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domingo, dezembro 15, 2013

O Sinal do Amor, um poema natalino de Alfredo Mignac



O Sinal do Amor

Alfredo Mignac

Ruge, rasga e rebenta as mais fortes muralhas,
as trincheiras de ferro e de arames em malhas
o Tanque de aço puro, em metralhar constante!
Ribombam mil canhões no espaço ígneo, inflamante,
avançando, na fúria imensa de matar...
Aviões e zepelins zunindo pairam no ar,
despejam morte e horror por sobre a terra em brasa,
onde tudo se agita e se estorce e se arrasa!
Nuvens plúmbeas lá vêm, roladas pelo vento,
trazem gases no bojo e matam num momento!
As máquinas de guerra assumem proporções
de mastodontes cruéis avançando aos bilhões!

No mar, por cima, estão esquadras fumegando,
a toda força, em marcha, os torpedos lançando!
Por baixo, mui sutis, farejam submarinos,
como fazem com a presa os astutos felinos!
As minas, quantas são! Bem profundas, parecem
uns peixes verticais que nunca se movessem.
Trazem, no corpo escuro, o obuz-metralhador,
que, ao mais leve contato, explode aterrador!

No campo de batalha, ao raso ou na montanha,
a guerra, num sorriso, os dentes arreganha!
A sua gargalhada apavorante e hedionda,
ora o som tem da trompa adâmica que estronda,
conclamando da raça os batalhões sem fé,
que há seis mil anos traz o anátema de ré;
ora o som tem rouquenho e estranho dos rugidos
dos doidos nas galés, dos raivosos e feridos,
das masmorras fatais e horríficas do inferno!

Lembrais-vos? foi na guerra – o pandemônio eterno –
aquela guerra atroz, ingente, fratricida,
que o universo abalou, levando-o de vencida,
de novecentos e quatorze até dezoito, -
- fantasma a perpassar num rubro gesto afoito -;
lembrai-vos? foi ali, na hecatombe tremenda,
que a Justiça perdeu dos olhos seus a venda
e a Paz sublime e o Amor fugiram para o Ignoto,
que o sangue espadanou de cada peito roto,
em pútrida caudal umedecendo o chão!
Lembrai-vos? foi ali, nação contra nação,
homem contra homem, reis e príncipes e quantas
democracias houve. Eram tantas e tantas,
que em breve o mundo inteiro entrava na babel
de confusão e horror, de ódio, ruína e fel!
Lembrai-vos? foi ali que os pais perdendo a vida,
deixaram na orfandade a prole tão querida!
E, mais tarde, na campa erma do cemitério,
um corpo jaz no pó sangrento e deletério...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Em plena guerra! A Norte-América enviava
para o front europeu as forças que alistava.
Cada jovem robusto era da pátria amada
ousado defensor, sentinela avançada!
As mães viam partir os filhos para a Luta,
cheias de gratidão e de fé impoluta,
dando-lhes, com um adeus, as bênçãos maternais,
antevendo o Perigo e orando pela Paz!
Cada lágrima então, que lhes molhava o lenço,
interpretava a dor do seu sofrer imenso!

Numa tarde sublime, às horas do arrebol,
quando se transmontava e se sumia o sol,
aquela mãe querida à mão trazendo a filha,
a mais pequena, em cujo rosto a graça brilha,
vai ao jardim fronteiro espairecer um pouco,
esquecer o seu gesto amavelmente louco.

- Mamãe, por que é que em toda casa, na janela,
eu vejo, na vidraça uma bonita estrela?

- Ah! filhinha... a razão da estrela que tu vês,
(olha ali uma casa onde se avistam três!)
... a razão, meu amor, - sentemos no gramado –
é que dali saiu, para a guerra, um soldado!
Talvez mais de um: dois, três, lá se foram, cantando,
enquanto no seu lar os pais ficam chorando...

E a criança elevando o olhar para o infinito,
vermelho, branco e azul – mosaico de granito,
formando o supedâneo aos páramos celestes –
vê, fulgurando, envolta em reluzentes vestes,
linda, a Estrela da Noite...

Oh! mamãe... e por que
na janela do céu uma estrela se vê?

No regaço tomando a filhinha inocente,
que apontava com o dedo a estrela refulgente,
a doce mãe explica:
- Ah! querida, faz anos
que, por causa de nós, pecadores humanos,
uma guerra medonha aqui se declarara.
Satanás, investindo, a todos derrubara,
trazendo, então, o mundo a seu poder sujeito!
Porém o nosso Pai – o Amor-Todo-Perfeito
enviou seu Filho ao mundo, à guerra mais fatal
de quantas já forjou o gênio vil do mal!
E um dia, sobre a cruz, sereno, extraordinário,
o General venceu na luta do Calvário!
Depois ressuscitou, abatendo o inimigo,
- Paladino do Bem, dando à nossa alma Abrigo!

E, desde aquele dia em que o Pai no-lo enviou,
à janela do céu uma Estrela engastou!
Esta, que lembra o Amor que nos legou a Paz,
e que no azul profundo, à noite, brilha mais...


in O Jornal Batista #50 – Dez 1935

terça-feira, novembro 20, 2012

Gideão e os seus Trezentos, poema de Alfredo Mignac



Gideão e os seus Trezentos

Alfredo Mignac

Era no tempo dos juízes. Todo o povo
desprezara a Jeová. Tinha ido, de novo,
após o deus Baal e dos seus ímpios reis,
do Senhor infringindo as mais sagradas leis!
Israel esquecera os grandes benefícios
que lhe fizera Deus, tirando-o dos egípcios,
onde comera o pão amargo do desterro,
onde gemera sob os látegos de ferro,
onde tudo era vil, onde tudo era morte!

Quanto tempo passou! E agora a mesma sorte
é a de Israel cativo às mãos de Midiã,
sofrendo a mesma dor, em meio ao mesmo afã!
Mas Deus, que sempre vê dos seus o sofrimento,
escuta, da alma aflita, o lúgubre lamento,
pronto para salvar, pronto para servir,
quis ao encontro do seu povo outra vez ir!

Estriando de luz os umbrais do poente,
o sol vai se imergindo, lenta e lentamente,
nas chamas do braseiro enorme que acendeu!
No lagar malha o trigo um moço forte – hebreu.
Parece que, trazendo a luz do sol brilhante,
nas vestes divinais, - um anjo, nesse instante,
aparece a Gideão e o chama pressuroso,
para Israel salvar, indefeso, inditoso!
- Não temas! O Senhor das graças infinitas,
seu povo salvará das mãos dos midianitas!
Vai! Contigo serei por onde quer que fores:
no deserto ou no monte; entre espinhos ou flores;
pelas trevas do vale ou cavernas de horror!

Depois de provas ter que era mesmo o Senhor,
Gideão conclama o povo à guerra decisiva!
Erguendo agora a fronte há pouco então cativa,
trinta mil se dispõem marchar contra o inimigo
e dar-lhe o merecido e mais justo castigo!
Madrugada... Em Moré, no oiteiro, perto ao monte
as tendas de Midiã... Israel, bem junto à fonte
de Haró, se acampa ousado!
Outra vez, com desvelo,
Jeová seu servo instrui, lançando-lhe este apelo:
- Para que tanta gente? Embora tanto seja
o inimigo que corre, indômito, à peleja!
Dize ao povo que volte aquele que quiser,
pois para Deus não é o número mister.
A sua presunção o levará a crer
que a vitória ganhou o seu próprio poder!
Regressaram ao lar milhares. Entretanto,
dez mil firmaram pé. Jeová, mais uma vez,
quis a escolha fazer. Assim quis, assim fez:
- Que o povo às águas desça. E quantos as lamberem
como o cão, - separa-os! Porém, os que beberem
abaixados, com as mãos, - por certo não irão.
Porque o gesto bem prova o fraco coração!
Trezentos foram só que as armas não largaram
para a sede matar. Trezentos que ficaram,
dispostos para a luta em prol da Liberdade!
Avançaram! Na destra - o Facho da Verdade;
vasos de barro – à esquerda, - a fraqueza inimiga
que a justiça de Deus esmaga e desabriga!
Embocando os clarins das hostes divinais,
promovem confusão por entre os arraiais!
Espada contra espada, a si mesmos ferindo,
debandam pelo vale, as montanhas subindo!

Trezentos! – Quais serão os de hoje, separados,
para a Luta enfrentar como fiéis soldados?
Trezentos! – frente ao muro agonizante e triste,
com o Clarão da Verdade e a Espada sempre em riste!
Trezentos! – contemplando os arraiais da orgia,
onde o pecado afoga e a carne tripudia!
Trezentos! – avançai! e as almas cristalinas
ganhai para o Senhor! Por montes e colinas,
por vales e vergéis, correi, ó gideonitas,
e achareis ouro e pedrarias e pepitas
de alto preço e valor, para o Engaste bonito
da Coroa de Cristo – o Gideão Bendito!

Do livro Horas Vibrantes (1939)

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