande parte de sua vasta obra poética), Neruda usa elementos líricos extraídos da geografia de seu país. Eis um pequeno trecho do seu poema como exemplo:


Entre a cordilheira
e o mar do Chile
escrevo.

A cordilheira branca.
O mar cor de selva.

Regressei de minhas viagens com novos orvalhos.
E o vento.
Hoje entre mar e neve
e terra minha
eu depus os dons
que recolhi no mundo.

Eu regressei repleto
de uvas e cereais.

 

    Que os poetas evangélicos da atualidade acumulem uma atenta e vasta leitura das obras dos grandes poetas da língua portuguesa e de outras línguas, nomes que encabeçam as diversas listas de autores das literaturas antigas e modernas. 
    Que os poetas evangélicos não escrevam os seus poemas tão-somente impulsionados pela inspiração. Que sejam artesãos da palavra, operários habilidosos no difícil ofício de escrever poemas. Que conheçam e façam uso dos diversos recursos técnicos com os quais podem aprimorar suas composições.  
    Que sejam dotados de uma ampla perspectiva temático-poética, para que possam expressar poeticamente os temas de interesse do povo evangélico (fé, amor, gratidão a Deus, desafios existenciais, atitude diante da morte, esperança de vida eterna, e outros), e não meros poetas voltados para si mesmos, que só sabem expressar mediocremente suas frustrações, mágoas, dor de cotovelo. 
    Que tenham consciência de que escrever poemas é uma arte, e ser verdadeiramente um poeta evangélico é uma honra, um imenso compromisso assumido diante de Deus. Um ministério. 
    Portanto, meu conselho aos poetas evangélicos da atualidade é que não escrevam seus poemas confiantes e tão-somente movidos pela inspiração. Pois o produto final desta não passa, muitas vezes, de um atestado de incultura.

Jefferson Magno Costa
Visite o blog do autor:  http://jeffersonmagnocosta.blogspot.com/
 
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