terça-feira, outubro 31, 2023

Três poemas de Mateus Ma'ch'adö

 


3 poemas do livro YHVH

 

Do capítulo 10 5 6 5

 

O TESTEMUNHO DE DIMAS

 

O teu rosto emagrecido e sujo pendia,

uma varejeira grudou no sangue e suor

que escorria pela fronte perto do meio dia;

das feridas abertas subia forte odor

 

Dava para sentir trêmulas as pernas,

pés imóveis e os dedos se contorcendo

de dor, um denso rio de sangue das ternas

coxas aos joelhos unidos padecendo.

 

Tossiu sangue por duas vezes sufocando

enquanto arqueava suas costas no madeiro

de alto a baixo roçando a tez descarnada.

 

O outro, do lado extremo, assim blasfemava

insultando o Mestre derradeiro

aos berros, tal bode com a barba ensebada.

 

Os braços ensanguentados estendidos;

carnes rasgadas cozendo no mormaço.

Não há beleza na face, só cansaço

e ásperas feridas nos lábios fendidos.

 

Pulsos dilacerados pela ferrugem

dos cravos, e no ar o gosto de salsugem.

Ao olhar para o céu Ele orava reverente;

dos meus olhos caíram os véus de repente.

 

Meu Senhor, lembra-te de mim, quando entrares

no Teu Reino — pedi ao trocarmos olhares.

Hoje ainda estarás comigo no Paraíso —

 

respondeu com Sua palavra de salvação.

Entre a hora nona entregou Todo o juízo

a D'us; morreu para nos dar a redenção.

 

A coroa de espinhos na fronte cravada,

eu vi sua veste em jogo de azar lançada.

Há trevas sobre a terra, da cruz morte cruel,

o maldito profeta, o leproso de Israel

 

morreu nu, e na boca o gosto do vinagre

ficou. A tarde se converteu em milagre

enquanto chorava a mãe do Nazareno;

outras mulheres, com o rosto moreno,

 

também choravam aos pés do Rei Cordeiro.

Ele chegou antes e antes partiu herdeiro

do Reino, vitorioso em teu ministério.

 

Na cruz, crisálida aberta, foi mistério

revelado; do pecado é a taça amara.

Um soldado espetou teu ventre com vara;

 

para ver se morto Ele estava; verteram

sangue e água por todo o Monte da Caveira.

Foi na dura pele, lasca de madeira,

que nasceu a flor e o fruto da Romãzeira.

 

E logo depois, minhas pernas quebradas,

por outro romano, com armas arqueadas.

Mas foi como se nada sentisse ao ouvir voz

bendita, vibrando em mim. E perdoei o meu algoz.

 

Primeiro o abismo se abriu com sua escuridão,

de repente uma luz surgiu e gloriosa mão

puxou da matéria o meu espírito ao Jardim.

 

Como prometido ao Gan-Éden fui alçado,

junto a Cristo, o meu coração resignado.

Glórias e Aleluias cantam os anjos num festim!

 

 

Do capítulo

SOBRE A MAJESTADE DE YESHUA HA MASHIACH

I

A Majestade de Cristo está na pele

dos leopardos e jaguares, salpicada

em gloriosas rosetas e na revoada

dos flamingos em alaridos qu'impele

 

sopro divino, das águas o marejar

e nas praias do mundo, no cruzar dos ninhos

dos oceanos, pelas jubartes, golfinhos

baleias azuis e cachalotes no quebrar

 

frio das geleiras pelo dente dos narvais;

nosso unicórnio dos mares e a beluga,

entre céu e mar, em grandes batalhas navais.

 

E orcas na caça de um leão marinho em fuga,

também do Filho pertencem os arrebóis,

e a Tua majestade, vale mais que mil sóis.

 

 

Do capítulo O Vale dos Abortados

 

VI

 

Como Virgílio, Dante me guiou no Vale.

Almas, com a natureza defraudada,

surgiram em nossa longa caminhada;

vi o menino com a carne esquartejada,

 

pela própria mãe e com tua cruel companheira.

Pra onde vai toda essa gente sorrateira

perguntei ao poeta — que comete tal ato?

Não imaginas o que o destino, de fato,

 

reserva; a fundura e a imundice do fosso

tenebroso pra essa gente destinada.

Passarão eras roendo da carne o próprio osso.

 

Ainda confessou o poeta, ao fim da jornada:

Se ilude quem crê que a dor é aliviada

com a morte, nem sempre é assim além vida.

 

O livro YHWH está disponível no site da Uiclap: https://loja.uiclap.com/titulo/ua38965/

 Confira o canal Biblioteca D Babel do autor no Youtube: https://www.youtube.com/@BibliotecaDBabel

Confira também esta página do autor no Instagram: @poiesis_religare


sábado, outubro 21, 2023

Quatro poemas de Renato Souza de Melo

 


Gadareno

 

um sabor esquecido, liberdade

luz sem sombras no lugar

dimensão que meus olhos há muito

haviam perdido

ouvindo tua voz me chamar

agitou-se revoltosa a legião

que me habitava

 

quando aos meus ouvidos o céu

cantou os seus ritmos

minha loucura subitamente se calou

pela manhã anunciei sobre os montes

meu êxtase sem nenhuma culpa

numa voz inofensiva

triunfante declarei

a humilhação de belzebu

 

sinto como nunca, transições no real

num outono trêmulo, ternuras anunciam

meu renascer

pétalas quentes, perfumes no tempo

nunca mais perante o mar sofrerei possessões

novas e puras sensações me habitam

pelos cantos de mim crescem em abundância

fragrâncias que jamais perverterei

eu juro! prometo nunca me desviar

pedras não clamarão por mim, proclamarei

multiplicando assim esta chama

num halo de gratidão

pelas vilas e vales, por cidades e sertões

falarei das coisas que me fez e de como teve

compaixão de mim — recebi um perdão

que jamais eu ousaria implorar

 

“tragada foi a morte pela vitória”

não habito mais os túmulos, não me chamam

mais de louco

regressei, meus filhos me reconhecem

a esposa me abraça e me beija

novamente sou eu mesmo

novamente

consigo amar!



Oração de um fragmentado

 

Senhor, por favor

me devolva pra mim

Me coloque de volta em meu lugar

Quero voltar pra casa

Eu tenho um lar

Há partes de mim por toda parte

Estou em fragmentos

E não sei me recompor

Preciso de Ti, Senhor

Faz parte de mim essa dependência

A autossuficiência não me cai bem

E além do mais, quem além de Ti

Me encontrará no lugar

Onde em pedaços me perdi?

 

Senhor, por favor

Me devolva pra mim

Meu anseio é profundo

E meu mundo deságua

Em um pranto sem fim

Numa água sem gosto

Sem cheiro e sem sal

O dia inteiro me sinto tão mal

E nada eu sinto, de tanto vazio

Que habita em silêncio

Por dentro e por fora

E só agora entendo o porquê

Que viver ao seu lado

Me ajuda a querer

Viver por inteiro aquilo que sou

Sem medo do tempo

Sem medo do fim

Por favor, meu Senhor

Me devolva pra mim

 


O poeta e o vale de ossos secos

 

Poetiza

Sobre o vale de ossos secos

Poetiza

 

Fala o que Ele te mandou

Fala em tom de profecia

Fala com autoridade

Das verdades recebidas

Através dessa visão

Que tiveste neste vale

Onde existe apenas morte

Onde nada nascerá

Onde a esperança cessa

Se ninguém poetizar

 

Poetiza

Com a voz de amor do Céu

Poetiza

 

Sobre os ossos esquecidos

Que tão secos já estão

Mas que podem se tornar

Gente viva novamente

Vida que do Céu virá

Se você obedecendo

Ao mandado lá do Alto

Hoje aqui poetizar

Poetiza filho, agora

Pois mais tempo já não há

Poetiza ao mundo todo

E a vida voltará



APOCALIPSE

 

quando pequeno

me diziam que final de tarde

com céu avermelhado

do jeito que está hoje

era sinal do apocalipse

                  chegando

daí eu saía correndo

me ajoelhava ao pé da cama

e pedia perdão por todos nós

 

        até hoje isso funciona!


Confira o perfil do autor no Instagram: @renatosouzademelo


terça-feira, outubro 17, 2023

Livro Dinâmicas Missionárias reeditado

 

Em 2018 publicamos o e-book gratuito Dinâmicas Missionárias. Agora, tendo que reler o volume para a elaboração de novo trabalho, resolvi reparar alguns poucos erros tópicos que o volume carregava (erros de digitação, ortografia e links quebrados). Aproveitei para melhorar alguns outros pontos, inserir mais recursos na seção de recursos para download e, por fim, um registro ISBN, tornando-o um livro “de direito”. 

Enfim, são melhorias, como disse, pequenas e tópicas, mas quem desejar baixar o novo arquivo, pode fazê-lo CLICANDO AQUI.

terça-feira, outubro 03, 2023

Poemas sobre Sua Majestade, o LIVRO - Uma microantologia para download


Esta coleção mambembe, “Separatas a Esmo”, é a desculpa que me dou quando não quero realizar uma antologia temática de maior fôlego, mas não posso deixar de cumprir meu solitário papel social de antologista, que é nutrir o leitor com leituras benfazejas (ou que ao menos eu goste de ler). Assim, bom é já avisar que há de certeza muitos outros poemas sobre o Livro e a Leitura que aqui poderiam figurar; estão por aí, perdidos/pulsantes no hiperuniverso da literatura. Mas temos aqui algo com que começar, algo com que alegrar-nos.


A confirmar o caráter de breve fôlego deste plaquete, preciso assinalar que a maior parte destes poemas foram retirados, sim, de antologia senão de facto, ao menos de direito e ISBN, a obra (que também organizamos) O Livro e o Prazer da Leitura em 600 Citações (Uiclap, 2023). A maior parte, mas não todos. Há poemas aqui que não entraram na referida seleta, e aquela é, afinal, focada no universo das frases. Aqui, embora em espaço exíguo, a poesia reina sozinha, esporte primevo que sempre lhe aprouve e bem vestiu.

No mais, aqui estão, graciosamente para você ler e compartilhar, poemas sobre Sua Majestade, o Livro.

PARA BAIXAR SEU EXEMPLAR PELO GOOGLE DRIVE, CLIQUE AQUI

Sammis Reachers



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